Iury de Oliveira e Rafael Barbosa | 27 de julho de 2025 - 10h55

BonitoCineSur reforça protagonismo indígena e debate ambiental no segundo dia de festival

Mostras em Bonito reuniram curtas e longas sul-americanos que destacam as lutas dos povos originários e iniciativas sustentáveis para o futuro do planeta

BONITO CINESUR 2025
Festival destaca cinema indígena, debates ambientais e ações sustentáveis no segundo dia de programação em Bonito. - (Foto: Rafael Barbosa)

O segundo dia do BonitoCineSur, realizado neste sábado, foi marcado por sessões que abordaram a resistência dos povos indígenas e a urgência da preservação ambiental na América do Sul. As exibições aconteceram no auditório Kadiwéu e na Praça da Liberdade, reunindo curtas e longas-metragens de diferentes países do continente.

A programação começou às 17h30 com a Mostra Ambiental, que exibiu o curta Jichi (Bolívia) e o longa brasileiro Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta, obras que trouxeram para a tela vozes de lideranças indígenas e a realidade de povos que resistem à destruição de seus territórios.

A apresentação da mostra foi feita por Gleycielli, representante dos povos originários de Mato Grosso do Sul, que destacou a importância de ocupar espaços no audiovisual. “Estar aqui é trazer o nome do meu povo e dos povos de Mato Grosso do Sul. Precisamos estar presentes no cinema não só como informação passada na tela, mas como profissionais, atores, diretores, produtores, apresentadores”, afirmou.

A apresentação da mostra foi feita por Gleycielli, representante dos povos originários de Mato Grosso do Sul (Foto: Rafael Barbosa)

Cinema como ferramenta de resistência - Durante sua fala, Gleycielli reforçou que não é possível discutir meio ambiente sem escutar os povos indígenas. “Somos nós os guardiões das matas, das florestas, dos cerrados, dos alagados, dos pantanais. E precisa ser falado pela voz de quem mora dentro dessas matas”, afirmou. Segundo ela, as produções exibidas retrataram com precisão a luta de comunidades que buscam sobreviver diante de constantes ameaças: “Esses dois filmes mostraram bem o cenário que vivemos. Se nada for resolvido, será uma continuidade triste de existência ou de falta dela”.

A apresentadora também destacou o papel do cinema como instrumento de transformação social: “Se você usa o cinema como arma fundamental para dar visibilidade a uma causa, você está chegando em todos os lugares — nos lares, nos celulares, nas escolas, nas telas. Está chegando também para os povos originários, que agora também estão fazendo cinema”.

Compensação de carbono no festival - Outro destaque do sábado foi a iniciativa de sustentabilidade promovida pela Compensei, representada por Adriana Saito, que apresentou o “Carbonômetro”. A ferramenta calcula a emissão de CO dos participantes a partir dos meios de transporte utilizados para chegar ao evento.

“As pessoas chegam e informam se vieram de São Paulo, Campo Grande ou Bonito, e se vieram de avião, carro, ônibus ou bicicleta. Fazemos o cálculo e, no final, vamos compensar essa emissão com créditos de carbono adquiridos junto ao Instituto Homem Pantaneiro, na Serra do Amolar”, explicou Adriana.

A ação busca conscientizar o público sobre o impacto ambiental de pequenas escolhas e oferece alternativas práticas: “As pessoas podem, por exemplo, trocar o carro pela bicicleta ou usar álcool em vez de gasolina. Essas são algumas práticas que incentivamos”.

A iniciativa de sustentabilidade promovida pela Compensei, representada por Adriana Saito (Foto: Rafael Barbosa)

Cinema ao ar livre e diversidade cultural - A partir das 18h, a Praça da Liberdade se transformou em uma grande sala de cinema para crianças e moradores da comunidade. Foram exibidos curtas-metragens infantis de diferentes países sul-americanos, promovendo o acesso democrático à cultura e ao audiovisual.

Às 19h30, a programação voltou ao auditório Kadiwéu com a Mostra Sul-Americana, que trouxe os filmes Amor en los tiempos de like (Colômbia) e Oro amargo (coprodução Chile, Uruguai e Alemanha). As obras reforçaram a proposta do festival de dar visibilidade à pluralidade de narrativas da América do Sul, com temas que dialogam com os dilemas contemporâneos das juventudes e com os efeitos da mineração em comunidades locais.

O BonitoCineSur, que segue até 2 de agosto (Foto: Rafael Barbosa)

BonitoCineSur segue até o dia 2 de agosto - O BonitoCineSur, que segue até 2 de agosto, se consolida como um dos principais eventos dedicados ao cinema sul-americano no Brasil. A curadoria aposta em uma seleção diversa e sensível, que estimula o diálogo entre culturas e promove reflexões sobre o presente e o futuro da região.

Além das sessões de cinema, o evento oferece oficinas, debates, apresentações musicais e atividades voltadas para o público local. A expectativa é que a terceira edição reforce o papel do audiovisual como meio de valorização cultural e ferramenta de transformação social.