Morre Jonir Figueiredo, artista que ajudou a formar a identidade cultural de MS
Artista usou sua obra para retratar o Pantanal e valorizar a cultura do Mato Grosso do Sul
LUTOO artista plástico Jonir Figueiredo, 73, morreu na madrugada de sábado (26), em Bonito (MS), onde participava do Festival de Cinema Bonito Cinesur. Referência na cultura sul-mato-grossense, ele foi velado neste domingo (27), no Centro Cultural José Octávio Guizzo, em Campo Grande, com a presença de amigos, familiares, artistas e admiradores.
Natural de Corumbá, Jonir era desenhista, pintor, gravador e performer. Fundador do Movimento Cultural Guaicuru nos anos 1970, ajudou a consolidar uma identidade artística local após a criação do estado de Mato Grosso do Sul.
Produção engajada -A obra de Jonir Figueiredo se destacou pelo engajamento político e ambiental. Em seus desenhos e colagens, retratava o Pantanal, a fauna local e denunciava a caça predatória, em especial dos jacarés.
“A obra dele contribuiu muito para a denúncia de crimes ambientais. Era um trabalho forte”, disse o designer gráfico Celso Arakaki, que acompanhou de perto a trajetória do artista.
Amigo desde os anos 1980, o jornalista Geraldo Duarte Ferreira afirmou que a ligação de Jonir com a natureza era visível. “Ele vivia cada dia como se fosse o último e colocava isso na arte, principalmente na forma como retratava o meio ambiente.”
Coletivo acima do individual - Além de produzir, Jonir se dedicava à formação de novos artistas e à valorização da produção cultural coletiva. “Mesmo sem dinheiro, ele fazia acontecer. Inventava prêmios, organizava cursos, colocava os outros em evidência”, lembrou a artista Ana Ruas.
Sua sobrinha, Fernanda Figueiredo, disse que o tio era um incentivador. “Ele começava sendo professor. Tinha ligação forte com crianças e às vezes deixava a própria arte de lado para destacar a de outra pessoa.”
Movimento Guaicuru - Nos anos 1970, Jonir foi um dos fundadores do Movimento Cultural Guaicuru, iniciativa coletiva que buscava traduzir, por meio da arte, as contradições e expectativas do recém-criado Mato Grosso do Sul.
Para o artista Jorge de Barros, que conviveu com Jonir dentro e fora das atividades culturais, ele representava um marco. “Pintava bichos, mapas, o Pantanal. A arte dele era essencial para nossa cultura.”
Legado e reconhecimento - Em vida, Jonir foi reconhecido por sua atuação artística e sua militância cultural. Recentemente, lançou o livro Jonir: uma trajetória de vida construída com arte, com registros de diferentes fases de sua carreira.
A professora e artista Lúcia Mont Serrat considera Jonir símbolo de resistência: “Sempre envolveu pessoas e lutou pela cultura do estado. Estava à frente do seu tempo.”
A despedida em Campo Grande teve momentos de emoção e homenagens. A artista Patrícia Helney, amiga de longa data, destacou o vínculo afetivo com Jonir: “Ele sempre pintou o MS e nunca saiu da sua essência. É muito dolorido se despedir de alguém tão generoso.”