Ricardo Magatti | 04 de agosto de 2025 - 17h15

Botafogo, Palmeiras e Flamengo lideram em gastos e mostram caminhos distintos no mercado

Clubes movimentam mais de R$ 1,3 bilhão em reforços na temporada; gestão financeira explica força de Palmeiras e Flamengo, enquanto Botafogo aposta no aporte da SAF

TRIO BILIONÁRIO
Turbinados financeiramente, Palmeiras e Flamengo são protagonista no mercado - (Foto: Tiago Queiroz/Estadão)

Com a temporada ainda em curso e a janela de transferências aberta até 2 de setembro, três clubes brasileiros já somam um gasto superior a R$ 1,3 bilhão em reforços: Botafogo, Palmeiras e Flamengo. Líderes nas movimentações do mercado em 2024, os três times têm em comum o investimento pesado, mas cada um segue estratégias distintas para turbinar seus elencos.

O que chama atenção é o contraste entre a origem dos recursos. Enquanto Flamengo e Palmeiras colhem os frutos de uma gestão financeira sólida construída ao longo da última década, o Botafogo aposta no capital estrangeiro trazido pela SAF comandada pelo empresário norte-americano John Textor.

Depois de reformular quase por completo o time que venceu o Brasileirão e a Libertadores em 2014, o Botafogo lidera o ranking de investimentos em 2024. Foram contratados 15 jogadores, somando R$ 629,4 milhões — valor que não inclui bônus e luvas pagos por atletas sem custo de transferência, como o atacante argentino Joaquín Correa, ex-Inter de Milão.

Desde que se tornou SAF, em 2022, o clube vem sendo gerido por Textor, dono da Eagle Football Holdings, conglomerado que também administra Lyon (França) e RWD Molenbeek (Bélgica). O modelo multi-clubes tem permitido a circulação de atletas e recursos entre as equipes. No entanto, analistas alertam para os desafios dessa abordagem.

"O Botafogo é um 'novo rico' no futebol brasileiro. O crescimento acelerado veio da injeção de dinheiro externo, mas o desafio será manter essa estrutura com regras mais rígidas, como as que enfrentou na França com o Lyon", avalia o economista Cesar Grafietti, especialista em finanças esportivas.

O segundo maior investimento da temporada vem do Palmeiras. O clube já aplicou R$ 534 milhões em sete reforços, número que pode crescer com a possível chegada do lateral-direito Khellven, do CSKA, e a busca por um novo meio-campista para substituir Richard Ríos, negociado com o Benfica por R$ 195 milhões.

O caso mais emblemático é a contratação de Vitor Roque, o reforço mais caro da história do futebol brasileiro, por R$ 154 milhões. Paulinho, adquirido por R$ 114 milhões, foi o segundo mais caro do clube na temporada.

Esse poder de investimento não é por acaso. O Palmeiras arrecadou R$ 1,2 bilhão em 2024, com destaque para bilheteria do Allianz Parque, programa de sócio-torcedor Avanti e negociações milionárias de jovens talentos como Endrick e Estêvão, que juntos renderam mais de R$ 700 milhões.

"O sucesso do Palmeiras vem de uma gestão disciplinada e consistente. A estrutura da base e a modernização do estádio foram fundamentais para esse salto", explica Grafietti.

Terceiro colocado no ranking de investimentos, o Flamengo também optou por reforços de peso. O clube gastou R$ 315 milhões em contratações como Samuel Lino — agora o jogador mais caro da história rubro-negra — além de nomes como Jorge Carrascal, Emerson Royal, Jorginho e Saúl Ñíguez, todos vindos do futebol europeu.

Com arrecadação de R$ 1,3 bilhão em 2024, o Flamengo é o clube que mais fatura no país. Boa parte desse valor vem dos direitos de TV, com R$ 292 milhões — sendo R$ 197 milhões apenas do pay-per-view — além de campanhas de marketing e a força da sua torcida.

"Alguns fatores fizeram o Flamengo crescer: gestão de marca, aproveitamento da torcida, acordos comerciais e, claro, o bom desempenho esportivo. Tudo isso garante receita e cria um ciclo virtuoso", aponta o economista.

Apesar dos modelos distintos, há um ponto em comum entre os clubes que conseguem investir em alto nível: planejamento e responsabilidade financeira. Tanto o Flamengo quanto o Palmeiras adotaram esse caminho desde meados da década passada e hoje colhem os frutos. Já o Botafogo, que está em processo de construção de seu novo modelo, enfrenta agora o desafio de se manter competitivo e equilibrado diante de novas regulamentações.

"Não há segredo: clubes bem-sucedidos são aqueles que gastam menos do que arrecadam e fazem planejamento de longo prazo", afirma Renê Salviano, especialista em gestão esportiva.

Segundo ele, a fórmula funciona independentemente do modelo jurídico — seja associação tradicional, SAF ou clube-empresa. "O que importa é ter um plano e segui-lo. A maioria dos clubes falha nesse ponto básico", completa.

O panorama deixa claro que o investimento por si só não garante sucesso. A diferença está na origem dos recursos e na forma como os clubes estruturam suas finanças. Palmeiras e Flamengo provaram que é possível alcançar sustentabilidade com gestão profissional. Já o Botafogo tenta acelerar esse processo com capital externo e uma proposta internacional.

O mercado ainda pode ter novos capítulos até o fim da janela, mas a temporada já marca um ponto de virada no futebol brasileiro: nunca se gastou tanto, e nunca foi tão importante entender de onde vem o dinheiro.