Suboficial da Marinha é condenado por assédio sexual contra cabo trans em escola militar no Rio
Militar recebeu pena de um ano em regime aberto por abordagem considerada abusiva; Justiça Militar reconheceu impacto psicológico na vítima
ASSÉDIO SEXUALA Justiça Militar condenou um suboficial da Marinha por assédio sexual contra uma cabo trans em uma escola de formação da Força, localizada no Rio de Janeiro. O episódio ocorreu em fevereiro de 2024 e resultou em uma pena de um ano de prisão em regime aberto. A decisão ainda cabe recurso no Superior Tribunal Militar (STM).
De acordo com o processo, o suboficial abordou a cabo de maneira agressiva, puxando-a pelo braço e dizendo: “Na época do navio eu não tinha coragem de te rachar, mas agora que você é mulher, se você der mole eu te racho”. A fala, considerada de teor sexual e ofensivo, fazia referência ao período anterior à transição de gênero da militar, quando ambos ainda serviam juntos.
O impacto do episódio foi imediato: no dia seguinte, a cabo sofreu uma crise de ansiedade acompanhada de sintomas físicos e precisou se afastar das atividades de formação. O abalo emocional foi considerado pela Justiça como prova suficiente para caracterizar o assédio.
Defesa nega acusação, mas Justiça considera provas consistentes
A defesa do suboficial alegou que não houve assédio, afirmando que o militar apenas teria perguntado sobre o pronome preferido da colega e pedido desculpas por tê-la tratado anteriormente no masculino. No entanto, o Conselho Permanente de Justiça entendeu que os relatos da vítima e os indícios do abalo psicológico confirmavam a ocorrência de assédio, mesmo na ausência de testemunhas oculares.
Durante o julgamento, a postura do acusado também pesou contra ele. Segundo a juíza Mariana Aquino, responsável pela sentença, o suboficial insistiu em se referir à cabo no gênero masculino, utilizando o pronome “ele” repetidamente, mesmo com o reconhecimento oficial de sua identidade de gênero como mulher trans. Isso foi interpretado como desrespeito e reforço da conduta abusiva.
Pena inclui curso obrigatório sobre assédio no ambiente de trabalho
Além da pena de um ano em regime aberto, o condenado deverá se apresentar trimestralmente à Justiça e realizar, de forma obrigatória, o curso online gratuito “Assédio Moral e Sexual no Trabalho”, oferecido pelo Senado Federal. A medida tem caráter educativo e visa conscientização sobre condutas inadequadas no ambiente profissional.
Avanço feminino nas Forças Armadas e inclusão de militares trans
A condenação ocorre em um contexto de maior presença feminina nas Forças Armadas. Em 2025, foi realizado o primeiro alistamento voluntário exclusivo para mulheres, com 32 mil inscritas disputando 1.465 vagas. A maioria das oportunidades estava no Exército (70%), seguido pela Aeronáutica (20%) e Marinha (10%).
Apesar do crescimento da participação feminina, que atualmente representa 10,52% do efetivo, as Forças Armadas ainda enfrentam desafios relacionados à inclusão, diversidade e combate ao assédio. A meta para a próxima década é dobrar esse percentual, alcançando 20% de presença feminina nos quadros militares.
As mulheres hoje atuam majoritariamente em áreas como saúde, logística e ensino, mas casos como o da cabo trans evidenciam a necessidade de avanços também na promoção de ambientes seguros e respeitosos, inclusive para pessoas trans dentro das instituições militares.
A Marinha foi procurada para comentar o caso, mas até o momento da publicação desta matéria não se manifestou.