21 de julho de 2025 - 21h20

Lula diz que Brasil ainda não está em guerra tarifária com os EUA, mas avisa que pode reagir

Durante agenda no Chile, presidente afirma que só responderá a Trump se ele mantiver tarifa de 50% contra produtos brasileiros

TARIFAS
Lula disse estar "tranquilo" em relação à crise e elogiou o trabalho dos ministros Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) e Mauro Vieira (Relações Exteriores) - (Foto: Eraldo Peres/AP)

Durante passagem por Santiago, no Chile, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (21) que o Brasil ainda não entrou em uma guerra tarifária com os Estados Unidos, mas deixou claro que poderá adotar medidas de retaliação caso o ex-presidente Donald Trump mantenha a nova taxa de importação de 50% sobre produtos brasileiros.

“Nós não estamos em uma guerra tarifária. Guerra tarifária vai começar quando eu der uma resposta ao Trump, se ele não mudar de opinião”, afirmou Lula a jornalistas, em conversa após participar de um encontro regional sobre democracia. O presidente também considerou as tarifas “inadequadas” e rebateu as críticas de Trump sobre a balança comercial entre os dois países.

Crise com os EUA ainda é tratada como assunto interno

A agenda no Chile reuniu líderes progressistas da América Latina e da Europa, mas, segundo Lula, a crise comercial com os EUA não foi tema de debate por ser considerada uma questão bilateral. O presidente afirmou estar tranquilo quanto à situação e elogiou a atuação dos ministros Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), que têm conduzido os esforços diplomáticos para evitar uma escalada no conflito.

A nova tarifa foi anunciada por Donald Trump no dia 9 de julho, e passa a valer a partir de agosto. Desde então, o governo brasileiro busca alternativas para contornar o impacto econômico da medida, inclusive avaliando possíveis ações de retaliação — entre elas, está o estudo sobre flexibilização de patentes de medicamentos de origem americana.

Lula defende diálogo direto com Trump

Lula também indicou que pretende dialogar diretamente com Donald Trump. Segundo o presidente, chefes de Estado precisam conversar com base nos interesses dos respectivos países, e a defesa do Brasil é tão legítima quanto a dos Estados Unidos.

“Eu não acho ruim que o Trump esteja defendendo os interesses dos Estados Unidos, mas ele tem que levar em conta que eu estou defendendo os interesses do Brasil”, declarou.

O presidente reforçou ainda que o setor empresarial brasileiro também deve buscar interlocução com seus pares americanos para evitar prejuízos mútuos. “Os setores produtivos dos dois países são prejudicados com essas tarifas. Os empresários precisam conversar”, disse.

Tarifa de Trump acirra tensão com Brasília

A decisão de Trump causou desconforto diplomático e foi interpretada pelo Planalto como uma forma de retaliação ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil, bem como às decisões do Supremo Tribunal Federal contra empresas americanas de tecnologia.

Trump, em sua justificativa, acusou o Brasil de prejudicar seu aliado político e descreveu o cenário como uma “desgraça internacional”. A medida ampliou a tensão política entre os dois países e pode afetar setores estratégicos da economia brasileira.

Lula alerta sobre riscos do extremismo

Ainda em Santiago, Lula participou de uma reunião de alto nível com os presidentes Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Yamandú Orsi (Uruguai) e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez. O encontro teve como foco a defesa da democracia e o combate ao extremismo político.

Em sua fala à imprensa, Lula fez uma comparação histórica ao alertar para os perigos da radicalização. “A democracia corre risco com o extremismo, como correu na fundação do partido nazista e na ascensão do Hitler”, afirmou.

O presidente retornou a Brasília ainda na noite desta segunda-feira, após os compromissos internacionais.