Bolsonaro atrai 37 mil à Paulista mesmo sob medidas cautelares e com queda no apoio popular
Preso a restrições judiciais, ex-presidente mobiliza apoiadores em ato com presença de aliados, mas números mostram enfraquecimento dos protestos
MANIFESTAÇÃO BOLSONARISTAMesmo impedido de sair de casa por medidas cautelares, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu mobilizar cerca de 37,6 mil apoiadores na Avenida Paulista neste domingo (3), em São Paulo. O levantamento é do Monitor do Debate Público do Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), e foi feito com base em imagens aéreas registradas ao longo do dia. A margem de erro é de 12%, o que indica uma variação entre 33,1 mil e 42,1 mil pessoas.
Os números, no entanto, mostram uma queda expressiva no engajamento bolsonarista. Em comparação com os protestos de fevereiro de 2024, que levaram mais de 180 mil pessoas à mesma avenida, a redução chega a 90%. A presença minguante tem sido uma tendência nos últimos atos e coincide com o avanço das investigações que envolvem Bolsonaro em uma tentativa de golpe de Estado, processo no qual ele se tornou réu.
A mobilização foi articulada por apoiadores do ex-presidente, com forte participação de lideranças do PL e figuras influentes da direita. Entre os nomes que compareceram à manifestação estão o pastor Silas Malafaia, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Este último subiu ao carro de som, mas não chegou a discursar.
Durante o evento, Malafaia fez duras críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Seu discurso foi um dos pontos altos da manifestação e contou com transmissão ao vivo pelo YouTube, que chegou a reunir 31,7 mil espectadores simultâneos.
Apesar do expressivo número de presentes, os dados do Monitor da USP foram contestados por aliados de Bolsonaro. O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da legenda na Câmara, chegou a ironizar o levantamento. "A USP não sabe contar brasileiros", disse, reforçando sua impressão de que o ato teria sido o maior já realizado em apoio ao ex-presidente.
A manifestação deste domingo marca a primeira mobilização nacional bolsonarista após a divulgação de sanções aplicadas pelos Estados Unidos ao Brasil — medida que teve o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, como um dos principais articuladores políticos.
Ainda assim, o número de participantes se manteve muito abaixo dos picos registrados no ano anterior. Em junho deste ano, uma manifestação semelhante na Avenida Paulista reuniu 12,4 mil pessoas. Em abril, o público foi estimado em 44,9 mil. Já em março, no Rio de Janeiro, o ato teve cerca de 18,3 mil apoiadores.
Veja abaixo a evolução dos atos pró-Bolsonaro em São Paulo, segundo o Monitor da USP:
- Fevereiro de 2024 – 185 mil
- Setembro de 2024 – 45 mil
- Abril de 2025 – 44,9 mil
- Junho de 2025 – 12,4 mil
- Agosto de 2025 – 37,6 mil
Apesar da leve recuperação em relação ao último protesto, os números ainda mostram uma base cada vez mais restrita nas ruas.
Discurso e transmissão ao vivo
O auge do ato, de acordo com o Monitor, ocorreu por volta das 15h33, durante o discurso de Nikolas Ferreira. Naquele momento, cerca de 31 mil pessoas acompanhavam o evento presencialmente na Paulista. Já a live organizada no canal de Silas Malafaia no YouTube bateu 31,7 mil visualizações simultâneas enquanto o pastor falava.
Embora a mobilização digital siga ativa, com transmissões e conteúdo nas redes sociais, o alcance nas ruas já não tem a mesma força. O enfraquecimento dos atos, somado à condição legal de Bolsonaro, que está proibido de sair de casa sem autorização judicial, tem refletido em menor adesão física e política.
Protestos também ocorreram em outras cidades
Além de São Paulo, manifestações aconteceram em outras capitais e cidades do interior do país, ainda que com menor visibilidade. A estratégia de descentralização do movimento foi uma tentativa de manter o ex-presidente em evidência, mesmo sem sua presença física.
Ainda assim, o saldo geral é de queda no engajamento presencial. A nova fase dos protestos bolsonaristas indica uma mudança de tom: menos massivos, mais dependentes das redes sociais e com forte discurso contra o Judiciário e o atual governo federal.