As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil abriram mais uma frente de tensão entre figuras proeminentes da direita. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou as redes sociais para criticar os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo) e Ratinho Júnior (Paraná) por não mencionarem ou defenderem diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao tratarem do assunto em um evento promovido pela XP Investimentos, realizado no sábado (26), em São Paulo.

A cobrança pública de Eduardo revela mais do que uma discordância pontual: expõe um racha crescente dentro do campo conservador, especialmente entre nomes cotados para disputar a Presidência em 2026.

Durante o evento, os governadores evitaram vincular as sanções econômicas anunciadas por Donald Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Tarcísio focou nos impactos econômicos da medida, alertando para o risco de perdas expressivas para as empresas paulistas caso a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros entre em vigor. “Se a gente não botar a bola no chão, não agir como adulto e não resolver o problema, quem vai perder é o Brasil”, afirmou o governador.

Eduardo Bolsonaro rebateu nas redes com ironia: “É hora dos homens tirarem os adultos da sala”, escreveu no X (antigo Twitter), uma crítica direta à escolha de palavras usada por Tarcísio. Ele ainda compartilhou um vídeo da fala do governador postado por Gil Diniz (PL-SP), deputado estadual aliado da família Bolsonaro.

Mesmo após a tentativa recente de reaproximação entre Jair Bolsonaro e Tarcísio, anunciada como uma trégua política, Eduardo mantém o tom crítico. Na última quinta-feira (24), o deputado federal já havia questionado o governador paulista por manter o deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil), ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), como vice-líder do governo na Assembleia Legislativa de São Paulo. O MBL é constantemente criticado pelo núcleo bolsonarista.

Outro alvo das críticas de Eduardo foi o governador do Paraná, Ratinho Júnior. Durante o mesmo evento, ele minimizou a relação entre Jair Bolsonaro e a decisão de Trump, sugerindo que o ex-presidente norte-americano teria reagido, principalmente, à política internacional do governo Lula — especialmente à defesa da "desdolarização" no comércio global. Ratinho chegou a afirmar: “O Bolsonaro não é mais importante do que a relação do Brasil com os Estados Unidos.”

A fala não passou batida. Eduardo reagiu de forma dura, lembrando que Trump já fez diversas menções públicas favoráveis a Bolsonaro, inclusive em uma carta onde cita nominalmente o ex-presidente brasileiro e critica a perseguição a ele e seus apoiadores. “Desculpe-me, governador @ratinho_jr, mas ignorar estes fatos não vai solucionar o problema, vai apenas prolongá-lo ao custo do sofrimento de vários brasileiros”, escreveu o deputado.

As declarações refletem o ambiente de tensão dentro da direita, onde a sucessão de Bolsonaro está longe de um consenso. Tarcísio e Ratinho são nomes frequentemente lembrados como pré-candidatos para 2026, ambos tentando se projetar com discursos moderados e institucionalizados, ainda que mantendo vínculos com o eleitorado conservador.

Já Eduardo Bolsonaro, ao lado de outros nomes mais ligados ao bolsonarismo raiz, reforça o discurso de fidelidade a Jair Bolsonaro como ponto central da identidade política do grupo. E cobra que essa lealdade se traduza também em falas públicas, especialmente em momentos de crise.