21 de julho de 2025 - 16h00

Combinação de gordura abdominal e perda muscular eleva risco de morte em idosos, revela pesquisa

Estudo da UFSCar em parceria com universidade britânica mostra que obesidade sarcopênica pode ser detectada com métodos simples e acessíveis

SAÚDE
A gordura abdominal intensifica processos inflamatórios que agravam a perda muscular, explica pesquisador - Foto: missty/Adobe Stock

Um estudo internacional liderado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) trouxe à tona um dado preocupante para a saúde da população idosa: a presença simultânea de gordura abdominal e perda de massa muscular pode aumentar em até 83% o risco de morte. O levantamento, feito em colaboração com a University College London, no Reino Unido, analisou dados de mais de 5 mil pessoas com 50 anos ou mais, ao longo de 12 anos.

O alerta está relacionado à chamada obesidade sarcopênica, uma condição clínica caracterizada pela perda de músculos e o acúmulo de gordura, principalmente na região abdominal. Esse quadro vem sendo associado a maior fragilidade, risco de quedas, piora da mobilidade, e redução da qualidade de vida, especialmente entre idosos.

O que é obesidade sarcopênica e por que ela preocupa

A obesidade sarcopênica ainda é pouco conhecida e, mais grave, de difícil diagnóstico. Envolve uma combinação que potencializa os danos ao organismo: a diminuição progressiva da massa muscular e o aumento de gordura corporal. Segundo os pesquisadores, é um fator que contribui para um envelhecimento mais vulnerável e com mais complicações de saúde.

“Constatamos que a associação entre essas duas condições — obesidade abdominal e perda muscular — representa um risco de morte significativamente maior”, explicou a professora Valdete Regina Guandalini, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que também atua no Departamento de Gerontologia da UFSCar e é a principal autora do artigo.

Os dados revelam ainda que, entre os participantes com apenas a perda de massa muscular, o risco de morte foi 40% menor do que nos que apresentavam as duas condições combinadas. Já indivíduos com gordura abdominal, mas com massa muscular preservada, não apresentaram aumento significativo do risco de morte.

Uma das principais contribuições do estudo é a proposta de utilizar indicadores acessíveis na prática clínica para identificar o risco de obesidade sarcopênica. Tradicionalmente, o diagnóstico depende de exames caros e pouco disponíveis na rede pública, como ressonância magnética, tomografia ou densitometria.

No entanto, os pesquisadores mostraram que é possível fazer uma triagem eficaz por meio de medições simples, como a circunferência abdominal e a estimativa da massa magra corporal com base em dados como idade, sexo, peso, altura e etnia.

“Com essas medidas, conseguimos avaliar de forma prática a presença da obesidade sarcopênica e, assim, indicar intervenções precoces para melhorar a qualidade de vida dos idosos”, afirmou Tiago da Silva Alexandre, professor da UFSCar e um dos coordenadores do estudo.

Para caracterizar a obesidade abdominal, o estudo definiu como referência uma circunferência abdominal superior a 102 centímetros para homens e 88 centímetros para mulheres. Já a baixa massa muscular foi determinada a partir de um índice inferior a 9,36 kg/m² nos homens e 6,73 kg/m² nas mulheres — valores calculados com base em uma equação já validada.

Esses critérios, segundo os autores, tornam o processo de identificação mais simples e permitem a implementação de políticas de cuidado em larga escala, especialmente em contextos de saúde pública.

Consequências no organismo vão além da aparência

Além do risco aumentado de morte, a combinação de gordura e perda muscular afeta diretamente o funcionamento do corpo. De acordo com Guandalini, a gordura em excesso intensifica processos inflamatórios e metabólicos que aceleram a degradação muscular. A inflamação, inclusive, pode infiltrar o tecido adiposo dentro da musculatura, comprometendo funções essenciais, como a regulação hormonal e a resposta imunológica.

“Trata-se de um processo inflamatório crônico que enfraquece o organismo e contribui para uma série de doenças”, afirmou a pesquisadora.

Intervenções possíveis e prevenção

A boa notícia é que a obesidade sarcopênica pode ser prevenida ou atenuada com mudanças de hábitos e acompanhamento especializado. O estudo reforça a importância de intervenções antecipadas que envolvam orientação nutricional e a prática de exercícios físicos, especialmente os voltados para o fortalecimento muscular.

Com medidas preventivas simples, é possível promover um envelhecimento mais saudável e com menos limitações. Os autores destacam que o envolvimento de profissionais de diferentes áreas — como fisioterapia, nutrição e educação física — pode fazer a diferença nos cuidados com a população idosa.

Os resultados do estudo, publicados na revista científica Aging Clinical and Experimental Research, reforçam a importância de estratégias acessíveis para diagnosticar e tratar a obesidade sarcopênica. Ao propor métodos que podem ser aplicados na atenção básica à saúde, os pesquisadores contribuem para tornar o cuidado com o envelhecimento mais eficaz e democrático.

Além de gerar conhecimento científico, o estudo abre caminho para que gestores e profissionais da saúde adotem medidas práticas e imediatas na prevenção de uma condição que, muitas vezes, passa despercebida — mas tem impacto direto na longevidade e na autonomia das pessoas idosas.