Eduardo Bolsonaro admite que discutiu tarifa com governo dos EUA e contradiz versão do pai
Deputado e influenciador Paulo Figueiredo confirmam que sanção contra o Brasil foi debatida antes do anúncio de Trump, apesar de Jair Bolsonaro negar envolvimento
TARIFAS COMERCIAISO deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o influenciador Paulo Figueiredo admitiram, nesta segunda-feira (21), que a possibilidade dos Estados Unidos imporem tarifas ao Brasil foi tema de reuniões com autoridades americanas antes do anúncio oficial feito por Donald Trump. A revelação contraria diretamente a declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro, que no mesmo dia afirmou não ter qualquer relação com a medida.
Segundo Figueiredo, a proposta de taxação chegou a ser discutida diretamente com Eduardo Bolsonaro durante encontros nos Estados Unidos. Inicialmente, ambos defenderam que sanções fossem direcionadas apenas a autoridades brasileiras, como o ministro Alexandre de Moraes. Apesar disso, atualmente, os dois dizem apoiar a decisão de Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras.
"Quando essa opção foi discutida com o deputado Eduardo Bolsonaro e nós, demos nossa opinião. Dissemos que essa não era a melhor medida naquele momento. Advogamos por sanções direcionadas aos agentes principais da ditadura", disse Paulo Figueiredo em entrevista ao podcast Inteligência Ltda.
Eduardo chama tarifa de 'Tarifa-Moraes'
Eduardo Bolsonaro confirmou a versão e afirmou que, embora a medida não fosse a preferida no início, hoje considera acertada a decisão de Trump. “A gente não imaginou que no início fosse decretada a tarifa. Mas como o Paulo bem falou, nós não somos o presidente dos Estados Unidos. Não temos o poder da caneta”, afirmou o parlamentar.
Para ele, a sanção comercial é uma reação legítima à atuação do ministro Alexandre de Moraes, a quem responsabiliza por uma “crise institucional”. Eduardo classificou o imposto extra como a "Tarifa-Moraes", justificando que a medida foi motivada por decisões do magistrado, que, segundo ele, afetam as liberdades no país.
"Antes de qualquer questão comercial, vem a liberdade. Se não puder falar, dar a sua opinião, você vira um escravo, um cubano. Queremos preservar as liberdades da nossa democracia", declarou.
Bolsonaro nega envolvimento e diz que filho não representa governo
No entanto, o ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à jornalista Andréia Sadi, do G1, negou qualquer ligação com a sanção imposta por Trump ao Brasil. “Isso é lá do governo Trump. Não tem nada a ver com a gente. Querem colar na gente os 50%. Mentira”, afirmou.
Ao ser questionado sobre o envolvimento de Eduardo, Bolsonaro foi direto: “Ele não pode falar em nome do governo do Brasil. O Eduardo não pode falar em nome do governo brasileiro.” O ex-presidente também alegou não manter contatos com autoridades americanas.
Mudança de postura dos aliados
A fala de Eduardo Bolsonaro representa uma guinada no discurso do entorno bolsonarista, que até então negava qualquer relação com a imposição da tarifa. Agora, os próprios aliados admitem não só que participaram de reuniões em que o tema foi tratado, como também apoiam a medida como forma de resposta à atuação do Supremo Tribunal Federal.
Paulo Figueiredo, que inicialmente disse ter se posicionado contra a tarifa, afirmou estar hoje “100% convencido” de que Trump agiu corretamente. Para ele, o Brasil vive uma ruptura institucional causada por decisões do Judiciário, e a medida americana serviria como forma de pressão externa.
Tarifa de Trump intensifica tensão Brasil-EUA
A sanção foi anunciada por Trump no dia 9 de julho e passa a valer a partir de 1º de agosto. A decisão impacta diretamente setores da economia brasileira e foi apresentada como reação ao “tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro” e a medidas do STF contra empresas de tecnologia dos EUA.
O episódio aumentou a tensão diplomática entre Brasília e Washington e motivou a abertura de investigações no Brasil sobre possíveis articulações políticas com autoridades americanas para pressionar o Supremo. A suspeita é de que membros da oposição estariam usando instrumentos comerciais internacionais como forma de coação institucional.
Enquanto Jair Bolsonaro tenta se distanciar da medida, figuras do seu entorno passam a assumir o debate como um instrumento político legítimo — ainda que os efeitos econômicos sejam assumidamente prejudiciais ao Brasil.