BonitoCineSur reforça protagonismo indígena e debate ambiental no segundo dia de festival
Mostras em Bonito reuniram curtas e longas sul-americanos que destacam as lutas dos povos originários e iniciativas sustentáveis para o futuro do planeta
BONITO CINESUR 2025O segundo dia do BonitoCineSur, realizado neste sábado, foi marcado por sessões que abordaram a resistência dos povos indígenas e a urgência da preservação ambiental na América do Sul. As exibições aconteceram no auditório Kadiwéu e na Praça da Liberdade, reunindo curtas e longas-metragens de diferentes países do continente.
A programação começou às 17h30 com a Mostra Ambiental, que exibiu o curta Jichi (Bolívia) e o longa brasileiro Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta, obras que trouxeram para a tela vozes de lideranças indígenas e a realidade de povos que resistem à destruição de seus territórios.
A apresentação da mostra foi feita por Gleycielli, representante dos povos originários de Mato Grosso do Sul, que destacou a importância de ocupar espaços no audiovisual. “Estar aqui é trazer o nome do meu povo e dos povos de Mato Grosso do Sul. Precisamos estar presentes no cinema não só como informação passada na tela, mas como profissionais, atores, diretores, produtores, apresentadores”, afirmou.
Cinema como ferramenta de resistência - Durante sua fala, Gleycielli reforçou que não é possível discutir meio ambiente sem escutar os povos indígenas. “Somos nós os guardiões das matas, das florestas, dos cerrados, dos alagados, dos pantanais. E precisa ser falado pela voz de quem mora dentro dessas matas”, afirmou. Segundo ela, as produções exibidas retrataram com precisão a luta de comunidades que buscam sobreviver diante de constantes ameaças: “Esses dois filmes mostraram bem o cenário que vivemos. Se nada for resolvido, será uma continuidade triste de existência ou de falta dela”.
A apresentadora também destacou o papel do cinema como instrumento de transformação social: “Se você usa o cinema como arma fundamental para dar visibilidade a uma causa, você está chegando em todos os lugares — nos lares, nos celulares, nas escolas, nas telas. Está chegando também para os povos originários, que agora também estão fazendo cinema”.
Compensação de carbono no festival - Outro destaque do sábado foi a iniciativa de sustentabilidade promovida pela Compensei, representada por Adriana Saito, que apresentou o “Carbonômetro”. A ferramenta calcula a emissão de CO dos participantes a partir dos meios de transporte utilizados para chegar ao evento.
“As pessoas chegam e informam se vieram de São Paulo, Campo Grande ou Bonito, e se vieram de avião, carro, ônibus ou bicicleta. Fazemos o cálculo e, no final, vamos compensar essa emissão com créditos de carbono adquiridos junto ao Instituto Homem Pantaneiro, na Serra do Amolar”, explicou Adriana.
A ação busca conscientizar o público sobre o impacto ambiental de pequenas escolhas e oferece alternativas práticas: “As pessoas podem, por exemplo, trocar o carro pela bicicleta ou usar álcool em vez de gasolina. Essas são algumas práticas que incentivamos”.
Cinema ao ar livre e diversidade cultural - A partir das 18h, a Praça da Liberdade se transformou em uma grande sala de cinema para crianças e moradores da comunidade. Foram exibidos curtas-metragens infantis de diferentes países sul-americanos, promovendo o acesso democrático à cultura e ao audiovisual.
Às 19h30, a programação voltou ao auditório Kadiwéu com a Mostra Sul-Americana, que trouxe os filmes Amor en los tiempos de like (Colômbia) e Oro amargo (coprodução Chile, Uruguai e Alemanha). As obras reforçaram a proposta do festival de dar visibilidade à pluralidade de narrativas da América do Sul, com temas que dialogam com os dilemas contemporâneos das juventudes e com os efeitos da mineração em comunidades locais.
BonitoCineSur segue até o dia 2 de agosto - O BonitoCineSur, que segue até 2 de agosto, se consolida como um dos principais eventos dedicados ao cinema sul-americano no Brasil. A curadoria aposta em uma seleção diversa e sensível, que estimula o diálogo entre culturas e promove reflexões sobre o presente e o futuro da região.
Além das sessões de cinema, o evento oferece oficinas, debates, apresentações musicais e atividades voltadas para o público local. A expectativa é que a terceira edição reforce o papel do audiovisual como meio de valorização cultural e ferramenta de transformação social.