Pix, novo alvo de Trump, atrasou o serviço de pagamento do WhatsApp
WhatsApp Pay ficou suspenso durante meses e, ao ser liberado, já havia perdido espaço para o serviço de transações diretas do Banco Central
ECONOMIAO sistema de pagamentos Pix foi citado de forma indireta, mas significativa, na nova rodada de ataques do Estados Unidos contra os Brasil. Em documento que embasa a investigação comercial aberta pela gestão de Donald Trump, o Escritório da Representação Comercial dos EUA (USTR) afirma que o Brasil "parece se engajar em uma série de práticas desleais com relação aos serviços de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo". A frase aponta diretamente para o Pix, criado pelo Banco Central e hoje dominante no mercado nacional.
Ao incluir o Pix no pacote de reclamações, o governo Trump se apoia em um incômodo antigo da Meta, atualmente aliada do presidente americano: a decisão do Banco Central, em 2020, de barrar o lançamento do WhatsApp Pay no Brasil.
À época, o serviço da empresa de Mark Zuckerberg, seria o primeiro meio de pagamentos embarcado diretamente em um aplicativo de mensagens, mas foi interrompido dias depois do anúncio oficial, sob alegações de risco à concorrência e à estabilidade do sistema financeiro.
A suspensão do WhatsApp Pay foi vista como um gesto de precaução pela autarquia, mas, nos bastidores, gerou desconforto na Meta e em outras empresas americanas. O argumento era que, ao impedir o serviço de avançar, o governo estaria protegendo o desenvolvimento do Pix, que ainda dava seus primeiros passos. O bloqueio durou meses. Quando o WhatsApp Pay foi finalmente liberado, em 2021, já era tarde: o Pix havia se tornado um sucesso de adoção nacional, deixando pouco espaço para concorrência.
Agora, o descontamento antigo da Meta volta à medida que as gigantes da tecnologia se aliaram a Trump. Zuckerberg, que não tinha a simpatia do republicano, renovou a aliança pouco antes da posse do republicano. No evento, além de fundador da Meta, Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google), Elon Musk (X e Tesla) e Tim Cook (Apple) foram destaque no palco de cerimônia.
Agora, o episódio retorna em novo contexto: desta vez como munição em uma ofensiva mais ampla contra decisões soberanas do Brasil na área digital.
A ofensiva contra o Pix se soma às recentes tensões entre o governo brasileiro e o setor de tecnologia dos EUA. Entre elas, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que alterou a interpretação do Marco Civil da Internet, ampliando a responsabilidade das plataformas sobre conteúdos ilegais, mesmo sem ordem judicial. Também estão no radar as proposta de regulação da inteligência artificial e as novas diretrizes do Brics sobre soberania digital.
Autoridades do governo brasileiro também avaliam que a inclusão do Pix no rol das investigações do governo dos Estados Unidos sobre práticas comerciais do Brasil foi motivada por lobby das grandes bandeiras de cartão de crédito, Mastercard e Visa, e não deve avançar.