Movimentos sociais convocam atos em todo o país contra tarifa de Trump
Protestos estão marcados para 1º de agosto em capitais brasileiras; UNE e frentes populares reagem à sobretaxa de 50% imposta
POLÍTICADiversos movimentos sociais de esquerda, incluindo a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular, estão organizando manifestações em diferentes cidades do Brasil no dia 1º de agosto, em protesto contra a nova sobretaxa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros.
O aumento da tarifa, anunciado pelo presidente americano Donald Trump, gerou forte repercussão política e acendeu o alerta de entidades da sociedade civil, que veem na medida uma afronta à soberania do Brasil e um gesto de retaliação diante dos recentes desdobramentos jurídicos que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A UNE confirmou atos em frente a representações diplomáticas dos EUA em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Já a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo convocaram manifestações em Salvador e em outras capitais, unindo pautas econômicas e geopolíticas.
As manifestações foram anunciadas como resposta direta à sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros, que entrará em vigor em 1º de agosto, conforme anunciado pela Casa Branca. Segundo os movimentos sociais, a tarifa representa não apenas uma medida protecionista, mas uma forma de pressão política contra o atual governo brasileiro.
"O bolsonarismo, mesmo após a derrota eleitoral, segue organizado e alinhado a uma rede global pautada na política imperialista de ataque à soberania dos povos, tal como podemos identificar a partir da recente decisão de Donald Trump de aplicar um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros", afirmou a UNE em carta que convoca os atos.
A UNE classificou a medida como uma tentativa de ingerência internacional nos assuntos internos do Brasil, especialmente após o presidente americano criticar abertamente o julgamento de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A escalada da crise teve um novo capítulo com a divulgação de uma carta oficial de Donald Trump. No documento, o ex-presidente americano pediu o fim do julgamento de Bolsonaro, classificando o processo como uma "caça às bruxas".
"O modo como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado no mundo, é uma desgraça internacional", escreveu Trump. "Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!"
Além da sobretaxa, o governo dos EUA também cassou os vistos de ministros do STF — medida que, segundo fontes diplomáticas, teria sido tomada em retaliação às decisões do tribunal contra Bolsonaro.
Na manhã desta sexta-feira (25), a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) foi palco de um ato simbólico em defesa da soberania nacional. O evento reuniu cerca de 250 entidades e foi considerado um aquecimento para as manifestações de 1º de agosto.
As entidades presentes denunciaram a escalada de interferência dos EUA nos assuntos internos brasileiros e expressaram apoio ao sistema judiciário nacional diante das pressões externas.
Os atos convocados pela UNE e pelas frentes populares ocorrerão simultaneamente em diversas capitais brasileiras, com horários distintos conforme as regiões. A expectativa é de que as manifestações reúnam estudantes, militantes de movimentos sociais, lideranças sindicais e cidadãos preocupados com os rumos das relações internacionais do Brasil.
Locais e horários confirmados até o momento:
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São Paulo (SP): 10h no Consulado dos EUA
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Salvador (BA): 15h no Campo Grande
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Rio de Janeiro (RJ): 18h no Consulado dos EUA
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Brasília (DF): 09h em frente à Embaixada dos EUA
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Porto Alegre (RS): 18h na Esquina Democrática
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Belo Horizonte (MG): 17h na Praça Sete
As lideranças da UNE têm reforçado o caráter pacífico das manifestações e destacam que a pauta vai além da economia. Para os organizadores, trata-se de defender a soberania política e jurídica do Brasil diante do que chamam de "tentativas de tutela internacional".
Parlamentares da base governista também reagiram à decisão do governo americano. Deputados e senadores ligados à Comissão de Relações Exteriores do Congresso avaliam que as ações de Trump configuram "clara ingerência em assuntos internos de um país soberano".
Já membros da oposição têm relativizado a sobretaxa, acusando o atual governo brasileiro de conduzir mal a política externa e de tratar com desprezo aliados internacionais históricos. A tensão diplomática, segundo analistas, pode se agravar caso o Palácio do Planalto não reaja formalmente à postura da Casa Branca.
A sobretaxa de 50% deverá afetar diretamente setores exportadores como o agronegócio, a indústria de transformação e a produção de alimentos. Especialistas avaliam que a medida poderá provocar um efeito cascata na balança comercial brasileira, com impacto direto nos preços internos e na competitividade dos produtos nacionais.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) ainda não se posicionou oficialmente sobre o tema, mas representantes do setor já articulam ações junto ao Itamaraty para tentar reverter a tarifa. As negociações com os EUA devem se intensificar nos próximos dias, enquanto cresce a pressão interna por uma resposta institucional contundente.