José Maria Tomazela | 07 de agosto de 2025 - 12h45

Influenciadores são investigados por divulgar jogos ilegais e movimentar bilhões

Operação da Polícia Civil aponta esquema bilionário de lavagem de dinheiro com envolvimento de influenciadores digitais que promoviam jogos de azar

CRIMINALIDADE DIGITAL
Polícia Civil do RJ cumpre 31 mandados de busca e apreensão contra 15 influenciadores suspeitos de promover jogos de azar - Reprodução - Redes Sociais

Uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro revelou, nesta quinta-feira (17), que um grupo de influenciadores digitais está sendo investigado por promover jogos de azar e movimentar valores milionários de origem suspeita. Com um alcance que ultrapassa os 30 milhões de seguidores nas redes sociais, os investigados teriam atuado na divulgação de jogos ilegais, como o popular “jogo do tigrinho”, e, segundo as autoridades, movimentaram mais de R$ 4 bilhões em transações financeiras que levantaram suspeitas de lavagem de dinheiro.

Ao todo, 31 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em endereços no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A ação faz parte da Operação Desfortuna, coordenada pela Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD).

Estratégia de ostentação e lucro fácil

A investigação aponta que os influenciadores usavam suas plataformas para divulgar plataformas de apostas proibidas no Brasil, apresentando esses jogos como formas simples e rápidas de ganhar dinheiro. Em seus perfis, eles ostentavam carros de luxo, viagens internacionais e imóveis de alto padrão, num estilo de vida incompatível com a renda declarada.

O conteúdo enganoso, muitas vezes voltado ao público jovem, era usado para atrair seguidores e estimular o acesso a sites de apostas e cassinos online — o que configura prática ilegal.

Quem são os investigados

Entre os alvos da operação está Bia Miranda, ex-participante do reality A Fazenda, com mais de 6 milhões de seguidores no Instagram. Outro nome é Samuel Sant’Anna da Costa, o “Gato Preto”, que chegou a registrar em vídeo o momento de sua prisão em casa.

Também foi preso em flagrante Maurício Martins Junior, o “Maumau”, humorista e ex-gari conhecido na internet como “príncipe da ousadia”, com mais de 3 milhões de seguidores. Em sua casa, em Arujá (SP), foi apreendida uma arma de fogo.

As irmãs Paola e Paullina Ataíde, com quase 10 milhões de seguidores somadas, também foram alvos da operação. Ambas produzem conteúdos voltados para o autocuidado, maternidade e estilo de vida. Outro investigado é DJ Buarque, ex-companheiro de Bia Miranda e pai do filho da influenciadora.

Esquema estruturado e empresas de fachada

Segundo a Polícia Civil, os investigados não atuavam de forma isolada. Eles fariam parte de uma estrutura organizada, com divisão de funções entre quem promovia os jogos, operadores financeiros e empresas de fachada usadas para encobrir a origem do dinheiro.

As investigações também apontam ligação entre alguns dos influenciadores e pessoas com supostos vínculos com o crime organizado. Fintechs envolvidas com os suspeitos também estão sendo investigadas.

Ostentação com dinheiro ilícito

Os relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) revelaram transações financeiras incompatíveis com as rendas declaradas, e o volume dessas operações ultrapassa R$ 4 bilhões. Para a polícia, os sinais de lavagem de dinheiro são claros.

A estratégia de muitos dos investigados envolvia divulgar supostos ganhos nos jogos, simulando apostas em tempo real para convencer seguidores a investir nas plataformas ilegais.

Impacto nas redes e crimes apurados

A Polícia Civil trata o caso como grave por envolver práticas como organização criminosa, lavagem de dinheiro e promoção de jogos ilegais, além de possível associação com atividades criminosas estruturadas.

A divulgação nas redes sociais ampliava o alcance das práticas ilícitas, afetando especialmente o público jovem que seguia os influenciadores. As investigações continuam para identificar mais envolvidos e mapear a totalidade do esquema.