MS recebe R$ 40 milhões para três novos institutos de ciência focados em agro e sustentabilidade
Projetos da UCDB, Embrapa e UEMS receberão R$ 40 milhões para pesquisas voltadas ao agro, à pecuária e à preservação do Pantanal
PESQUISAMato Grosso do Sul foi contemplado com três novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) aprovados em chamada pública do CNPq, posicionando o estado como um dos principais polos de inovação científica e tecnológica do país. Os projetos, coordenados pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Embrapa Gado de Corte e Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), receberão investimentos totais de R$ 40 milhões para o desenvolvimento de pesquisas com foco em biotecnologia, agropecuária e sustentabilidade ambiental.
O anúncio, feito nesta semana, marca um avanço importante na consolidação do estado como centro de excelência em áreas estratégicas como o agronegócio e a conservação do Pantanal. Segundo o CNPq, os três INCTs sul-mato-grossenses fazem parte do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, que busca fomentar redes colaborativas de pesquisa de alto impacto científico, tecnológico e social.
Os recursos destinados aos projetos são provenientes de uma combinação de fontes: R$ 27,5 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), R$ 11,4 milhões da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) e R$ 685,9 mil da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“O apoio da Fundect aos novos INCTs fortalece a base científica do estado e estimula a geração de soluções inovadoras com alto potencial de transferência tecnológica, sobretudo em setores estratégicos como o agronegócio e a cadeia da proteína animal”, destaca Nalvo Franco, diretor-científico da Fundect.
Bioinspir: biotecnologia com foco no agro - O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Bioinspir, coordenado pelo professor Octávio Luiz Franco, da UCDB, amplia sua área de atuação com foco em soluções biotecnológicas para o agronegócio. Anteriormente voltado à saúde, o projeto agora busca desenvolver moléculas bioativas com aplicação no controle biológico de pragas e doenças em lavouras, alinhando ciência de ponta às demandas do campo.
“Expandimos nossa atuação para o setor agrícola, após amplo diálogo com o setor produtivo e o governo estadual, que enxergam no agro uma das principais vocações econômicas de Mato Grosso do Sul”, explica o pesquisador.
Com uma rede que conecta mais de 15 instituições nacionais e 24 internacionais, o Bioinspir se estrutura como um laboratório descentralizado, com circulação de amostras e pesquisadores entre universidades e empresas tecnológicas do Brasil e do exterior. A nova fase contará com o apoio de ferramentas de inteligência artificial para acelerar o desenvolvimento de peptídeos e compostos com potencial de mercado, integrando biotecnologia e inovação inspirada na natureza.
Gado de Corte: eficiência e sustentabilidade para a pecuária brasileira - O segundo projeto aprovado, o INCT Gado de Corte, será liderado pelo pesquisador Rodrigo Gomes, da Embrapa Gado de Corte, e terá um orçamento de R$ 13,5 milhões. A iniciativa propõe a criação de uma ampla rede de colaboração nacional e internacional voltada à modernização da pecuária bovina, com foco na sustentabilidade, genética, segurança sanitária e redução da emissão de gases de efeito estufa.
Com 30 instituições envolvidas, entre elas 11 unidades da Embrapa, 15 universidades brasileiras e centros de excelência como a Universidade de Edimburgo (Escócia) e a Kansas State University (EUA), o projeto atuará em seis frentes temáticas: melhoramento genético, reprodução, recuperação de pastagens, descarbonização, segurança sanitária e desenvolvimento de bioinsumos.
“Esperamos evoluir o processo de melhoramento genético e as práticas de reprodução, promovendo eficiência e resiliência dos rebanhos frente aos desafios climáticos. Além disso, vamos desenvolver uma plataforma baseada em ciência de dados e inteligência artificial para apoiar toda a cadeia da carne bovina”, afirma Rodrigo Gomes.
Entre as metas do projeto estão a criação de novas cultivares forrageiras, desenvolvimento de softwares para rastreamento sanitário e soluções inovadoras para inspeção de carnes, fortalecendo a posição do Brasil como fornecedor de carne de qualidade nos mercados internacionais.
PantaClima: ciência para proteger o Pantanal das mudanças climáticas - O terceiro projeto selecionado é o INCT PantaClima, que terá como sede a UEMS de Aquidauana. Coordenado pelo professor Jolimar Antonio Schiavo e com vice-coordenação da professora Patricia Vieira Pompeu, o instituto será um centro multidisciplinar voltado ao enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas sobre o Pantanal.
Com a participação de pesquisadores da Embrapa Pantanal, Universidade de Zurique (Suíça), Universidade do Norte do Texas (EUA) e outras instituições nacionais, o PantaClima pretende gerar conhecimento científico para embasar políticas públicas, práticas sustentáveis e estratégias de conservação do bioma.
“O instituto será fundamental para monitorar os efeitos das mudanças climáticas no Pantanal e propor soluções baseadas em ciência para garantir a resiliência ecológica e social da região”, afirma Schiavo.
Entre os principais focos do projeto estão o monitoramento das emissões de gases de efeito estufa, avaliação da biodiversidade, análise do regime de queimadas, impacto sobre recursos hídricos e solo, além da promoção de práticas sustentáveis como sistemas silvipastoris com espécies nativas e uso de microrganismos benéficos.
A ciência como eixo do desenvolvimento sustentável - A conquista dos três INCTs evidencia a força da produção científica sul-mato-grossense e sua capacidade de articular soluções inovadoras alinhadas às demandas ambientais, sociais e econômicas contemporâneas. Segundo Márcio de Araújo Pereira, diretor-presidente da Fundect, os projetos representam um passo estratégico para consolidar Mato Grosso do Sul como referência em ciência aplicada ao desenvolvimento sustentável.
“A ampliação da proposta do INCT Bioinspir/UCDB e a aprovação inédita dos INCTs da Embrapa Gado de Corte e da UEMS no programa refletem a excelência científica local e alinham-se às estratégias de desenvolvimento sustentável e tecnológico do Estado”, avalia Pereira.
Com o apoio de instituições nacionais e internacionais, a expectativa é que os institutos tragam não apenas avanços tecnológicos, mas também impactos positivos diretos para a economia regional, a segurança alimentar, a preservação ambiental e a formação de novos talentos em ciência e tecnologia.