Redação | 25 de julho de 2025 - 18h07

"Essa devolução do INSS é uma farsa que impede justiça"

Deputado federal reeleito, Beto Pereira (PSDB-MS) fala sobre o escândalo dos descontos indevidos em aposentadorias, critica o modelo de reembolso e promete mudanças na lei para evitar novas fraudes

BETO PEREIRA
O deputado federal Beto Pereira em entrevista ao programa Giro Estadual de Notícias - (Foto: Lorena Sone)

Na política desde os 26 anos, quando se tornou o prefeito mais jovem de Mato Grosso do Sul, Beto Pereira aprendeu cedo que o poder público pode ser tanto instrumento de transformação quanto de frustração. Filho do ex-senador Valter Pereira e tataraneto do fundador de Campo Grande, ele se move com desenvoltura entre a tradição e a renovação. Hoje, aos 46, cumpre o segundo mandato como deputado federal e é um dos principais nomes do PSDB no estado.

Na última sexta-feira (25), Beto Pereira acordou com a voz embargada pela indignação. Em entrevista ao programa Giro Estadual de Notícias — transmitido pelas rádios do Grupo Feitosa de Comunicação e pelas redes do jornal A Crítica — ele expôs o que chamou de uma das maiores fraudes já vistas contra aposentados e pensionistas no Brasil. Mais de cem empresas estariam envolvidas em descontos ilegais nos benefícios do INSS. Mas não foi isso que mais lhe chamou atenção.

O ponto mais grave, segundo o deputado, está no modelo de reembolso adotado pelo próprio INSS. Para receber de volta o que foi descontado, o aposentado precisa aceitar um acordo que o impede de recorrer à Justiça. A devolução, nesse caso, vem com preço — o silêncio da vítima.

Nesta entrevista ao Jornal A Crítica, Beto fala com firmeza sobre o que considera um erro inaceitável do governo federal, revela detalhes do escândalo e antecipa as ações da CPMI que será instalada no Congresso para apurar o caso.

Jornal A Crítica – O senhor recebeu informações de que mais de 100 empresas podem estar envolvidas nos descontos indevidos de aposentados. O que isso representa?

Beto Pereira – É uma fraude gravíssima. A Polícia Federal havia apontado 11 empresas. Mas o relatório do Procon de Mato Grosso do Sul mostrou que esse número passa de 100. E o pior: tudo isso aconteceu com a conivência do Estado. O governo federal foi avisado várias vezes e não fez nada. Só no nosso estado, 21 Procons registraram denúncias contra essas empresas.

Jornal A Crítica – E como o senhor avalia a forma como o INSS está fazendo o reembolso dessas vítimas?

Beto Pereira – É absurda. O INSS está devolvendo o dinheiro, mas exige que o aposentado aceite tudo sem questionar. Isso é errado. Parece que estão escondendo alguma coisa. A pessoa já foi prejudicada, e agora é forçada a abrir mão do direito de reclamar na Justiça. É como assinar um contrato com o diabo.

Jornal A Crítica – O senhor usou essa expressão na entrevista: “contrato com o diabo”. O que quis dizer com isso?

Beto Pereira – Usei porque é exatamente o que parece. O aposentado foi roubado, e para receber o que é dele por direito, precisa aceitar um acordo que o impede de brigar judicialmente. Isso é suspeito. Dá a entender que o INSS está mais preocupado em evitar processos do que em reparar de verdade o prejuízo.

Jornal A Crítica – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito já foi criada?

Beto Pereira – Será instalada em agosto. Serão 32 membros, 16 deputados e 16 senadores. Eu sou um dos titulares. A comissão vai apurar essa fraude nos descontos de aposentados. Vamos buscar responsabilizar todos os envolvidos — seja quem for. Desde ex-ministros até dirigentes do INSS e empresas que participaram do esquema.

Jornal A Crítica – Quais mudanças o senhor defende ao fim dessa CPMI?

Beto Pereira – A principal é uma mudança na lei para proibir totalmente qualquer tipo de desconto automático nos benefícios de aposentados e pensionistas. Só quem recebe o benefício deve ter poder para autorizar um débito. Além disso, queremos rastrear os recursos desviados e buscar a devolução total do dinheiro roubado. E, claro, responsabilizar quem foi omisso.

Jornal A Crítica – Mesmo com a legislação atual e sistemas digitais, esse tipo de golpe ainda aconteceu. Onde está o erro?

Beto Pereira – Está na falta de fiscalização e na permissividade. Existe uma instrução normativa que exige critérios rígidos para uma associação fazer descontos no INSS. Mas isso foi desrespeitado. Alguém lá dentro facilitou ou ignorou as regras. A tecnologia não serve de nada se o sistema é mal usado ou manipulado por quem deveria proteger o cidadão.

Jornal A Crítica – O senhor acredita que essa investigação pode recuperar a confiança da população?

Beto Pereira – Acredito, sim. A população está cansada de ver CPI que não dá em nada. Mas nesse caso, temos o dever de dar uma resposta rápida e clara. Essa fraude atingiu aposentados e pensionistas, pessoas que trabalharam a vida inteira. Não podemos aceitar que sejam tratados assim. Vamos fazer o que for preciso para que isso não aconteça de novo.