21 de julho de 2025 - 21h10

Moraes manda abrir inquérito sobre suspeita de lucro com dólar antes de anúncio de tarifa por Trump

PF investigará possível uso de informação privilegiada em operações cambiais feitas horas antes da taxação anunciada pelos EUA contra o Brasil

MINISTRO DO STF
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decreta investigação da PF para apurar suspeitas de 'insider trading' no dia do tarifaço dos EUA contra o Brasil. - (Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO)

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta segunda-feira (21) a abertura de um inquérito pela Polícia Federal para apurar suspeitas de uso de informações privilegiadas em operações com dólar realizadas pouco antes de o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a imposição de novas tarifas sobre produtos brasileiros.

A investigação foi aberta após um pedido feito pela Advocacia-Geral da União (AGU), chefiada por Jorge Messias, que apontou indícios de que grandes volumes de transações cambiais ocorreram horas antes do anúncio oficial, o que levanta suspeitas de insider trading — prática ilegal de negociação com base em informações sigilosas.

Segundo a AGU, há fortes indícios de que pessoas físicas ou jurídicas com acesso antecipado à decisão americana lucraram de forma anormal, com ganhos entre 25% e 50% em poucas horas. O episódio foi revelado em reportagem da TV Globo, exibida na sexta-feira (18), e motivou a manifestação formal ao STF.

Transações antes e depois do anúncio levantam suspeitas

De acordo com relatos apresentados à AGU, por volta das 13h30 do dia 9 de julho — cerca de três horas antes do anúncio oficial de Trump — houve uma movimentação incomum no mercado de câmbio. Segundo Spencer Hakimian, gestor do fundo americano Toulou Capital, houve uma compra massiva de dólares, estimada entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, à cotação de R$ 5,46.

Minutos após Trump anunciar o tarifaço, às 16h17, uma operação de venda com volume semelhante ocorreu, com cotação de R$ 5,60. A diferença de poucos centavos rendeu lucros de até 50% em apenas três horas, de acordo com estimativas do gestor. “Não é o padrão normal das transações com o real”, afirmou Hakimian à emissora.

Inquérito corre em sigilo e envolve outros fatos relacionados

O caso tramita sob sigilo no Supremo e foi registrado como uma petição autônoma, mas ficará sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O magistrado já conduz o inquérito que investiga o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado de articular com parlamentares republicanos dos EUA para pressionar o STF a anular a ação penal relacionada à tentativa de golpe de Estado, da qual seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, é réu.

A AGU sustenta que o possível vazamento de informações e o uso de instrumentos de comércio internacional configurariam uma tentativa de coação deliberada contra o Judiciário brasileiro. A articulação envolveria a elevação de tarifas como retaliação às decisões do STF e à postura do governo Lula em relação a empresas americanas de tecnologia.

Trump reagiu contra o Brasil e defendeu Bolsonaro

Ao anunciar o tarifaço, Trump justificou a medida dizendo que se tratava de uma resposta direta à forma como o Brasil vem tratando Jair Bolsonaro. Ele classificou a atuação do país como uma “desgraça internacional” e disse que Bolsonaro é um “líder altamente respeitado no mundo”.

A nova tarifa entra em vigor em 1º de agosto e afeta diretamente setores de exportação brasileiros, aumentando a tensão entre Brasília e Washington.

AGU pede ações da CVM e comunicação à PGR

Além do inquérito já autorizado, a AGU solicitou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) seja formalmente comunicada dos fatos e que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tome providências administrativas e civis para investigar o eventual uso de informação privilegiada no mercado financeiro.

No pedido, a AGU afirma que a elevação das tarifas pode ter tido como objetivo deliberado a criação de um ambiente de instabilidade econômica, para pressionar o Poder Judiciário e afetar diretamente as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.

A Polícia Federal agora terá a responsabilidade de identificar quem foram os operadores das transações suspeitas e se houve de fato acesso antecipado a informações sigilosas do governo norte-americano.