Especialista de MS alerta para câncer colorretal, que matou Preta Gil, crescer entre jovens
Médica do HU-UFGD explica sinais e prevenção de doença silenciosa que já é o terceiro tipo mais comum no Brasil
ALERTAA morte da cantora Preta Gil, aos 50 anos, vítima de um câncer colorretal, causou comoção em todo o país. Mas também acendeu um sinal de alerta sobre uma doença que avança de forma silenciosa e cada vez mais precoce. Em Dourados, no Mato Grosso do Sul, a coloproctologista Débora Tagliari, do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), explica que o tumor que levou à morte da artista já é o terceiro tipo de câncer mais comum entre os brasileiros — e está atingindo pessoas mais jovens.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a mortalidade prematura por câncer de intestino, que abrange o cólon e o reto, deve aumentar até 2030. Isso significa que mais pessoas vão morrer antes dos 70 anos por causa da doença, tanto homens quanto mulheres. O alerta não é apenas uma estatística nacional: é um problema que já preocupa também profissionais de saúde em Mato Grosso do Sul.
“O câncer colorretal tem diversas causas, como idade, histórico familiar e, principalmente, fatores ambientais e de comportamento”, explica a médica. Ela lista entre os principais riscos a obesidade, o sedentarismo, o consumo de álcool e tabaco, e uma alimentação pobre em fibras e rica em carnes processadas. “Estamos falando de uma doença diretamente ligada ao estilo de vida”, completa.
Sinais que não devem ser ignorados - A coloproctologista do HU-UFGD afirma que o grande desafio é o diagnóstico precoce. “A doença muitas vezes é silenciosa. Os pólipos, que são lesões precursoras, não apresentam sintomas”, alerta. Segundo ela, os sinais que devem acender o alerta são sangue nas fezes, mudança no ritmo intestinal, dor abdominal persistente, perda de peso sem causa aparente, fraqueza e anemia.
“Mas o mais importante é que esses pólipos podem ser retirados antes de se tornarem câncer. E a única forma de detectar isso com segurança é a colonoscopia”, explica Tagliari. O exame é recomendado para todas as pessoas a partir dos 45 anos, mesmo aquelas que não têm sintomas. Se houver histórico familiar ou sinais de alerta, o exame deve ser feito antes dessa idade.
De acordo com a médica, a colonoscopia é mais eficaz do que exames como o de sangue oculto nas fezes. “Esse tipo de teste pode dar um falso negativo. Ou seja, o paciente pode ter pólipos e ainda assim o resultado do exame vir normal. Por isso, ele não substitui a colonoscopia”, reforça.
O estilo de vida faz diferença - Entre as medidas de prevenção, a especialista destaca a importância da alimentação. “Uma dieta rica em frutas, verduras, legumes e grãos integrais pode reduzir bastante o risco”, diz. Além disso, manter o peso adequado, praticar atividade física regularmente e evitar álcool e cigarro são atitudes simples que ajudam a afastar o câncer colorretal.
Ela ressalta que alimentos processados, como presunto, salsicha, salame, embutidos em geral e fast-foods, são apontados por estudos como fatores que aumentam o risco da doença. “Esses produtos fazem parte da rotina de muita gente, inclusive jovens. E isso ajuda a explicar o aumento dos casos em faixas etárias mais baixas”, afirma.
Casos em jovens e formas de tratamento - O crescimento de diagnósticos entre jovens tem preocupado médicos em todo o país. A mudança no perfil da doença levou à atualização da recomendação oficial, que passou a indicar a colonoscopia a partir dos 45 anos — antes era aos 50.
“Esses pacientes mais jovens normalmente são diagnosticados em estágios mais avançados. Como não fazem parte do grupo de rastreio, acabam demorando a procurar ajuda médica”, diz Tagliari.
O tratamento depende do estágio e da localização do tumor. “Se for detectado bem no início, pode ser retirado durante a própria colonoscopia. Mas se o câncer já estiver avançado, será necessário recorrer à cirurgia, quimioterapia e, em alguns casos, radioterapia”, explica.
Há ainda situações em que é preciso o uso de bolsa de ostomia — um tema cercado de tabus e preconceitos. “É importante tratar essa questão com naturalidade. A ostomia, quando necessária, é uma etapa do tratamento que salva vidas”, conclui a médica.
Rede de apoio e pesquisa - O HU-UFGD, onde atua a coloproctologista Débora Tagliari, integra a Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), que reúne hospitais universitários federais sob gestão do Ministério da Educação. Em Mato Grosso do Sul, o hospital funciona como referência em atendimentos especializados pelo SUS, além de ser polo de formação médica e produção científica na região.
A presença de profissionais como Débora Tagliari, aliando conhecimento técnico e escuta atenta, reforça o papel estratégico da rede pública na prevenção e combate ao câncer. Especialmente quando se trata de um tipo de tumor que, se diagnosticado a tempo, tem altas chances de cura.