Thaís Vaz transforma tragédia pessoal em luta contra a violência e inspiração no teatro
Após perder a visão de um olho por causa de um relacionamento abusivo, atriz de Malhação usa sua história para dar visibilidade a temas como machismo, capacitismo e superação
SUPERAÇÃOA atriz Thaís Vaz, conhecida por seu papel como Flávia em Malhação (2004), decidiu transformar uma experiência pessoal devastadora em arte e ativismo. Aos 44 anos, ela relembra com coragem um episódio que marcou sua vida para sempre: a perda da visão do olho esquerdo aos 19 anos, em decorrência de um ato violento durante um relacionamento abusivo.
O que começou com ciúmes, controle e comentários ofensivos, escalou para agressões físicas. “A gente não falava sobre esse assunto. Não havia acesso à informação, a internet ainda não era como hoje”, afirmou Thaís em entrevista à revista Marie Claire.
O início da relação já trazia sinais de alerta. Thaís contou que, ao participar de um desfile de biquíni, o então namorado reagiu negativamente e impôs que ela não deveria aceitar esse tipo de trabalho. “Meu pedido de namoro já foi feito assim”, contou.
A relação se firmou em meio a imposições e críticas, avançando para episódios de violência verbal e física. “Teve um dia que ele me deu um soco na costela no meio da rua. E eu ainda fui atrás dele, porque já não tinha mais amor-próprio”, relatou.
O momento mais grave aconteceu durante o carnaval em Cabo Frio, cerca de 25 anos atrás. Após uma briga, o agressor socou uma janela de vidro que se estilhaçou e atingiu o rosto de Thaís. O impacto causou sérios danos no olho esquerdo, incluindo corte na córnea, deslocamento de retina e catarata traumática. Apesar das diversas cirurgias, ela perdeu completamente a visão do olho.
Além do trauma físico, ela também passou por uma experiência dolorosa no atendimento médico. Ela e o agressor foram levados ao mesmo hospital e tiveram que aguardar juntos. “Me colocaram numa maca gelada, o pessoal me atendeu super mal. Foi muito difícil”, contou.
Mesmo com todas as adversidades, Thaís não abandonou seu sonho de atuar. Buscou cursos de teatro durante a recuperação e, um ano e meio após o ocorrido, foi aprovada para integrar o elenco de Malhação. No entanto, enfrentou barreiras no meio artístico após o fim da novela. “Só fiz um teste depois disso. Meu cadastro tinha uma anotação: ‘Reparar no olho esquerdo’. Nunca mais me chamaram”, revelou.
Atualmente, a atriz está à frente da peça Hiena: o riso sobre o tóxico, inspirada em sua vivência. O espetáculo ainda está em fase de captação de recursos e a proposta é levá-lo a comunidades fora dos grandes centros urbanos, com rodas de conversa em parceria com ONGs locais. “Quero fazer algo transformador. A informação salva vidas”, afirma.
Thaís também dirige o documentário Mulher Coragem, que reúne histórias de artistas com deficiência. A produção, ainda em andamento, visa dar visibilidade à luta por representatividade. “É difícil captar verba, mas é um tema relevante. Já entrevistei mulheres incríveis. É uma representatividade importante.”
Desde que passou a compartilhar sua história publicamente, Thaís conta que recebe relatos de outras mulheres que passaram por situações parecidas. Uma delas foi deixada em uma cadeira de rodas por um ex-companheiro. Outra, amiga pessoal da atriz, terminou um relacionamento abusivo após ouvir seu depoimento. “Se eu conseguir mudar a vida de uma pessoa, já vale. O teatro tem esse poder.”