Karina Ferreira | 03 de agosto de 2025 - 21h00

Malafaia critica ausência de governadores em ato bolsonarista e diz que Bolsonaro é insubstituível

Pastor questiona ausência de nomes cotados para 2026 em manifestação na Paulista e aponta medo do STF como motivo do silêncio de aliados

MANIFESTAÇÃO BOLSONARISTA
Malafaia critica ausência de governadores em ato bolsonarista e diz que Bolsonaro é insubstituível - (Foto: Felipe Rau/Estadão)

Durante discurso inflamado na Avenida Paulista neste domingo (3), o pastor Silas Malafaia mirou sua crítica em figuras da direita que vêm sendo apontadas como possíveis sucessores políticos de Jair Bolsonaro nas eleições de 2026. Para o líder religioso, a ausência de governadores como Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO) nos protestos em apoio ao ex-presidente é sinal de omissão e fraqueza diante da pressão do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro? Onde eles estão? Era para estarem aqui!”, questionou Malafaia diante de milhares de apoiadores reunidos no ato. O pastor, um dos principais aliados de Bolsonaro, afirmou ainda que não aceitaria “passar pano” para políticos que tentam herdar o capital eleitoral do ex-presidente, hoje inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nenhum dos três governadores citados por Malafaia participou do ato e tampouco se manifestou publicamente sobre os protestos que aconteceram em várias cidades do Brasil no domingo. Tarcísio de Freitas, nome mais bem colocado da direita nas pesquisas de intenção de voto para 2026, justificou a ausência por motivo de saúde. Na quinta-feira (31), ele anunciou que passaria por um procedimento médico. Após o evento, sua assessoria confirmou que a intervenção ocorreu sem complicações e que ele já teve alta, com agenda interna prevista para segunda-feira (4), no Palácio dos Bandeirantes.

Romeu Zema e Ronaldo Caiado também não compareceram nem publicaram qualquer menção sobre o ato, o que aumentou as especulações sobre o distanciamento público de possíveis pré-candidatos da direita em relação à figura de Bolsonaro, que atualmente responde como réu por tentativa de golpe de Estado no STF.

O pastor não poupou palavras ao atribuir a ausência dos governadores a uma suposta tentativa de escapar do desgaste político. “Vão enganar trouxa! E eu não sou trouxa. Estão com medo do STF, né? Por isso não vieram. Arrumaram desculpa, né? Por isso, minha gente, 2026 é Bolsonaro”, afirmou Malafaia, que encerrou o discurso sob aplausos.

O líder evangélico também aproveitou o momento para reforçar a imagem de Bolsonaro como figura central e insubstituível do campo conservador. A declaração ecoa o sentimento de parte da base bolsonarista, que ainda vê o ex-presidente como o único capaz de enfrentar a esquerda em uma disputa nacional, apesar de sua inelegibilidade.

Embora o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tenha comparecido ao protesto, ele não discursou. Já o vice-prefeito Coronel Mello Araújo (PL), indicado por Bolsonaro na última eleição, subiu o tom ao criticar senadores por não avançarem com a pauta da anistia ao ex-presidente. Para ele, a falta de ação no Congresso abriu espaço para as sanções anunciadas pelos Estados Unidos contra autoridades brasileiras, entre elas o ministro do STF Alexandre de Moraes.

A legislação citada, a Lei Magnitsky, é usada pelos norte-americanos para punir líderes e autoridades acusadas de violar direitos humanos. Bolsonaro e Moraes foram alvos das sanções após a escalada de tensão institucional entre o Judiciário brasileiro e setores do bolsonarismo.

Mesmo fora das urnas até 2030, Jair Bolsonaro continua sendo o centro de gravidade da direita brasileira. A manifestação deste domingo teve como pano de fundo a tentativa de mostrar força política em meio às investigações e às recentes decisões judiciais.

Aliados trabalham para manter viva a figura do ex-presidente como liderança popular, enquanto outros nomes da direita se movimentam nos bastidores de olho em 2026. A pressão pública de Malafaia escancarou a tensão entre manter a lealdade a Bolsonaro e construir uma candidatura viável sem sua presença na disputa.