Brasileira é presa em Portugal suspeita de matar cinco filhos com sedativos
Prisão foi articulada entre polícias do Brasil e de Portugal após denúncia da própria mãe da suspeita
GERALA brasileira Gisele de Oliveira, de 40 anos, foi presa nesta quarta-feira (6) na cidade de Coimbra, em Portugal, sob suspeita de ter assassinado cinco dos seus sete filhos biológicos entre os anos de 2010 e 2023, no estado de Minas Gerais. De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), os crimes teriam sido cometidos por meio de envenenamento, com o uso intencional de substâncias sedativas. As vítimas tinham idades entre 10 meses e 3 anos.
A prisão foi realizada pela Polícia Judiciária de Portugal após articulação da PCMG com o Núcleo de Cooperação Internacional da Polícia Federal. A investigação é conduzida pela Delegacia de Polícia Civil de Timóteo, com apoio da Delegacia Regional de Ipatinga e supervisão do 12º Departamento de Polícia da mesma cidade.
Segundo informações divulgadas pelas autoridades portuguesas, Gisele teria realizado a “administração intencional e reiterada de substâncias sedativas que alegadamente provocaram a morte a cinco dos seus filhos menores”. Todas as mortes ocorreram em circunstâncias semelhantes, durante a noite, sem a presença de testemunhas.
Os óbitos, registrados em períodos distintos entre 2010 e 2023, passaram inicialmente sem levantar qualquer suspeita de crime. O caso, no entanto, voltou à tona recentemente após a mãe de Gisele desconfiar do padrão de mortes e procurar as autoridades brasileiras.
O relato da avó das crianças foi considerado crucial para a reabertura das investigações, que agora apontam para um possível padrão de homicídios em série cometidos ao longo de mais de uma década.
Gisele de Oliveira teria fugido para Portugal em abril deste ano, quando as investigações ganharam fôlego após a denúncia. Com base nos novos elementos obtidos pela Polícia Civil, a brasileira passou a ser considerada foragida internacional.
A prisão preventiva foi solicitada e prontamente articulada com as autoridades portuguesas. Com a atuação da Interpol e o apoio da Polícia Federal brasileira, Gisele foi localizada em Coimbra e detida nesta quarta-feira (6).
As autoridades brasileiras agora avaliam os procedimentos necessários para a extradição da suspeita ao Brasil, onde deverá responder judicialmente por homicídio qualificado, com agravantes.
Caso seja condenada por todos os crimes investigados, Gisele poderá enfrentar uma pena de até 154 anos de prisão. Cada um dos cinco assassinatos é tratado como homicídio qualificado, com possível agravante por motivo torpe e uso de meio insidioso, no caso, sedativos.
A Polícia Civil de Minas Gerais ainda não revelou o nome completo das vítimas nem detalhes sobre os dois filhos sobreviventes, mas afirmou que outras diligências estão em curso para esclarecer todas as circunstâncias das mortes.
A defesa de Gisele não foi localizada pela reportagem até o momento.
Fontes ligadas à investigação informaram que as mortes das crianças ocorreram sempre durante a noite, em casa, sem sinais externos de violência e sem testemunhas. A ausência de suspeitas na época se deveu, em grande parte, ao fato de as causas das mortes terem sido atribuídas, informalmente, a problemas respiratórios ou falência orgânica súbita, fatores que, com a ausência de autópsias aprofundadas, não levantaram alertas.
Com a nova linha de investigação, o Ministério Público de Minas Gerais também acompanha o caso. Há indícios de que Gisele repetia o mesmo modus operandi com cada uma das vítimas: administrava doses de medicamentos sedativos, provavelmente benzodiazepínicos ou substâncias semelhantes, que resultavam em falência múltipla de órgãos ou parada cardiorrespiratória.
A complexidade do caso exigiu o envolvimento de diversas esferas policiais e jurídicas, tanto no Brasil quanto em Portugal. A articulação internacional que resultou na prisão da suspeita envolveu o Núcleo de Cooperação Internacional da Polícia Federal, a Interpol, e a Polícia Judiciária portuguesa, além da atuação direta do consulado brasileiro.
Especialistas em direito penal consultados pela reportagem explicam que, embora o crime tenha ocorrido no Brasil, a extradição da acusada é possível com base em acordos internacionais de cooperação criminal. O processo pode levar semanas, mas é considerado certo.
A prisão de Gisele causou comoção nas redes sociais e nas comunidades por onde ela passou ao longo dos últimos anos. O caso, que mistura maternidade, envenenamento e possível perfil psicopatológico, levanta debates sobre sinais de alerta em tragédias familiares e o papel das redes de proteção social.
“É um caso extremamente grave e sensível. Estamos lidando com crimes bárbaros, cometidos contra crianças indefesas, em um contexto de aparente normalidade familiar”, afirmou um delegado envolvido na investigação.
A Polícia Civil de Minas Gerais deverá encaminhar ao Ministério da Justiça o pedido formal de extradição. Enquanto isso, Gisele permanecerá sob custódia das autoridades portuguesas, em regime preventivo.
A expectativa é de que, uma vez trazida de volta ao Brasil, a acusada seja indiciada formalmente por homicídio qualificado múltiplo, podendo enfrentar um dos processos criminais mais complexos e impactantes dos últimos anos no país.