Tarcísio visita Bolsonaro em prisão domiciliar com aval do STF
Governador de São Paulo alega razões políticas e humanitárias para encontro
POLÍTICAO governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), visitou nesta quinta-feira (7) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre prisão domiciliar no condomínio onde mora, no Jardim Botânico, em Brasília. A visita foi realizada pouco antes das 14h30 e contou com autorização do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pela condução do inquérito que resultou na detenção do ex-presidente.
Tarcísio chegou em um comboio formado por quatro veículos, sob atenção dos moradores, que demonstraram incômodo com a movimentação no local. Uma moradora, ao presenciar a chegada, gritou: “Ainda não foi para a Papuda”, em referência ao presídio da capital federal.
No documento enviado ao STF, Tarcísio justificou o pedido com base em vínculos políticos e pessoais com o ex-presidente. “Correligionário e amigo” de Bolsonaro, o governador mencionou razões político-institucionais e humanitárias para a visita. A defesa do ex-presidente também se manifestou a favor do encontro, o que contribuiu para a decisão favorável do ministro Moraes.
Antes da visita, Tarcísio participou de uma cerimônia discreta em Brasília, voltada à promoção de generais da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), da qual Bolsonaro é egresso. O governador não discursou e evitou declarações públicas durante o evento.
Além de Tarcísio, o ministro Moraes autorizou visitas de outras figuras políticas e pessoais do entorno bolsonarista. Entre os nomes aprovados estão:
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Celina Leão (PP), vice-governadora do Distrito Federal
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Tenente-Coronel Zucco (PL-RS), deputado federal
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Junio Amaral (PL-MG), deputado federal
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Marcelo Moraes (PL-RS), deputado federal
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Renato de Araújo Corrêa, empresário de Angra dos Reis (RJ)
As visitas são controladas e requerem autorização judicial prévia, já que Bolsonaro está submetido a medidas cautelares rigorosas, incluindo tornozeleira eletrônica, proibição de uso de redes sociais e limitação de contato com determinadas pessoas.
O ex-presidente foi colocado em prisão domiciliar na última segunda-feira (4), após decisão de Alexandre de Moraes que apontou o descumprimento de medidas cautelares previamente estabelecidas. A medida foi tomada no contexto do inquérito que investiga:
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Suposta obstrução de justiça
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Coação de testemunhas
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Organização criminosa
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Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
O inquérito também envolve o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente.
A nova penalidade foi motivada por um episódio ocorrido no domingo (3), quando Bolsonaro discursou por telefone a um grupo de manifestantes por meio de uma chamada com o filho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O vídeo foi publicado nas redes sociais de Flávio — o que foi considerado uma violação das medidas cautelares, que vetavam o uso direto ou indireto das redes por Jair Bolsonaro.
O vídeo foi deletado posteriormente, mas a postagem chegou a circular amplamente e foi mencionada por Moraes na decisão que resultou na detenção domiciliar. A medida busca conter novas tentativas de comunicação pública por parte do ex-presidente, consideradas estratégias de mobilização política fora dos limites legais impostos.
O clima no condomínio Jardim Botânico, onde Bolsonaro está recluso, é de tensão crescente. A movimentação de autoridades, veículos e equipes de segurança gerou desconforto entre os moradores, que já haviam se queixado da presença de manifestantes nos dias anteriores.
A ronda da Polícia Militar, realizada antes da chegada de Tarcísio, e a segurança reforçada no entorno do imóvel são reflexo da sensibilidade do momento. O entorno de Bolsonaro tornou-se uma espécie de ponto de articulação simbólica da oposição, mesmo diante das restrições judiciais.
Apesar de ter adotado uma postura mais moderada nos últimos meses, Tarcísio reafirma laços políticos com Bolsonaro, de quem foi ministro da Infraestrutura e com quem mantém proximidade desde o início da carreira política. A visita, autorizada por Moraes, é vista como um gesto calculado de solidariedade, sem, no entanto, radicalizar o discurso.
A presença de Tarcísio também pode ser interpretada como um movimento estratégico visando manter apoio da base bolsonarista, especialmente de olho em 2026, quando o governador paulista é citado como possível presidenciável caso Bolsonaro esteja impedido de concorrer.
A decisão de Moraes demonstra que o STF acompanha de perto qualquer movimentação fora dos limites legais por parte de aliados do ex-presidente. O receio de novas mobilizações com viés antidemocrático mantém em alerta o Judiciário, que, desde os ataques de 8 de janeiro de 2023, vem adotando uma postura firme contra tentativas de instabilização institucional.