Dólar fecha em queda com cenário político no Japão e incertezas nos EUA
Mercado reage à derrota do partido governista japonês, à pressão da Casa Branca sobre o Fed e às tensões comerciais
MOEDAS GLOBAISO dólar encerrou a segunda-feira (21) em baixa, refletindo o clima de incerteza global, com destaque para os desdobramentos políticos no Japão e as novas pressões do governo americano sobre o Federal Reserve (Fed). O movimento acontece em meio a um ambiente de tensão sobre tarifas comerciais e dúvidas quanto à autonomia do banco central dos Estados Unidos.
A moeda americana recuou com força especialmente frente ao iene, após o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, declarar que permanecerá no cargo mesmo após seu partido perder a maioria na câmara alta do Parlamento — a primeira derrota desse tipo desde a fundação da legenda, em 1955. Apesar do revés, Ishiba afirmou que continuará no governo para enfrentar os desafios econômicos, incluindo as ameaças tarifárias dos Estados Unidos. A fala foi interpretada como um gesto de estabilidade política no Japão, o que fortaleceu a divisa local.
Desempenho do dólar no mercado internacional
O índice DXY, que compara o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes, caiu 0,64%, fechando em 97,853 pontos. Às 16h50 (horário de Brasília), o euro subia para US$ 1,1696, enquanto a libra avançava a US$ 1,3488. O dólar também recuava frente a diversas moedas emergentes, como o peso mexicano e o peso argentino.
Frente ao iene, o dólar era negociado a 147,30 ienes, refletindo a valorização da moeda japonesa diante do cenário político no país e da sinalização de continuidade de Ishiba no poder.
Fed sob pressão e possíveis impactos no mercado
Nos Estados Unidos, o ambiente político também contribuiu para a queda da moeda. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que as negociações comerciais estão avançando, mas frisou que a qualidade dos acordos é prioridade. Ele também comentou sobre a situação do presidente do Fed, Jerome Powell, dizendo que já discutiu sua possível demissão com o presidente Joe Biden. “No fim do dia, a decisão é de Trump”, declarou Bessent, em menção à postura anterior do ex-presidente.
A fala reforça as preocupações do mercado com a independência do banco central americano. Analistas avaliam que uma possível troca no comando do Fed poderia gerar instabilidade nos mercados, com impacto direto sobre o dólar e os títulos do Tesouro dos EUA.
Aaron Hill, da corretora FP Markets, alertou que a eventual saída de Powell colocaria em xeque a autonomia do Fed, abalando a confiança dos investidores. A consultoria Capital Economics acrescentou que, apesar da expectativa de que o Fed mantenha os juros estáveis até 2026 por conta das tarifas comerciais, esse cenário depende fortemente das decisões políticas vindas da Casa Branca.
Tensões tarifárias e juros seguem no radar
Ainda segundo a Capital Economics, o diferencial das taxas de juros entre os Estados Unidos e outras economias tende a favorecer o dólar no médio prazo. No entanto, essa projeção permanece vulnerável às oscilações políticas e à condução da política econômica americana. A interferência da Casa Branca no Fed e o rumo das negociações comerciais seguem como fatores-chave para o comportamento futuro da moeda americana.