Karina Ferreira e Weslley Galzo | 03 de agosto de 2025 - 18h00

Manifestação bolsonarista na Paulista mira STF e Lula e pede anistia a Bolsonaro

Sem a presença do ex-presidente, pastor Silas Malafaia lidera protesto com críticas a Alexandre de Moraes e apelos pela volta de Bolsonaro nas eleições de 2026

POLÍTICA
Sem a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, impedido de deixar sua residência aos finais de semana por determinação do STF, o pastor Silas Malafaia acabou sendo o principal orador do ato realizado na Paulista neste domingo - (Foto: Felipe Rau/Estadão)

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniram neste domingo (3), na Avenida Paulista, em São Paulo, em mais uma manifestação com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com Bolsonaro impedido judicialmente de participar presencialmente dos atos nos fins de semana, o protagonismo ficou com o pastor Silas Malafaia, que liderou os discursos e repetiu ataques diretos ao ministro Alexandre de Moraes.

Malafaia voltou a chamar Moraes de “criminoso” e fez um apelo religioso aos manifestantes, pedindo “um minuto de silêncio” para orar e pedir a Deus que “quebre a dureza, a ambição e a vaidade” de ministros do STF e parlamentares.

O pastor já havia feito acusações semelhantes em outras manifestações, como a realizada em março em Copacabana. Segundo ele, Moraes viola a Constituição ao conduzir investigações relacionadas aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

Durante o ato, Malafaia também saiu em defesa do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem sido acusado por articulações com autoridades norte-americanas que resultaram em sanções contra ministros do STF e o presidente Lula. Para o pastor, o filho de Bolsonaro não é traidor da pátria — ao contrário, ele acusou Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) de denunciarem o Brasil em tribunais internacionais durante a prisão do petista na Lava Jato.

O mesmo argumento foi repetido por outros políticos bolsonaristas, como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que também participou do ato.

O pastor criticou a ausência de três possíveis candidatos à Presidência: os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), que justificaram a não participação. No alto do trio elétrico, parlamentares estaduais e federais discursaram com foco em três temas principais: anistia a Bolsonaro, ataques a Alexandre de Moraes e oposição ao governo Lula.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) compareceu brevemente, acenou ao público, mas optou por não discursar. Já o vice-prefeito, Coronel Mello Araújo, indicado por Bolsonaro na chapa eleitoral anterior, criticou diretamente o Senado e cobrou “atitude” dos senadores em relação às ações do STF.

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara, usou o palanque para afirmar que “somente com Bolsonaro na urna em 2026 o país terá paz”. Ele alertou para a possibilidade de “guerra nas ruas” caso o ex-presidente continue impedido de disputar a eleição. Sóstenes também ironizou os aliados de Lula, dizendo que “a hora de abandonar o barco do descondenado é agora, não na véspera da eleição”.

O parlamentar ainda desqualificou os dados da USP sobre a queda de público nas manifestações bolsonaristas. Segundo o Monitor do Debate Público no Meio Digital, o número de participantes diminuiu mais de 90% desde o auge em fevereiro de 2024, quando cerca de 125 mil pessoas foram à Paulista. Em 29 de junho, apenas 12,4 mil compareceram ao mesmo local.

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, participou do ato, mas discursou por menos de um minuto. Ele apenas agradeceu a presença dos apoiadores e defendeu a volta de Bolsonaro.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro não esteve na Paulista. Segundo parlamentares do PL, ela optou por participar de ato simultâneo em Belém, no Pará. A deputada federal Rosana Valle (PL-SP), em seu discurso, disse falar em nome de Michelle e puxou um coro de "fora Lula, fora PT".

O deputado Nikolas Ferreira fez um dos discursos mais inflamados. Ele afirmou que os bolsonaristas “não vão se curvar a Alexandre de Moraes” e declarou que o ministro do STF “sem a toga, não é nada”. O parlamentar ainda exibiu uma ligação de vídeo com Jair Bolsonaro ao público, num gesto simbólico de presença do ex-presidente.

Nikolas também mandou recados ao Congresso. Criticou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e cobrou a votação da proposta de anistia. Aos senadores, prometeu apresentar novo pedido de impeachment de Moraes. "Ou vocês expulsam Moraes do STF, ou os eleitores expulsam vocês nas urnas em 2026", afirmou.

O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) comparou o ministro Moraes ao PCC, referindo-se às sanções aplicadas pelo governo Trump, sob a Lei Magnitsky. Foi a primeira vez que uma autoridade de um país democrático foi punida sob essa norma.

Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) participou por vídeo em ato paralelo no Rio e também transmitiu uma mensagem do pai, que está nos Estados Unidos e acompanhou os atos à distância.

A reivindicação por anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro foi uma constante em todos os discursos. O deputado Marco Feliciano (PL-SP) foi o primeiro a citar nominalmente os presos, defendendo o perdão como forma de “pacificar o país”. Ele afirmou que senadores que negociam com o governo dos EUA estariam tentando trocar o fim do chamado “tarifaço de Trump” pela liberdade dos bolsonaristas condenados.