Redação, O Estado de S. Paulo | 04 de agosto de 2025 - 21h30

Democratas deixam o Texas e barram plano de Trump para alterar mapa eleitoral

Proposta que poderia ampliar cadeiras republicanas no Congresso é travada por falta de quórum na Câmara estadual

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Vice-governador do Texas Dan Patrick entra no Capitólio antes de uma reunião do Comitê da Câmara Estadual em imagem desta segunda-feira, 4, em Austin, Texas - (Foto: Brandon Bell/AFP)

Em um movimento coordenado para impedir o avanço de uma proposta que favoreceria o Partido Republicano, legisladores democratas do Texas deixaram o Estado nesta segunda-feira (4), forçando a suspensão temporária dos trabalhos na Câmara estadual. Sem o número mínimo de deputados presentes, os republicanos não conseguiram levar à votação um novo mapa eleitoral apoiado por Donald Trump.

A proposta previa uma reconfiguração dos distritos eleitorais do Texas que, segundo aliados de Trump, poderia garantir até cinco cadeiras adicionais para os republicanos na Câmara dos Representantes. Com a maioria republicana hoje apertada no Congresso, a mudança é vista como estratégica para as eleições de meio de mandato em 2026.

A Câmara do Texas é composta por 150 membros, e pelo menos 100 precisam estar presentes para que votações formais aconteçam. Os democratas ocupam 62 cadeiras, e, segundo a liderança do partido, ao menos 51 deles deixaram o Estado, número suficiente para inviabilizar a sessão.

O governador Greg Abbott, do Partido Republicano, reagiu duramente e ameaçou destituir os parlamentares ausentes, acusando-os de possível violação de normas legais. “Eles podem ter cometido crimes”, declarou Abbott. A oposição, por sua vez, argumenta que o governador não tem respaldo jurídico para executar essa ação.

A Câmara estadual chegou a emitir mandados de prisão civil para forçar o retorno dos parlamentares democratas, mas ainda não está claro se esses mandados podem ser cumpridos fora do território texano.

Gene Wu, presidente da bancada democrata, justificou a ação como uma medida drástica, porém moralmente necessária. “Não foi uma decisão tomada levianamente, mas com total clareza moral”, afirmou em nota.

A liderança democrata também alertou para o risco de que o novo desenho do mapa eleitoral represente um retrocesso para comunidades historicamente sub-representadas. “A apatia é cumplicidade, e não seremos cúmplices no silenciamento de comunidades trabalhadoras que passaram décadas lutando pelo poder que Trump quer roubar”, disse o porta-voz Josh Rush Nisenson.

Esta não é a primeira vez que os democratas utilizam essa estratégia para obstruir votações importantes. Em 2021, um impasse semelhante durou 38 dias, quando os parlamentares deixaram o Estado e foram a Washington, protestando contra um projeto que endurecia as regras de votação.

Desta vez, a ausência deverá durar pelo menos duas semanas — até o fim da atual sessão extraordinária de 30 dias convocada pelo governo. No entanto, os republicanos ainda podem prolongar o embate: o governador Abbott tem o poder de convocar novas sessões, o que exigiria dos democratas repetidas ações semelhantes ao longo dos próximos meses, algo que ainda não está garantido.

A movimentação é parte de um esforço mais amplo de Donald Trump para garantir que os republicanos mantenham e ampliem sua presença no Congresso. Em seu primeiro mandato, ele perdeu o controle da Câmara para os democratas apenas dois anos após assumir. Agora, tenta evitar que o mesmo ocorra caso retorne à presidência.

A reformulação do mapa eleitoral no Texas é estratégica, já que o Estado tem peso importante na composição da Câmara federal. A tentativa de modificar os distritos sob medida para o Partido Republicano — uma prática conhecida como gerrymandering — já é alvo de críticas e disputas judiciais em outros Estados./AP e WP