Redação | 02 de agosto de 2025 - 09h05

Armínio Fraga critica tarifaço de Trump e vê viés político contra o Brasil

Ex-presidente do Banco Central diz que medidas afetam a democracia e defende que governo brasileiro reaja com abertura comercial e cautela

ECONOMIA
O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central - (Foto: Reprodução)

O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, classificou o novo tarifaço imposto pelo governo americano como um retrocesso global, e alertou que o Brasil foi incluído nesse pacote por razões políticas, e não econômicas. Para ele, a iniciativa do ex-presidente Donald Trump representa uma interferência direta na democracia brasileira — algo que considera inaceitável.

Fraga destacou que o impacto econômico das tarifas ainda está sendo medido, mas o efeito político já é claro: “o Brasil entrou nessa por um canal político explícito”, afirmou. Ele reforça que, apesar da lista de exceções que aliviou setores, o problema permanece grave.

“É uma barbaridade. O Brasil entrou nessa história por um viés político. E isso gera repercussões graves aqui dentro”, disse o economista.

“Nossa democracia é imperfeita, mas é nossa”

O ex-presidente do BC foi direto ao criticar a tentativa de interferência americana em assuntos internos do país:

“O que os EUA têm a ver com o funcionamento da nossa democracia? Pode ser imperfeita, mas funciona. Isso aqui é problema nosso”, enfatizou.

Segundo ele, a justificativa americana, baseada na chamada “lei Magnitsky” — geralmente usada em casos de violações de direitos humanos — foi aplicada de forma inédita e inadequada no caso brasileiro, gerando indignação até entre quem discorda do atual governo.

Medida pode desacelerar a economia, mas também abrir oportunidade

Sobre o impacto direto nas finanças brasileiras, Fraga afirmou que o tarifaço ainda está sendo avaliado, mas que pode contribuir para uma desaceleração econômica, somada ao ciclo interno de juros altos e falta de apoio da política fiscal.

Apesar disso, o economista acredita que a situação também pode ser uma oportunidade para que o Brasil avance na abertura comercial e reduza seu alto grau de protecionismo.

“Se isso levar o Brasil a uma abertura racional e gradual, pode ser positivo para o país”, avaliou. “Temos uma enciclopédia de barreiras comerciais que precisa ser revista.”

Governo deve negociar com cautela e rever alianças externas

Fraga também defendeu uma postura mais equilibrada do governo Lula frente à crise com os Estados Unidos. Para ele, é necessário paciência nas negociações, mas sem deixar de questionar a política externa brasileira, que classificou como “exótica” por manter proximidade com regimes autoritários.

“O nosso caminho é outro. O mais natural para nós é um caminho mais ocidental”, disse o economista, ao comentar a postura do Brasil diante de ditaduras aliadas.

Pix e terras raras como trunfos brasileiros

O ex-presidente do BC destacou ainda o potencial brasileiro em setores como terras raras e tecnologia de pagamentos. Segundo ele, o Pix representa uma inovação que pode ser replicada até nos Estados Unidos.

“O Pix é uma ameaça modernizadora maravilhosa. Os americanos também vão querer isso”, comentou.

Tarifaço não deve gerar colapso, mas exige resposta estratégica

Fraga considera improvável um colapso imediato na economia brasileira por conta do tarifaço, mas alerta para os riscos de longo prazo caso a escalada protecionista americana avance. Para ele, Trump ainda não deixou claro quais são seus reais objetivos, o que torna a situação mais incerta.

“Parte da estratégia dele é não ser claro. É um bate e assopra.”

Por fim, o economista afirmou que a resposta brasileira deve vir no campo das reformas e da abertura comercial, aproveitando a crise para tirar o país do isolamento e fortalecer sua competitividade.

“É hora de transformar esse limão em limonada”, concluiu.