Simone Machado | 28 de julho de 2025 - 09h55

Juiz aposentado atropela e mata mulher após sair de casa noturna

Thais Bonatti, de 30 anos, voltava do trabalho de bicicleta quando foi atingida; motorista estava embriagado e pagou fiança para ser solto

NACIONAL
Thais Bonatti trabalhava como auxiliar de cozinha - Foto: Reprodução/Rede Social

A morte de Thais Bonatti, de 30 anos, vítima de um atropelamento em Araçatuba (SP), gerou revolta e comoção. Ela foi atingida por uma caminhonete na manhã de quinta-feira (24) e morreu dois dias depois, no sábado (26), após permanecer internada em estado grave na UTI. O motorista que provocou o acidente é o juiz aposentado Fernando Augusto Fontes Rodrigues Júnior, de 61 anos. Ele estava embriagado no momento do atropelamento, segundo laudo oficial.

Thais era auxiliar de cozinha e usava a bicicleta como meio de transporte para o trabalho. Morava com os pais idosos, dos quais cuidava diariamente, e ajudava nas despesas da casa com o salário que recebia em múltiplos empregos. Segundo o irmão, o representante comercial William de Andrade, ela era o alicerce da família.

Motorista embriagado foi solto após pagar fiança de R$ 40 mil - De acordo com a Polícia Civil, o juiz aposentado conduzia uma caminhonete Ford Ranger e havia parado próximo a um ponto de carga e descarga de um supermercado na Avenida Waldemar Alves, no bairro Jardim Presidente. Testemunhas relataram que ele estava acompanhado de uma mulher que tentou sentar em seu colo. Nesse momento, o veículo foi acelerado de forma brusca e atropelou Thais, que passava de bicicleta pela mesma via.

A polícia informou que Fernando apresentava sinais evidentes de embriaguez: fala alterada, falta de equilíbrio e forte odor de álcool. Ele foi submetido a exame clínico, que confirmou o estado de embriaguez. O juiz foi preso em flagrante, mas liberado no dia seguinte após pagar fiança de R$ 40 mil, estipulada em audiência de custódia.

Inicialmente, o caso foi registrado como lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, mas com a morte de Thais a tipificação foi alterada para homicídio culposo, que ocorre quando não há intenção de matar.

Para a família da vítima, a forma como o caso está sendo tratado não condiz com a gravidade dos fatos. O irmão de Thais defende que o crime seja considerado homicídio doloso, quando há intenção ou aceitação do risco de matar. Ele argumenta que dirigir embriagado, após sair de uma casa noturna, é uma escolha consciente que coloca vidas em risco.

Thais teve múltiplas fraturas, incluindo na bacia, e sofreu traumatismo craniano. Segundo relatos de testemunhas, ela gritou de dor logo após o atropelamento e chegou a desmaiar antes de ser socorrida. Foi levada à Santa Casa de Araçatuba em estado gravíssimo, passou por duas cirurgias e sofreu duas paradas cardiorrespiratórias, não resistindo aos ferimentos.

A morte de Thais deixou um vazio na vida dos familiares. Para o irmão William, a dor é agravada pelo sentimento de injustiça e pela sensação de impunidade. Ele destaca que a irmã tinha uma rotina de trabalho intensa, se desdobrava para ajudar os pais doentes e sonhava com um futuro melhor.

A família pretende acionar a Justiça para que o caso seja reavaliado e o motorista responda por um crime proporcional à gravidade do ocorrido. “Independentemente de quem ele seja, é uma pessoa comum que tirou a vida de outra”, declarou William ao Estadão.

Posicionamento do motorista - Em nota enviada à imprensa, Fernando Augusto Fontes Rodrigues Júnior manifestou pesar pela morte de Thais e informou que não dará entrevistas por conta do sigilo do inquérito policial. A defesa também não foi localizada pela reportagem do jornal.