Giovanna Castro | 03 de julho de 2025 - 10h35

Imagem inédita mostra estrela anã branca explodindo duas vezes no espaço profundo

Descoberta feita com telescópio europeu reforça teoria sobre duplas explosões em estrelas pequenas e ajuda a explicar origem do ferro na Terra

EVIDÊNCIAS VISUAIS
Após "morrerem", as estrelas se tornam núcleos inativos. Isso porque, durante as explosões supernova, todo o combustível nuclear da estrela é queimado. - (Foto: Observatório Europeu do Sul)

Imagem registrada por astrônomos do Observatório Europeu do Sul (ESO) revelou, pela primeira vez, evidências visuais de que uma estrela de pequeno porte pode sofrer duas explosões antes de se extinguir. O fenômeno, captado com o auxílio do telescópio Very Large Telescope (VLT), foi detalhado em artigo publicado nesta quarta-feira (2) na revista científica Nature Astronomy.

A observação foi feita a partir dos restos da supernova SNR 0509-67.5, localizados há centenas de anos-luz da Terra. Segundo os cientistas, a imagem confirma a teoria da “dupla detonação”, em que uma estrela chamada de anã branca — núcleo inativo de uma estrela comum — explode duas vezes até ser completamente destruída.

Explosão dupla reforça nova teoria - Segundo os pesquisadores, a maioria das supernovas se forma a partir da explosão de estrelas muito grandes. No entanto, o tipo Ia de supernova, do qual a SNR 0509-67.5 é um exemplo, pode ter origem em estrelas menores. O estudo mostra que, ao invés de uma única explosão, como se pensava até então, algumas dessas anãs brancas podem sofrer uma detonação inicial provocada pelo acúmulo de hélio, seguida de uma segunda explosão mais intensa.

“Esta prova tangível de uma dupla detonação não só contribui para a resolução de um mistério de longa data, como também nos oferece um magnífico espetáculo visual”, afirmou o pesquisador Priyam Das, da Universidade de New South Wales, na Austrália, responsável pelo estudo. “Apesar da importância dessa descoberta, o grande mistério sobre o mecanismo exato que desencadeia as explosões ainda não foi resolvido.”

Matéria roubada da estrela vizinha - Para explicar o fenômeno, os astrônomos apontam que a anã branca, por ser parte de um sistema binário (com duas estrelas próximas), pode roubar material da sua estrela companheira. Esse material, composto principalmente por hélio, se acumula em torno da anã branca até se tornar instável e inflamar, gerando a primeira explosão. A energia liberada é tão intensa que desencadeia uma segunda detonação, destruindo completamente o núcleo da estrela.

Até hoje, essa teoria era baseada apenas em simulações e modelos matemáticos. As imagens recentes fornecem a primeira evidência concreta do processo, o que pode transformar a forma como se compreende a evolução estelar em escalas cósmicas.