Luiz Inácio Lula da Silva foi autorizado pela Justiça da Argentina a visitar a ex-presidente Cristina Kirchner, que cumpre pena em regime de prisão domiciliar em Buenos Aires. A visita está prevista para esta quinta-feira (3), durante a passagem do presidente brasileiro pela capital argentina, onde participa da cúpula do Mercosul.

A autorização foi emitida por um tribunal federal responsável pela execução penal do caso de Kirchner, condenada a seis anos de prisão por administração fraudulenta. Por determinação judicial, visitas à ex-mandatária precisam ser aprovadas previamente, com exceção de familiares e pessoas do convívio imediato.

O advogado de Cristina, Carlos Beraldi, confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que fez o pedido formal na terça-feira (1º) e recebeu a autorização no dia seguinte.

Lula viajou à Argentina nesta quarta-feira (2) e participa da agenda oficial da cúpula do Mercosul na manhã de quinta. Depois do compromisso, ele seguirá para o apartamento onde Cristina cumpre a pena, localizado na rua San José, nº 1.111, no bairro Constitución.

Ato de solidariedade, não de julgamento - Segundo o Palácio do Planalto, a visita será de cunho pessoal, como forma de retribuir o apoio que Cristina ofereceu a Lula em períodos de enfrentamento político e judicial no Brasil. O governo brasileiro evita qualquer associação entre a visita e um posicionamento sobre a condenação da ex-presidente argentina.

Interlocutores do Planalto afirmam que o objetivo de Lula é prestar solidariedade e não discutir o mérito jurídico do processo que levou Cristina à condenação. A equipe presidencial trabalha para evitar que o gesto seja interpretado como interferência externa no Judiciário argentino, uma postura que o próprio governo brasileiro critica quando praticada por outros países.

Um exemplo recente citado por aliados de Lula é o posicionamento da gestão do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que tentou pressionar o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes em meio a investigações contra Jair Bolsonaro. Para o governo brasileiro, iniciativas desse tipo cruzam uma “linha vermelha” e ameaçam a independência dos poderes.

Cristina Kirchner cumpre pena em casa desde a condenação em dezembro de 2022, após ser considerada culpada de desviar recursos públicos por meio de contratos fraudulentos durante seu governo. O processo ainda está em fase de recursos, mas a ex-presidente já segue medidas restritivas impostas pela Justiça argentina, entre elas limitações de movimentação e visitas.

Desde o início do cumprimento da pena, Cristina tem evitado aparições públicas e se mantém discreta na rotina política do país. A eventual visita de Lula, apesar de autorizada e descrita como pessoal, deve atrair atenção dentro e fora da Argentina.