Ibovespa reage e fecha em alta com alívio no câmbio e expectativa sobre minério de ferro
Ações ligadas a commodities e estabilidade nos juros impulsionam recuperação após forte queda; setor doméstico segue pressionado
IBOVESPAApós acumular perdas significativas nos últimos pregões e encerrar a sexta-feira no menor nível em quase três meses, o Ibovespa teve uma leve recuperação nesta segunda-feira, 21. Com investidores avaliando o cenário externo e a ausência de novos fatores que agravassem a tensão comercial com os Estados Unidos, o principal índice da B3 subiu 0,59%, encerrando o dia aos 134.166,72 pontos.
A recuperação foi influenciada, entre outros fatores, por declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que afastou a possibilidade de retaliação econômica contra os EUA e descartou qualquer restrição a remessas de dividendos. A sinalização ajudou a aliviar parte da pressão sobre os ativos brasileiros, derrubando o dólar e os juros futuros, enquanto setores ligados a commodities puxaram os ganhos na Bolsa.
Minério de ferro em alta e notícias da China impulsionam setor de materiais
Entre os destaques positivos do dia, a valorização do minério de ferro voltou a favorecer as ações da Vale, que avançaram 2,73%. O movimento se deu após o anúncio, por parte da China, de um mega investimento de US$ 170 bilhões em um novo projeto hidrelétrico no oeste do país, o que renovou a expectativa de aumento na demanda por aço e matérias-primas.
“O setor de materiais básicos reagiu com força, e isso fez a diferença para o Ibovespa. Com esse projeto de grande porte na China, a expectativa é de crescimento na demanda por aço e redução da capacidade ociosa no setor industrial local”, explicou Guilherme Petris, operador da Manchester Investimentos.
Na esteira desse otimismo, o índice de materiais básicos (IMAT) subiu 2,09%, superando outros setores, como o de consumo (ICON), que teve alta mais modesta de 0,39%.
Papéis ligados ao consumo interno ainda sofrem pressão
Se as ações ligadas ao setor de commodities sustentaram o Ibovespa no azul, o mesmo não se pode dizer dos papéis atrelados ao ciclo doméstico. As maiores quedas do dia vieram de empresas como Pão de Açúcar (-7,73%), Magazine Luiza (-3,55%) e CVC (-3,35%), refletindo a cautela dos investidores com o cenário econômico interno e a continuidade da disputa comercial com os EUA, que pode afetar o consumo.
Movimento técnico e cenário mais calmo contribuem para recuperação
De acordo com Nicolas Merola, analista da EQI Research, o avanço do Ibovespa nesta segunda foi uma reação técnica após uma sequência de sessões muito voláteis. “O mercado teve uma acomodação no câmbio e nos juros. Foi uma calmaria depois da tempestade”, afirmou.
O analista também destacou o comportamento dos títulos do Tesouro norte-americano (Treasuries), que registraram queda nos juros após várias sessões de alta ao longo do mês, favorecendo ativos de risco em mercados emergentes como o Brasil.
Câmbio e juros futuros recuam com fala de Haddad
A fala do ministro Fernando Haddad teve efeito imediato sobre o câmbio, com o dólar caindo 0,40% e fechando o dia a R$ 5,56. No mercado de juros, a curva de longo prazo se manteve mais inclinada, mas sem grandes oscilações. “A sinalização do ministro ajudou a trazer uma percepção de estabilidade e reforçou a avaliação de que não haverá medidas precipitadas contra os EUA”, completou Merola.
Destaques do dia na Bolsa
- Fleury liderou os ganhos, com disparada de 14,89%, após notícias de uma possível aquisição pela Rede D’Or.
- BRF subiu 4,90% e CSN Mineração, 4,76%, também impulsionadas pelo otimismo com o minério.
- Vale ON fechou em alta de 2,73%, com forte contribuição para o desempenho geral do Ibovespa.
- Petrobras teve leve alta: ações ON subiram 0,27% e PN, 0,19%.
- Banco do Brasil ON recuou 1,97%, fechando na mínima do dia.
- Itaú PN conseguiu alta de 1,17%, enquanto Bradesco ON e PN variaram pouco: +0,22% e +0,06%, respectivamente.
Balanço do mês e do ano
Apesar da leve recuperação nesta segunda, o Ibovespa ainda acumula queda de 3,38% em julho. No acumulado de 2025, o índice sobe 11,54%, abaixo dos 17,44% registrados no fechamento recorde de 4 de julho, quando alcançou os 141 mil pontos.
Governo articula defesa técnica na disputa com EUA
Nos bastidores, o governo brasileiro prepara uma defesa baseada em argumentos técnicos e econômicos diante das acusações comerciais feitas pelo governo Trump, que envolvem desde condutas comerciais até o uso do Pix. No entanto, segundo apuração do Estadão/Broadcast, o cenário para uma negociação direta com os norte-americanos continua fechado, principalmente após a inclusão de cláusulas políticas que desafiam a autoridade do Supremo Tribunal Federal (STF), dificultando uma solução diplomática antes do prazo de 1º de agosto, quando a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros passa a valer integralmente.