Thais Porsch e André Marinho | 02 de agosto de 2025 - 06h26

Trump critica Powell, mas descarta demissão antes do fim do mandato no Fed

Presidente dos EUA afirma que manterá atual chefe do banco central até maio e promete novo nome para o cargo caso retorne à Casa Branca

ECONOMIA
Donald Trump e Jerome Powell: pressão sobre corte de juros continua - (Foto: Getty Image via Bloomberg)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, descartou, na noite desta sexta-feira (1º), a possibilidade de demitir o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, antes do fim de seu mandato, previsto para maio de 2026. Em entrevista à emissora conservadora Newsmax, Trump reconheceu que uma saída antecipada de Powell "causaria perturbação nos mercados", mas reiterou suas críticas à condução da política monetária sob o comando do economista.

"Powell provavelmente permanecerá como presidente do Fed até fim de seu mandato", disse Trump. Apesar de suas críticas públicas ao atual chefe do banco central norte-americano, Trump indicou que pretende substituí-lo apenas no momento adequado, caso seja eleito novamente presidente nas eleições de novembro deste ano.

As declarações vieram horas após uma publicação feita pelo ex-presidente em sua rede social, a Truth Social, onde voltou a atacar Powell, a quem apelidou de Too Late (ou “Atrasado Demais”), em referência à sua percepção de lentidão nas decisões sobre taxas de juros.

Too Late Powell deveria renunciar, assim como Adriana Kugler, uma nomeada por (Joe) Biden, renunciou. Ela sabia que ele estava fazendo a coisa errada sobre as taxas de juros. Ele deveria renunciar, também!”, escreveu Trump, sugerindo que a recente saída da diretora do Fed, Adriana Kugler, reforça sua tese de má condução da política monetária pelo presidente da instituição.

Desde sua posse a presidência, Donald Trump tem mantido um discurso crítico em relação à atuação de Jerome Powell à frente do Fed. As críticas se intensificaram nos últimos meses, à medida que o banco central norte-americano mantinha os juros elevados para conter a inflação, mesmo diante de sinais de desaceleração econômica.

A permanência de Powell tem sido constantemente questionada por aliados de Trump. Nesta sexta-feira, o presidente do conselho da Agência Federal de Financiamento Habitacional dos EUA (FHFA), William Pulte, engrossou o coro das críticas, afirmando nas redes sociais que “ouviu que o próximo (a renunciar) é Powell”, embora sem apresentar qualquer evidência. “O presidente Trump vence de novo”, publicou Pulte no X (antigo Twitter).

Em outra postagem, Pulte pressionou diretamente o chefe do Fed: “Reduza a taxa, 'Atrasado Demais'”, repetindo o apelido cunhado por Trump.

Jerome Powell foi nomeado para o cargo de presidente do Federal Reserve pela primeira vez em 2018, ainda durante o governo Trump. Em 2022, foi reconduzido ao cargo pelo presidente Joe Biden para um segundo mandato de quatro anos, com término previsto para maio de 2026. Pela legislação norte-americana, a remoção do presidente do Fed antes do fim do mandato é altamente incomum e legalmente controversa, uma vez que o banco central goza de autonomia para evitar interferências políticas em suas decisões.

A postura de Trump, ao sugerir uma renúncia mas evitar uma demissão direta, indica um possível cálculo político. Apesar das críticas duras, o ex-presidente evita se comprometer com medidas que possam desestabilizar os mercados financeiros, especialmente em um momento de campanha eleitoral em que a economia será um dos principais temas.

A menção à saída da diretora Adriana Kugler, nomeada por Joe Biden, também tem contexto político. Kugler renunciou recentemente ao cargo no Conselho de Governadores do Fed, mas não revelou publicamente motivações políticas ou críticas à condução da política monetária da instituição. A leitura feita por Trump e seus aliados, no entanto, é de que a decisão dela teria sido motivada por divergências internas.

A associação feita por Trump entre a renúncia de Kugler e a suposta má gestão de Powell serve como mais um argumento para reforçar a narrativa de que há descontentamento dentro da própria estrutura do Fed.

Apesar das críticas públicas e da pressão, o Fed tem mantido uma postura firme em relação à sua política de juros. Com a inflação mostrando sinais de controle, mas ainda acima da meta de 2% ao ano, o banco central norte-americano tem sinalizado que cortes de juros ocorrerão de forma gradual, observando cuidadosamente os indicadores econômicos.

A instituição tem reforçado seu compromisso com a estabilidade econômica e com a independência de suas decisões, mesmo em contextos de forte polarização política como o atual. Até o momento, o Fed não respondeu oficialmente às declarações de Trump ou de William Pulte.

Com a aproximação das eleições presidenciais de novembro, a pressão sobre o Fed tende a aumentar. Se eleito, Donald Trump poderá indicar um novo presidente para a instituição a partir de maio de 2026. Caso Powell renuncie antes do fim do mandato, um novo nome precisaria ser indicado pelo presidente em exercício e aprovado pelo Senado, o que poderia gerar um impasse político.

A composição futura do Fed será um dos temas relevantes para o mercado financeiro global, já que suas decisões impactam taxas de juros, inflação e o câmbio em escala internacional.