Haddad vê chance de acordo com EUA sobre minerais estratégicos em meio a tensões comerciais
Ministro da Fazenda sugere parceria com os americanos para produção de baterias, enquanto Lula adota tom mais nacionalista sobre recursos naturais
MINISTRO DA FAZENDAEm meio à disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizou nesta segunda-feira (4) a possibilidade de o país firmar parcerias estratégicas com os americanos envolvendo minerais críticos e terras raras, recursos considerados essenciais para setores como energia limpa, defesa e tecnologia de ponta.
"Temos minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais; podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes", disse Haddad em entrevista à BandNews, ao ser questionado sobre eventuais contrapartidas que possam entrar na mesa de negociação com os norte-americanos.
Os chamados minerais críticos — como lítio, cobalto, níquel e terras raras — são fundamentais para a fabricação de baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas, painéis solares e equipamentos eletrônicos. Com a pressão global por fontes de energia mais limpas e o reposicionamento de cadeias produtivas, esses recursos ganharam destaque nas políticas industriais de países como os EUA.
O interesse de Washington sobre os recursos brasileiros ficou evidente em julho, quando o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, manifestou ao setor de mineração brasileiro o desejo de estreitar relações no tema. O encontro foi acompanhado por membros do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que confirmaram o foco norte-americano nos chamados minerais estratégicos.
O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, também comentou o assunto, destacando que o setor mineral oferece grandes possibilidades de expansão nas relações bilaterais, mas evitou confirmar qualquer negociação em andamento.
"A pauta da mineração é muito longa e pode ser explorada e avançada", declarou. Ele também mencionou que o Brasil exporta apenas 3% de minerais críticos para os EUA, enquanto importa mais de 20% em máquinas e equipamentos, o que evidencia um superávit expressivo para os americanos na balança comercial.
Embora haja disposição na equipe econômica para negociar com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se posicionado de forma mais cautelosa, com um discurso enfático de defesa da soberania sobre os recursos naturais do país.
Durante evento no interior de Minas Gerais, em 24 de julho, Lula foi direto: “Temos todo o nosso petróleo para proteger. Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, afirmou, mandando um recado indireto ao ex-presidente Donald Trump, que anunciou novas tarifas sobre produtos brasileiros.
Em resposta ao aumento da pressão internacional sobre os recursos estratégicos, o governo Lula estuda lançar uma política nacional voltada à atração de investimentos no setor de minerais críticos. A proposta deve ser apresentada antes da realização da COP30, que acontecerá em Belém (PA) em 2025.
Entre as ações em discussão está a criação de um programa de debêntures incentivadas para financiar a produção e o beneficiamento desses recursos. A ideia é atrair capital privado com benefícios fiscais, fortalecendo o setor e ampliando a capacidade de fornecimento interno e externo, com foco em inovação e sustentabilidade.
A discussão sobre possíveis acordos com os Estados Unidos ocorre em um cenário de tensão diplomática e comercial, especialmente após o anúncio de Donald Trump sobre a imposição de tarifas a produtos brasileiros. Para Haddad, iniciativas como a cooperação em minerais críticos podem abrir uma nova frente de diálogo, com ganhos para os dois lados.
A entrada do Brasil na disputa global por cadeias de suprimento de energia limpa também pode fortalecer a posição do país nas negociações climáticas e econômicas. No entanto, o governo ainda precisa equilibrar o interesse em atrair investimentos com a defesa dos recursos naturais como patrimônio estratégico nacional.