Iury de Oliveira | 07 de agosto de 2025 - 15h40

Produtores da Bacia do Guariroba alertam para riscos com fim dos repasses do PSA em Campo Grande

Interrupção do programa ambiental ameaça ações de preservação e segurança hídrica na capital sul-mato-grossense

BACIA DO GUARIROBA
Produtores da Bacia do Guariroba alertam para riscos à preservação após fim do PSA em Campo Grande. - (Foto: Divulgação)

Produtores rurais da Bacia do Guariroba, responsável por quase metade do abastecimento de água potável de Campo Grande (MS), alertam para os riscos ambientais causados pela interrupção dos repasses do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). O programa, que remunerava práticas de conservação em propriedades da região, foi suspenso no início de 2025, deixando produtores sem recursos para manter ações fundamentais de proteção ao meio ambiente.

Desde 2013, o PSA integrava o Programa Manancial Vivo, coordenado localmente pela Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP). Vinte e cinco propriedades participaram da iniciativa, adotando medidas como cercamento de nascentes, plantio de mudas nativas e controle da erosão, práticas consideradas essenciais para manter a qualidade da água e a integridade ecológica da área.

“A preservação precisa ser reconhecida. O produtor rural que cuida da nascente e protege o solo tem que ser incentivado. O PSA é a forma mais justa de garantir isso”, afirma Claudinei Menezes Pecois, presidente da ARCP.

Resultados expressivos e futuro incerto - A atuação da ARCP está concentrada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Guariroba, onde já foram restaurados mais de 114 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs). O trabalho utiliza técnicas como o plantio direto de mudas e o sistema de muvuca de sementes, que promove diversidade ecológica e maior eficiência na regeneração da vegetação nativa do Cerrado.

Apesar dos avanços, o PSA nunca conseguiu atender a todas as 79 propriedades da bacia por restrições orçamentárias. A Prefeitura de Campo Grande, responsável local pela execução do programa, priorizou áreas consideradas mais críticas. A situação se agravou com o encerramento definitivo dos repasses em 2025, gerando prejuízos financeiros e incerteza sobre a continuidade do trabalho de conservação.

“O programa acabou por falta de vontade política. Isso gera impacto direto em quem está no campo, comprometido com o cuidado ambiental”, critica Claudinei.

Fim do PSA na Bacia do Guariroba ameaça preservação ambiental e segurança hídrica de Campo Grande

Impactos para o meio ambiente e o abastecimento urbano - A suspensão do PSA pode comprometer ações como o controle da erosão, a manutenção de cercas e a reposição de mudas em áreas sensíveis. Sem apoio financeiro, muitos produtores afirmam que não têm condições de manter os custos envolvidos na preservação ambiental, o que pode impactar diretamente o equilíbrio da bacia e a qualidade da água que abastece cerca de 50% da população da capital.

A ARCP alerta que, sem incentivos, o risco é de retrocesso: áreas recuperadas podem voltar a sofrer degradação, o que coloca em risco não apenas a biodiversidade, mas também a segurança hídrica de Campo Grande.

Parcerias com empresas e ONGs podem garantir continuidade - Diante do fim do programa público, a associação propõe a construção de novas parcerias. Entre os alvos estão empresas que utilizam diretamente os recursos hídricos da bacia, como a concessionária Águas Guariroba, além de organizações da sociedade civil, ONGs nacionais e internacionais.

“É impossível pensar em segurança hídrica sem cuidar da APA do Guariroba e, principalmente, de quem vive nela. Precisamos de políticas públicas duradouras e mais investimentos”, reforça o presidente da ARCP.

Experiência reconhecida e atuação em rede - Além do trabalho com o PSA, a ARCP é uma das fundadoras da Rede de Sementes do Cerrado – Flor do Cerrado, criada em parceria com o Instituto Taquari Vivo (ITV) e o WWF-Brasil. A rede fomenta a restauração ecológica e gera renda para produtores rurais e coletoras da região, promovendo um modelo sustentável de recuperação ambiental e desenvolvimento econômico.

A atuação da associação também posiciona a Bacia do Guariroba como referência em ações práticas de adaptação às mudanças climáticas, proteção de mananciais e preservação do bioma Cerrado.

PSA como ferramenta de proteção ambiental - O Pagamento por Serviços Ambientais é uma política que reconhece financeiramente o papel de quem conserva a natureza. Em vez de cobrar pelo uso do recurso, o modelo propõe pagar por sua proteção, incentivando práticas que beneficiam toda a sociedade, como a produção de água limpa, conservação do solo e manutenção da biodiversidade.

No caso da Bacia do Guariroba, o PSA se mostrou eficaz. Produtores que aderiram ao programa conseguiram recuperar áreas degradadas e evitar a contaminação de nascentes e córregos. Agora, sem apoio, temem que anos de trabalho sejam perdidos.

Mensagem final da ARCP - O recado dos produtores é direto: sem incentivo, a preservação ambiental se torna inviável. E, com isso, o abastecimento de água de Campo Grande também entra em risco.

“Estamos fazendo a nossa parte. Mas precisamos que o poder público e o setor privado façam a deles”, finaliza Claudinei.