17 de julho de 2025 - 15h10

'Não é um gringo que vai dar ordem para este presidente', diz Lula em reação a Trump

Declaração foi dada durante o 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE); presidente cobrou atitude dos estudantes para o debate da esquerda sair da universidade e ir para as ruas

POLÍTICA
O presidente Lula discursa no Congresso da União Nacional dos Estudantes, em Goiânia (GO) - Foto: Wilton Junior/Estadão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, 17, que “não é um gringo que vai dar ordem para este presidente da República”. A declaração foi dada durante o 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Lula foi ovacionado no evento em diversos momentos, principalmente quando se referia ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
 
O presidente fez uma metáfora usando o jogo truco. Disse que “quando o cara truca, a gente tem que escolher: eu corro ou grito ‘seis’ na orelha dele. Eu estou jogando. O Brasil gosta de negociação”. No discurso, Lula afirmou também que o Brasil não cederá à pressão da Casa Branca para aliviar a regulação e a tributação das plataformas de redes sociais no País. “Vamos cobrar imposto das empresas americanas digitais”, afirmou.
 
A declaração ocorreu diante das críticas do petista ao ambiente digital e à tarifa de 50% anunciada pelo presidente por Trump sobre produtos brasileiros.
 
O presidente também voltou a culpar o ex-presidente e seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), pela taxação. “Eles não tiveram preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao Brasil, à indústria, ao agronegócio”, declarou.
 
Ainda no discurso, Lula cobrou os estudantes uma mudança de atitude, transpondo o debate da universidade para a rua.

 

“É importante que vocês, ao saírem daqui, comecem a pensar que Brasil querem a partir de 2026. Temos que conversar muito com juventude, porque ela é muito vulnerável às redes digitais. Precisa distinguir a mentira da verdade. Chamar a atenção da forma mais carinhosa possível: se quisermos mudar o Brasil, vamos ter que mudar de atitude. É preciso trabalhar um pouco mais, se dedicar e saber o que vamos querer. O debate não pode ser só dentro da universidade. Tem que sair e ir para a rua”, afirmou.

Apesar do puxão de orelha, feito em tom amistoso, Lula fez elogios à UNE e aos estudantes presentes na Universidade Federal de Goiás (UFG), onde o evento foi realizado. Disse que a organização “é responsável por termos conquistado tantas coisas no ensino neste País”.

“Muitas vezes não foi fácil a UNE estar do nosso lado. Tinha oposição no movimento estudantil e muita gente achava que as coisas que a gente queria fazer, que aumentar de 12 para 18 alunos na classe ia piorar a qualidade de ensino. Quando criamos o Prouni, diziam que a gente ia ajudar as faculdades particulares, a burguesia da educação. A UNE enfrentou esse debate e fez com que as pessoas entendessem que estávamos dando, enquanto não podíamos fazer as universidades, garantindo as bolsas de estudo. Tenho muito orgulho de que cada lugar que eu vou, as coisas que as pessoas mais me agradecem é pai e mãe agradecendo pelo filho ter feito faculdade”, disse o presidente, citando também o Fies.

‘Será que o povo está nos entendendo?’, questiona Lula
Apesar disso, Lula disse ser preciso pensar “estrategicamente”. Citou o baixo número de deputados e senadores de esquerda no Congresso, indicando que precisa negociar com os parlamentares para aprovar projetos de seu interesse no Legislativo e que isso tem consequências. “Vocês têm que lembrar que a esquerda toda que está aqui não tem mais de 140 deputados no Congresso de 513 deputados. Nós temos 12 senadores em 81. Para a gente aprovar alguma coisa, tem que ter pelo menos metade. Por que estou dizendo isso? Porque precisamos transformar nossos sonhos e desejos em ação. O PT precisa se perguntar porque é capaz de eleger um presidente cinco vezes e só fez 70 deputados federais? Por que o PCdoB fez tão pouco? O PSB fez tão pouco?”, questionou.

“Nós achamos que nosso discurso é verdadeiro, mas será que o povo está nos entendendo?“, questionou o presidente. “Enquanto não tivermos maioria (no Congresso), vamos continuar reivindicando e continuaremos tendo dificuldades.”

Durante o Congresso da UNE, apesar do tom de apoio ao presidente Lula, os estudantes fizeram críticas ao arcabouço fiscal e cobraram que os gastos em Educação fiquem de fora do limite de gastos.

Em carta lida pelos estudantes ao presidente, eles também cobraram mais gastos para enfrentar o bolsonarismo nas eleições de 2026. A carta da UNE afirma que não é possível “conceber um projeto de país que coloque regras tão rígidas como as do arcabouço fiscal, no orçamento da educação. Pelo contrário, é necessário avançar na autonomia universitária, garantindo um orçamento fixo para as universidades federais, para que essas instituições não fiquem na instabilidade e com o pires na mão diante das crises”.