Karina Ferreira | 03 de agosto de 2025 - 19h20

Bolsonaro atrai 37 mil à Paulista mesmo sob medidas cautelares e com queda no apoio popular

Preso a restrições judiciais, ex-presidente mobiliza apoiadores em ato com presença de aliados, mas números mostram enfraquecimento dos protestos

MANIFESTAÇÃO BOLSONARISTA
De acordo com estimativa feita pelo Monitor do Debate Público do Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), um total de 37,6 mil apoiadores do ex-presidente Bolsonaro estiveram na Avenida Paulista neste domingo - (Foto: Nelson ALMEIDA / AFP)

Mesmo impedido de sair de casa por medidas cautelares, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu mobilizar cerca de 37,6 mil apoiadores na Avenida Paulista neste domingo (3), em São Paulo. O levantamento é do Monitor do Debate Público do Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), e foi feito com base em imagens aéreas registradas ao longo do dia. A margem de erro é de 12%, o que indica uma variação entre 33,1 mil e 42,1 mil pessoas.

Os números, no entanto, mostram uma queda expressiva no engajamento bolsonarista. Em comparação com os protestos de fevereiro de 2024, que levaram mais de 180 mil pessoas à mesma avenida, a redução chega a 90%. A presença minguante tem sido uma tendência nos últimos atos e coincide com o avanço das investigações que envolvem Bolsonaro em uma tentativa de golpe de Estado, processo no qual ele se tornou réu.

A mobilização foi articulada por apoiadores do ex-presidente, com forte participação de lideranças do PL e figuras influentes da direita. Entre os nomes que compareceram à manifestação estão o pastor Silas Malafaia, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Este último subiu ao carro de som, mas não chegou a discursar.

Durante o evento, Malafaia fez duras críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Seu discurso foi um dos pontos altos da manifestação e contou com transmissão ao vivo pelo YouTube, que chegou a reunir 31,7 mil espectadores simultâneos.

Apesar do expressivo número de presentes, os dados do Monitor da USP foram contestados por aliados de Bolsonaro. O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da legenda na Câmara, chegou a ironizar o levantamento. "A USP não sabe contar brasileiros", disse, reforçando sua impressão de que o ato teria sido o maior já realizado em apoio ao ex-presidente.

A manifestação deste domingo marca a primeira mobilização nacional bolsonarista após a divulgação de sanções aplicadas pelos Estados Unidos ao Brasil — medida que teve o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, como um dos principais articuladores políticos.

Ainda assim, o número de participantes se manteve muito abaixo dos picos registrados no ano anterior. Em junho deste ano, uma manifestação semelhante na Avenida Paulista reuniu 12,4 mil pessoas. Em abril, o público foi estimado em 44,9 mil. Já em março, no Rio de Janeiro, o ato teve cerca de 18,3 mil apoiadores.

Veja abaixo a evolução dos atos pró-Bolsonaro em São Paulo, segundo o Monitor da USP:

Apesar da leve recuperação em relação ao último protesto, os números ainda mostram uma base cada vez mais restrita nas ruas.

Discurso e transmissão ao vivo

O auge do ato, de acordo com o Monitor, ocorreu por volta das 15h33, durante o discurso de Nikolas Ferreira. Naquele momento, cerca de 31 mil pessoas acompanhavam o evento presencialmente na Paulista. Já a live organizada no canal de Silas Malafaia no YouTube bateu 31,7 mil visualizações simultâneas enquanto o pastor falava.

Embora a mobilização digital siga ativa, com transmissões e conteúdo nas redes sociais, o alcance nas ruas já não tem a mesma força. O enfraquecimento dos atos, somado à condição legal de Bolsonaro, que está proibido de sair de casa sem autorização judicial, tem refletido em menor adesão física e política.

Protestos também ocorreram em outras cidades

Além de São Paulo, manifestações aconteceram em outras capitais e cidades do interior do país, ainda que com menor visibilidade. A estratégia de descentralização do movimento foi uma tentativa de manter o ex-presidente em evidência, mesmo sem sua presença física.

Ainda assim, o saldo geral é de queda no engajamento presencial. A nova fase dos protestos bolsonaristas indica uma mudança de tom: menos massivos, mais dependentes das redes sociais e com forte discurso contra o Judiciário e o atual governo federal.