Redação, O Estado de S. Paulo | 07 de agosto de 2025 - 14h08

Oposição tenta paralisar Congresso em protesto contra prisão de Bolsonaro e STF

Deputados e senadores bolsonaristas ocuparam plenários e recorreram a manifestações simbólicas

POLÍTICA
Deputados ocupam Mesa Diretora e fazem protesto com esparadrapo na boca - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

Parlamentares da oposição adotaram uma série de táticas nos últimos dias para tentar impedir o funcionamento regular da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. O movimento, articulado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem como foco pressionar pela aprovação do chamado PL da Anistia, além de reforçar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

A tensão aumentou significativamente após o magistrado determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro, decisão que os bolsonaristas classificaram como “autoritária” e “política”.

Na Câmara, a situação chegou ao ápice na noite desta quarta-feira (6), quando o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), conseguiu retomar sua cadeira na Mesa Diretora após horas de obstrução física e simbólica por parte dos parlamentares da oposição. A sessão só foi aberta às 22h25 e, em um breve discurso, Motta apelou ao equilíbrio institucional. "É justamente nessa hora que não podemos negociar a nossa democracia", declarou o deputado. “Tempos normais não estamos vivendo, mas o diálogo precisa prevalecer.”

A ocupação dos plenários das duas Casas foi acompanhada de gestos simbólicos por parte dos parlamentares bolsonaristas. A deputada Julia Zanatta (PL-SC) levou a filha de apenas quatro meses para o plenário da Câmara, onde apareceu segurando a bebê ao lado de outros colegas que ocupavam a Mesa Diretora.

A imagem gerou críticas nas redes sociais e foi amplamente compartilhada. Em resposta, Zanatta acusou os críticos de machismo e hipocrisia: "Os que estão atacando minha bebê não estão preocupados com a integridade da criança (...) eles querem é inviabilizar o exercício profissional de uma mulher", escreveu no X (antigo Twitter).

Já o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) apareceu com esparadrapos na boca e nos olhos, simbolizando a censura que, segundo ele, é imposta aos apoiadores do ex-presidente. Outros parlamentares seguiram a mesma linha, em um esforço coordenado de protesto visual.

No Senado Federal, os protestos assumiram tons ainda mais dramáticos. Os senadores Magno Malta (PL-ES), Izalci Lucas (PL-DF) e Damares Alves (Republicanos-DF) se acorrentaram à Mesa Diretora na tentativa de impedir a realização das sessões. Durante a madrugada de quarta-feira, eles se revezaram em uma espécie de vigília no plenário e chegaram a participar de orações conduzidas por um pastor por chamada de vídeo.

Um auditório do Senado também foi ocupado por bolsonaristas após rumores de que o local poderia ser usado para instalar uma sessão plenária alternativa.

Imagens que circularam nas redes sociais mostraram o senador Marcos do Val (Podemos-ES) descalço no plenário, usando uma tornozeleira eletrônica determinada por Moraes após o retorno de uma viagem não autorizada aos Estados Unidos.

A performance do senador gerou repercussão imediata nas redes sociais, dividindo opiniões sobre o teor político do gesto.

Apesar das ações da oposição, tanto a Câmara quanto o Senado adotaram medidas para garantir o funcionamento das atividades legislativas. Hugo Motta ameaçou suspender por seis meses os parlamentares que impedissem fisicamente a abertura das sessões. A medida foi mencionada pelo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).

No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) reagiu com firmeza: "Não aceitarei intimidações nem tentativas de constrangimento à Presidência do Senado. O Parlamento não será refém de ações que visem desestabilizar seu funcionamento."

Alcolumbre anunciou que as sessões do Senado passariam a ocorrer de forma remota, e a primeira foi marcada para esta quinta-feira (7), às 11h.

As ações da oposição bolsonarista ocorrem em meio a um cenário de intensa polarização e embates entre o Legislativo e o Judiciário. A decisão de Alexandre de Moraes de colocar Jair Bolsonaro em prisão domiciliar foi o estopim para as manifestações, que visam, segundo os organizadores, “resgatar a liberdade de expressão” e contestar o que classificam como “perseguição política”.

O PL da Anistia, principal bandeira legislativa do grupo, visa perdoar crimes relacionados aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Já o pedido de impeachment de Moraes, embora simbólico, é considerado politicamente inviável na atual composição do Congresso.

Ainda assim, os bolsonaristas prometem intensificar os protestos nos próximos dias, com novas ações no plenário, audiências públicas e articulações junto a militantes nas redes sociais.

A base governista tem evitado confrontos diretos, mas critica o que considera uma tentativa de sabotagem institucional. A deputada Adriana Ventura (Novo-SP) relatou que chegou a conversar com parlamentares da oposição para que desocupassem a Mesa, mas permanecessem no plenário como forma legítima de obstrução.

O governo monitora o avanço das tensões no Congresso, mas até o momento não se pronunciou oficialmente sobre os protestos. Nos bastidores, a avaliação é de que os atos têm potencial de gerar desgaste, mas que tendem a perder força sem apoio majoritário.