Tribunal Europeu decide que decisões da FIFA podem ser contestadas fora da Suíça
Corte de Justiça da União Europeia permite revisão das sentenças do CAS em tribunais nacionais da UE, afetando decisões de atletas, clubes e dirigentes
JUSTIÇA NO ESPORTECorte Europeia permite revisão das decisões da FIFA e do CAS fora da Suíça
A Corte de Justiça da União Europeia (CJUE) decidiu nesta sexta-feira, 1º de agosto, que as decisões da FIFA, órgão máximo do futebol mundial, podem ser contestadas fora da Suíça. Essa decisão histórica inaugura um novo sistema jurídico que desafia a tradição de obrigar atletas, dirigentes e clubes a aceitarem veredictos proferidos pelo Tribunal Arbitral do Esporte (CAS), sediado em Lausanne, Suíça.
O comunicado oficial do Tribunal de Justiça Europeu afirmou que os tribunais nos 27 estados-membros da União Europeia agora devem ser capazes de revisar profundamente as sentenças proferidas pelo CAS, com o objetivo de verificar se elas estão em conformidade com as regras fundamentais do direito da UE. Isso significa que, a partir de agora, as sentenças de arbitragens esportivas podem ser analisadas e, possivelmente, modificadas pelos tribunais nacionais da UE.
Revisão judicial das sentenças da FIFA e do CAS
A decisão do CJUE implica que os tribunais nacionais terão o poder de revisar as decisões proferidas pelo CAS e outras autoridades esportivas, mesmo que a Suíça não seja um membro da União Europeia. O tribunal europeu deixou claro que as sentenças proferidas pelo CAS devem ser passíveis de uma revisão judicial efetiva, e que os tribunais nacionais da UE podem realizar uma revisão profunda para garantir que essas decisões estejam em conformidade com a ordem pública e as regras da União Europeia.
Impactos da decisão: uma vitória para os direitos dos clubes e atletas
Essa decisão pode representar um ponto de virada em uma batalha judicial de uma década entre o clube belga RFC Seraing e o fundo de investimento maltês Doyen Sports. Os dois se opuseram às regras da FIFA que proíbem a propriedade de terceiros dos direitos de registro e transferência de jogadores. Em 2015, ambos solicitaram a um tribunal comercial em Bruxelas que revisasse se essas regras violavam a legislação da União Europeia.
Embora a CJUE não tenha se pronunciado diretamente sobre a propriedade de terceiros, sua decisão significa que as decisões do CAS podem ser contestadas com mais facilidade nos tribunais nacionais, proporcionando uma nova oportunidade para clubes e outras entidades questionarem regras e decisões de instâncias esportivas internacionais.
Reações ao novo cenário jurídico
Jean-Louis Dupont, advogado do RFC Seraing, expressou sua satisfação com a decisão, dizendo à Associated Press: "A partir de uma leitura rápida da decisão, fica claro que esta é uma vitória completa para nossos clientes e para o Estado de Direito na UE". Isso abre portas para mais desafios às decisões arbitrárias e permite que as partes envolvidas em disputas esportivas no continente tenham mais espaço para contestar sentenças que considerem injustas.
O papel do Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) e sua importância no futebol
O CAS foi criado em 1984 com o objetivo de oferecer ao esporte um fórum legal unificado e vinculativo para a resolução de disputas e recursos. A corte, com sede na Suíça, é o caminho obrigatório para atletas que desejam contestar decisões disciplinares e apelar de federações esportivas olímpicas. O futebol, que é o maior cliente do CAS em termos de volume de processos, representa uma parte significativa dos casos avaliados, com cerca de 950 processos registrados anualmente.
Em 2023, a contribuição financeira da FIFA ao CAS foi de 2,5 milhões de francos suíços (aproximadamente US$ 2,75 milhões), representando mais de 10% da receita do tribunal.