Hepatites virais causaram mais de mil mortes no Brasil em 2024
No Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites, especialistas reforçam importância da vacina e do diagnóstico precoce
SAÚDEO Brasil registrou em 2024 mais de 34 mil casos de hepatites virais e 1.100 mortes diretamente relacionadas à doença. Os tipos B e C são os mais comuns no país, com evolução silenciosa por anos até provocarem danos graves ao fígado, como cirrose e câncer hepático.
Grande parte dos casos é crônica e evolui lentamente. O vírus pode permanecer no organismo por décadas sem sintomas, o que dificulta o diagnóstico precoce e favorece complicações graves. O tipo C, mais frequente e letal, somou 19.343 novos diagnósticos e 752 mortes só neste ano.
Apesar de ainda não existir vacina contra a hepatite C, ela pode ser tratada com antivirais de alta eficácia, que oferecem cura superior a 95% quando iniciados a tempo.
“Se diagnosticada cedo, as chances de complicações são baixas. Mas quando o vírus permanece por anos, mesmo quem não bebe pode desenvolver cirrose ou câncer”, explica o infectologista Pedro Martins.
Segundo Martins, as formas de contágio variam de acordo com o tipo:
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Hepatite A e E: Transmissão fecal-oral, por alimentos ou água contaminados
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Hepatite B, C e D: Transmissão por contato com sangue contaminado ou relações sexuais desprotegidas
O compartilhamento de objetos de uso pessoal, como lâminas de barbear ou alicates, também pode ser uma via de contaminação.
As vacinas contra os tipos A e B são oferecidas gratuitamente pelo SUS e fazem parte do calendário infantil. A vacina contra hepatite B também protege contra o tipo D, que só infecta pessoas já contaminadas com o tipo B.
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Hepatite B: Primeira dose logo após o nascimento, seguida por doses aos 2, 4 e 6 meses
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Gestantes: Devem se vacinar se não puderem comprovar a imunização
O impacto da vacina é evidente. A taxa de infecção por hepatite B caiu de 8,3 para 5,3 por 100 mil habitantes entre 2013 e 2024.
“Se mantivermos a cobertura vacinal alta, podemos eliminar o vírus B. Ele só sobrevive no ser humano, então com vacinação em massa, paramos a transmissão”, afirma o infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Renato Kfouri.
A vacina contra a hepatite A também teve resultado expressivo: entre crianças menores de 5 anos, os casos caíram de 903 (2013) para apenas 16 (2024) — uma redução de 98%.
Contudo, os números vêm aumentando na faixa etária de 20 a 39 anos, especialmente entre homens. Após surtos entre homens que fazem sexo com homens, o Ministério da Saúde ampliou a vacinação para usuários de PrEP, medicamento de prevenção ao HIV.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta a redução de 90% na incidência e 65% na mortalidade por hepatites B e C até 2030. O Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, celebrado em 28 de julho, reforça a necessidade de vigilância, imunização e diagnóstico precoce.