Maria Magnabosco | 04 de agosto de 2025 - 20h45

Federação União Progressista critica fala de Lula sobre EUA e tarifaço de Trump

Lideranças do União Brasil e PP veem postura do presidente como confrontadora e sem foco em soluções para a crise comercial

POLÍTICA
Ciro Nogueira e Antônio Rueda assinam nota da União Progressista criticando o posicionamento de Lula sobre o tarifaço de Donald Trump - (Foto: Divulgação/PP)

A União Progressista, federação formada pelo União Brasil e o Partido Progressistas (PP), divulgou nesta segunda-feira (4) uma nota com críticas à recente fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. Para a sigla, o discurso do presidente adota uma “retórica confrontacional” que pode atrapalhar as negociações comerciais com os norte-americanos.

Durante evento nacional do PT, no domingo (3), Lula afirmou que não pretende se submeter à lógica de dependência do dólar nas relações internacionais e citou, mais uma vez, o apoio dos EUA ao golpe militar de 1964. Segundo o presidente, é preciso buscar alternativas para ampliar o poder de negociação do Brasil com grandes potências.

"Não vou abrir mão de defender que a gente busque uma moeda alternativa ao dólar para negociar com outros países. Não preciso estar subordinado", afirmou. Lula também disse que respeita os laços históricos com os Estados Unidos, mas reforçou que o país tem postura e interesses próprios para negociar.

A reação da União Progressista veio em nota assinada por Antonio Rueda (União Brasil) e pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), líderes das duas legendas. O grupo expressou “profunda preocupação” com a abordagem do presidente, especialmente por considerar que o discurso ignora os desafios concretos enfrentados pelo país diante das tarifas impostas pelo governo Trump.

"Adotar uma retórica confrontacional, que remete a eventos históricos sem foco em soluções práticas, compromete a capacidade do Brasil de negociar com pragmatismo e buscar acordos que minimizem o impacto dessas tarifas", diz o comunicado.

A federação também defendeu que o governo brasileiro atue de forma equilibrada para preservar as relações com os Estados Unidos. Segundo os partidos, a prioridade deve ser a redução de barreiras comerciais e a defesa das exportações nacionais.

Os dois partidos que compõem a União Progressista ainda mantêm cargos na administração federal, mas têm se distanciado do Palácio do Planalto. Nos bastidores, o movimento é visto como uma preparação para o rompimento político com o governo Lula.

Recentemente, Antonio Rueda, vice-presidente do União Brasil, participou da Expert XP, em São Paulo, e sinalizou que o partido não deve apoiar o presidente em uma eventual candidatura à reeleição em 2026. A crítica pública de Rueda foi mais um indicativo da crescente tensão entre o grupo político e o governo federal.

A posição contrasta com declarações feitas anteriormente por outras lideranças do União Brasil. Em abril, o ministro do Turismo, Celso Sabino — indicado pela sigla — chegou a afirmar que a maioria do partido apoiaria a reeleição de Lula, e cogitou até uma aliança com a presença do União na vice da chapa petista. Hoje, essa hipótese parece cada vez mais distante.

A fala de Lula sobre o dólar e a política externa brasileira vem em meio às discussões sobre o tarifaço anunciado por Donald Trump, que afeta diretamente exportações brasileiras. O presidente tem defendido a diversificação de parceiros comerciais e a adoção de mecanismos que deem mais autonomia ao Brasil, inclusive no uso de moedas alternativas.

Entretanto, a União Progressista vê com preocupação essa linha ideológica no enfrentamento da crise tarifária. Para a federação, o momento exige pragmatismo e capacidade de diálogo, não discursos que remetam a conflitos do passado e que possam prejudicar acordos comerciais importantes.