'Máxima humilhação': Bolsonaro mostra tornozeleira eletrônica em meio a tumulto na Câmara
Ex-presidente exibiu o equipamento a aliados durante reunião com parlamentares e criticou a decisão judicial; confusão marcou saída da Câmara
EX-PRESIDENTEO ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) exibiu publicamente, nesta segunda-feira (21), a tornozeleira eletrônica que passou a usar desde a última sexta-feira (18), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Durante encontro com parlamentares da oposição na Câmara dos Deputados, Bolsonaro se referiu ao equipamento como um símbolo de “máxima humilhação”.
"Não matei, não trafiquei. Este aqui é o símbolo da máxima humilhação. É uma pessoa inocente", declarou o ex-presidente, que também afirmou que, para ele, “o que vale é a lei de Deus”.
A aparição ocorreu durante uma reunião fechada com deputados e senadores aliados, mas o ex-presidente acabou mostrando a tornozeleira a jornalistas no Salão Verde da Câmara. Antes disso, ele havia posado para fotos com parlamentares que publicaram as imagens nas redes sociais — ato que ele mesmo está impedido de fazer, por decisão judicial.
Decisão judicial e restrições
A ordem para o uso da tornozeleira faz parte de um conjunto de medidas cautelares impostas pelo STF no inquérito que investiga os eventos relacionados à tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. Além do monitoramento eletrônico, Bolsonaro está proibido de usar redes sociais e de manter contato com outros investigados no caso.
Desde que recebeu a ordem, o ex-presidente tem criticado publicamente a decisão. Na sexta-feira (18), quando começou a usar o equipamento, ele se recusou a mostrá-lo em entrevistas, alegando constrangimento. Nos dias seguintes, no entanto, aliados começaram a divulgar imagens de Bolsonaro com a tornozeleira, em tom de solidariedade e protesto.
Aliados divulgam imagens
Deputados do PL como André Fernandes (CE) e Maurício do Vôlei (MG) publicaram fotos com o ex-presidente, nas quais a tornozeleira aparece em destaque. Apesar de Bolsonaro estar impedido de usar suas redes sociais, as imagens circularam amplamente pelas contas de seus apoiadores, como forma de reforçar a narrativa de perseguição judicial.
Confusão e tumulto na Câmara
A saída de Bolsonaro da Câmara dos Deputados foi marcada por tumulto. Em meio à aglomeração de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas que tentavam registrar a imagem do ex-presidente com a tornozeleira, houve empurra-empurra e desorganização.
Durante a confusão, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que acompanhava Bolsonaro, acabou ferido no rosto após ser atingido por uma canopla de microfone. Segundo a assessoria do parlamentar, ele teve um corte abaixo do olho e sangrou, mas passa bem.
Além disso, uma mesa de vidro no Salão Verde foi quebrada no meio do tumulto, espalhando estilhaços pelo chão. Servidores da Casa precisaram intervir para conter a situação e isolar a área até a limpeza ser concluída.
Críticas recorrentes
Desde que passou a ser alvo de medidas restritivas impostas pelo Supremo, Bolsonaro vem adotando um tom de confronto com o Judiciário. O uso da tornozeleira eletrônica, que ele classificou como “suprema humilhação”, tem sido explorado politicamente por ele e seus aliados como símbolo de um suposto abuso de autoridade.
Apesar de não apresentar provas, o ex-presidente insiste em se declarar inocente e vítima de perseguição. A estratégia parece ter eco entre parte da base bolsonarista, que vê nas ações judiciais um ataque à liberdade de expressão e aos direitos políticos do ex-mandatário.
Tensão entre os Poderes
O episódio reacende o clima de tensão entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em um momento delicado da política brasileira. A oposição tem usado o caso como exemplo de suposto cerceamento das liberdades individuais, enquanto o Supremo afirma que as medidas visam garantir o andamento das investigações e a ordem institucional.
Com a proibição de se manifestar publicamente nas redes sociais, Bolsonaro tem recorrido a reuniões presenciais e encontros políticos para articular sua defesa e manter sua imagem entre os apoiadores.
Resta saber até que ponto a exposição da tornozeleira — que inicialmente ele se recusou a mostrar — poderá ser utilizada como ferramenta simbólica ou arma política no embate entre o ex-presidente e o Judiciário.