21 de julho de 2025 - 15h10

Mais de 400 grupos festejam Bumba-meu-boi no Maranhão

Programa 'Caminhos da Reportagem' mostra como a manifestação, reconhecida como patrimônio imaterial da humanidade, mantém viva a herança afro-indígena

CULTURA
O Bumba-meu-boi é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade desde 2019, - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O tradicional Bumba-meu-boi, manifestação popular com raízes afro-indígenas e católicas, será o destaque do episódio inédito do programa Caminhos da Reportagem, que vai ao ar nesta segunda-feira (21), às 23h (horário de Brasília), na TV Brasil. A produção mergulha nas origens e transformações dessa celebração centenária, considerada desde 2019 Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.

Com registros datados do século XIX, o Bumba-meu-boi segue pulsando com força no Maranhão, onde mais de 450 grupos realizam festejos entre maio e julho — alguns estendendo a temporada até dezembro. A reportagem explora as diferentes expressões da festa, chamadas de “sotaques”, como zabumba, matraca, baixada, orquestra e costa de mão, que revelam a diversidade de estilos e regiões envolvidas.

O programa destaca que a origem do Bumba-meu-boi está ligada ao período da escravidão, como explica Carlos Benedito, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFMA:

“O escravizado não podia trazer objetos, mas carregava sua memória. Por isso, os rituais e linguagens foram reinventados aqui”, explica.

Além da herança africana, há forte presença indígena, especialmente nos ritmos, danças e instrumentos. O sincretismo religioso também marca a celebração, que ocorre paralelamente às festas de São João, São Pedro e São Marçal. A cientista social Izaurina Nunes, do Iphan, destaca: “São Pedro, por exemplo, é sincretizado com Xangô nas religiões de matriz africana. Há muitas promessas e obrigações religiosas ligadas à festa”.

Sonhos, promessas e empreendedorismo
Muitos grupos surgem a partir de promessas religiosas ou sonhos, como o Boi Anjo do Meu Sonho. O presidente do grupo, Arcangelo Reis, conta:

“Sonhei com alguém pedindo que eu criasse o boi. Mesmo sem recursos, aceitei o desafio. Hoje, só largo essa brincadeira quando Deus me levar”.

Mais do que manter tradições, o Bumba-meu-boi também movimenta a economia local. A artesã e empreendedora social Géssica Tavares começou pintando camisetas e hoje vende matracas personalizadas: “Vendo para turistas e moradores. É um orgulho ver nossa cultura valorizada”, afirma.

Já a ceramista Dilma Terena, do Mato Grosso do Sul, levou pela primeira vez suas peças em argila à feira do boi. Ela esgotou todo o seu estoque de 50 peças: “Foi minha primeira viagem de avião, minha primeira grande feira. Vendi tudo. Estou muito feliz e quero voltar”, contou.

Sobre o programa 
No ar há mais de uma década, o Caminhos da Reportagem é uma das produções mais premiadas do jornalismo brasileiro. O programa leva ao público reportagens aprofundadas sobre temas como saúde, cultura, educação, meio ambiente e comportamento, sempre com olhar humanizado e sensível às realidades brasileiras.

O episódio sobre o Bumba-meu-boi será reprisado na madrugada de terça-feira (22), às 4h30. Também estará disponível no aplicativo TV Brasil Play, além do site e do canal da emissora no YouTube.