A missão oficial dos senadores brasileiros aos Estados Unidos entrou nesta terça-feira (29) em sua fase mais decisiva. Com a entrada em vigor da nova tarifa americana prevista para a próxima sexta (1º), o grupo parlamentar iniciou uma série de reuniões fechadas com congressistas norte-americanos, numa tentativa de sensibilizar o Legislativo local e evitar prejuízos bilionários às exportações do Brasil.

Liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, a comitiva tem reforçado o caráter institucional e diplomático da viagem. O objetivo é mobilizar apoio no Congresso dos Estados Unidos e em grandes corporações privadas, buscando adiar ou reverter a medida anunciada pelo ex-presidente Donald Trump, que afeta diretamente setores como aço, alumínio, alimentos e manufaturados.

“Essa missão é o primeiro passo de uma reaproximação institucional entre os parlamentos do Brasil e dos Estados Unidos”, afirmou Trad. “Sabemos que não é aqui que resolveremos o problema das tarifas, mas queremos mostrar que o Senado brasileiro está disposto ao diálogo.”

O impacto da nova taxação é significativo: de acordo com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), os prejuízos para o Brasil podem alcançar até R$ 175 bilhões em um período de dez anos. A delegação brasileira tem se apoiado nesse tipo de dado concreto para argumentar que a medida também pode prejudicar empresas americanas que dependem das importações brasileiras, principalmente nos setores de alimentos e produtos perecíveis.

Ontem (28), os senadores se reuniram com representantes da U.S. Chamber of Commerce, maior organização empresarial do planeta, que representa milhões de empresas nos Estados Unidos. Durante o encontro, articularam uma possível manifestação pública da entidade pedindo ao governo americano o adiamento da tarifa.

Além disso, houve conversas com executivos de multinacionais como Cargill, ExxonMobil, Johnson & Johnson e Caterpillar, com o intuito de sensibilizar o setor privado para pressionar o governo americano. “Não viemos com bandeira ideológica. Viemos com dados e responsabilidade. O ‘não’ nós já temos, viemos correr atrás do ‘sim’”, disse Trad após os encontros.

Encontros com congressistas - O momento mais sensível da missão teve início nesta terça-feira com reuniões restritas a parlamentares dos Estados Unidos, tanto democratas quanto republicanos. Os encontros começaram às 10h15 (horário de Washington) e seguiram durante o dia, sem divulgação dos nomes dos congressistas envolvidos. A expectativa da comitiva brasileira é que a aproximação com o Legislativo americano ajude a frear o avanço da medida tarifária.

Ao fim das reuniões, está prevista uma conversa informal com a imprensa (conhecida como “quebra-queixo”) às 18h30, nas escadarias principais do Capitólio, tradicional ponto de declarações públicas em Washington.

A missão brasileira também ouviu especialistas em áreas jurídicas e políticas, como Stephen Vaughn, que integrou o governo Trump. Segundo os especialistas, mesmo que a tarifa venha a ser derrubada judicialmente, a Casa Branca pode utilizar outros mecanismos legais para restabelecê-la. Por isso, a atuação política direta no Congresso americano é considerada essencial.

“É fundamental manter os canais abertos entre os parlamentos. Só assim poderemos construir soluções duradouras”, reforçou Trad.

Próximas agendas - A programação continua nesta quarta-feira (30), com uma reunião às 8h30 com representantes da Americas Society / Council of the Americas, organização que reúne lideranças empresariais e da sociedade civil focadas no fortalecimento das relações interamericanas.

Depois, às 10h15, os senadores participam de uma coletiva de imprensa oficial na Embaixada do Brasil em Washington, onde devem apresentar um balanço da missão e detalhar os próximos passos da articulação política contra a tarifa.

Além de Nelsinho Trad, integram a comitiva os senadores Jaques Wagner (PT-BA), Tereza Cristina (PP-MS), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), Rogério Carvalho (PT-SE), Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL) e Esperidião Amin (PP-SC). A missão foi aprovada por unanimidade pelo plenário do Senado, com o objetivo de fortalecer a presença institucional do Brasil no cenário internacional diante de medidas que podem afetar gravemente a economia nacional.