Mauro Vieira rebate pressões dos EUA e defende soberania brasileira em discurso firme no Itamaraty
Ministro das Relações Exteriores critica ataques de opositores e nega concessões sobre processos envolvendo o golpe contra Bolsonaro
RELAÇÃO BRASIL - EUAO ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, adotou um tom mais combativo em seu discurso nesta segunda-feira, 4, ao se referir às pressões do governo de Donald Trump para o fim de processos envolvendo o golpe contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Vieira qualificou as "exigências inaceitáveis" como parte de um "conluio ultrajante", orquestrado por brasileiros em parceria com forças estrangeiras, e reafirmou que o Brasil não cederá a tais pressões.
O chanceler, conhecido por seu estilo diplomático, usou um discurso mais firme e direto, especialmente ao criticar figuras brasileiras como o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o comentarista Paulo Figueiredo, que têm se aliado a ações contra o governo brasileiro. "Saudosistas declarados do arbítrio e amantes confessos da intervenção estrangeira não terão êxito em sua tentativa de subverter a ordem democrática e constitucional da República Federativa do Brasil", disse Vieira, em uma clara referência aos opositores de seu governo.
Discurso contundente e defesa da democracia
A declaração foi dada durante a cerimônia de celebração dos 80 anos do Instituto Rio Branco, em um evento no Palácio Itamaraty. Além de Vieira, participaram os ministros Camilo Santana (Educação), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) e o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim.
O chanceler aproveitou a ocasião para destacar a importância de agir com "firmeza e inteligência" na defesa dos interesses nacionais, em nome de uma geração de brasileiros que derrotou o arbítrio no passado. Ele mencionou figuras históricas como Ulisses Guimarães, Renato Archer, Celso Amorim e o presidente Lula, destacando a continuidade da luta pela soberania e pelos valores democráticos.
"Nosso compromisso com a soberania nacional é absoluto. A Constituição cidadã não está e nunca estará em qualquer mesa de negociação", afirmou Vieira, enfatizando que a soberania brasileira não será "moeda de troca" diante de exigências internacionais.
Respostas às acusações de perseguição
O ministro também refutou as acusações de que os processos contra o ex-presidente Bolsonaro representariam uma "perseguição" ou uma "caça às bruxas", como foi caracterizado por Trump, especialmente após o ex-presidente americano ter defendido sanções contra ministros do STF. Vieira ressaltou que os responsáveis pelo golpe estão sendo processados de forma transparente, com ampla defesa e pleno respeito ao devido processo legal.
"Sejamos claros, nossa sociedade democrática e suas instituições derrotaram uma tentativa de golpe militar cujos responsáveis estão hoje no banco dos réus em processos transparentes transmitidos pela TV em tempo real", afirmou, reforçando a legitimidade das ações contra os envolvidos.
Interlocuções com os EUA e telefonema com Trump
Questionado sobre possíveis novos encontros com representantes do governo dos EUA, Mauro Vieira se manteve em silêncio, respondendo apenas com "estou mudo". Na semana anterior, o ministro se reuniu com o secretário de Estado, Marco Rubio, em Washington.
O ex-chanceler Celso Amorim, também presente no evento, foi perguntado sobre a possibilidade de um telefonema entre os presidentes Lula e Trump, mas desconversou: "Não sei", respondeu, deixando no ar qualquer possibilidade de contato direto entre os dois líderes.