Iury de Oliveira | 02 de julho de 2025 - 08h35

'PackSeed' nasce no Pantanal e transforma ciência em ferramenta para recuperar áreas degradadas

Criada por professores e estudantes da UEMS, startup EcoSeed une inovação tecnológica e saber tradicional para restaurar paisagens pantaneiras

MEIO AMBIENTE
Professora e pesquisador da UEMS, Adriana Luzardo mostra a essência da EcoSeed para o secretário de Ciência e Tecnologia, Ricardo Senna - (Foto: Mairinco de Pauda)

Fruto de uma iniciativa que alia pesquisa científica, tradição local e inovação tecnológica, a startup EcoSeed começa a colher os primeiros resultados de um projeto nascido há exatamente um ano, às margens do Morro do Paxixi, em Aquidauana, no Pantanal sul-mato-grossense. Durante as Vitrines Tecnológicas do Pantanal Tech, evento realizado no campus da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), a EcoSeed apresentou sua principal inovação: o PackSeed, um pacote tecnológico que facilita a germinação de sementes nativas e acelera o processo de recuperação de áreas degradadas.

A apresentação fez parte de uma estação que simulava o sistema de Integração Pecuária-Floresta (IPF), com destaque para o louro-preto (Cordia glabrata), árvore nativa de madeira valorizada. Estiveram presentes os secretários Jaime Verruck, da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), e Ricardo Senna, secretário-executivo de Ciência e Tecnologia do Estado, que puderam conferir de perto os avanços do projeto que une ensino, pesquisa e empreendedorismo jovem.

A EcoSeed foi fundada durante o Pantanal Tech de 2023, no âmbito do Desafio de Inovação promovido pela Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS). A ideia partiu da professora e pesquisadora Adriana Soares Luzardo Couto, da UEMS, que também é sócia da startup. “Criamos o PackSeed pensando em soluções simples, mas eficazes, para restaurar áreas degradadas do Pantanal. O diferencial foi envolver os estudantes desde o início”, explicou Adriana.

Os alunos são do curso técnico agropecuário do CEPA (Centro Educacional Profissionalizante de Aquidauana), vinculado à UEMS, e participam ativamente do projeto por meio do PICTEC (Programa de Iniciação Científica e Tecnológica no Ensino Médio), mantido pela Fundect. A iniciativa fornece bolsas para que estudantes desenvolvam pesquisas aplicadas nas escolas, com foco em ciência e inovação.

Secretário Jaime conheceu o projeto durante o Pantanal Tech

“A pesquisa ganhou um novo sentido, porque mostramos aos alunos que a ciência pode gerar inovação e empreendedorismo; que eles podem transformar conhecimento em um produto real, algo que pertence a eles mesmos”, afirmou Adriana.

Hoje, os alunos do projeto atuam em todas as etapas do desenvolvimento do PackSeed: desde os testes de germinação com sementes de caroba, angico e ipê, até os experimentos em campo experimental. “Temos conseguido bons índices de desenvolvimento das espécies com o uso do pacote. E isso só é possível porque temos o apoio da Semadesc, da Fundect e da própria UEMS, que integram ensino, pesquisa, extensão e inovação”, acrescentou a professora.

O secretário Jaime Verruck elogiou o projeto e destacou seu potencial transformador. “Esse é um exemplo concreto de como a política estadual de ciência e tecnologia pode gerar inovação com impacto direto na sustentabilidade. São jovens que criaram um produto a partir do conhecimento gerado na universidade e agora contribuem com a recuperação ambiental do Pantanal”, disse Verruck.

Para Ricardo Senna, o projeto avançou de forma surpreendente em pouco tempo. “Em um ano, eles criaram um protótipo, validaram em laboratório e agora testam em campo. A próxima fase será escalar a produção e inserir o produto no mercado com maior volume. O futuro desse projeto é promissor”, afirmou.

O PackSeed é inspirado em uma técnica tradicional dos pantaneiros: a muvuca de sementes com argila usada para restaurar áreas degradadas. “Pegamos essa ideia ancestral e agregamos tecnologia: colocamos hidrogel, substrato, adubo e usamos um saquinho hidrossolúvel, que se dissolve com água e mantém a umidade necessária para a germinação”, explicou o professor Allan Motta Couto, cofundador da EcoSeed.

Packseed é formado de semente, substrato, adubo e hidrogel

A startup está nos primeiros seis meses de operação e planeja agora automatizar o processo com a aquisição de uma empacotadora. A ideia é, no futuro, distribuir os PackSeeds por drones, alcançando áreas de difícil acesso e ampliando a escala de atuação do projeto.

Henrique Dias, um dos alunos bolsistas do PICTEC, participou da apresentação no Pantanal Tech e descreveu a experiência como transformadora. “Foi um grande aprendizado ver que o que estudamos pode virar negócio, que podemos ser donos de nossas ideias”, disse.

Além da participação no evento, os alunos também tiveram contato com empreendedores, investidores e outros estudantes durante o Startup Day, ampliando ainda mais a visão sobre o potencial de transformar ciência em negócio.

Para a professora Adriana, a EcoSeed é uma semente que germina não apenas na terra, mas na mentalidade dos jovens. “Queremos mostrar que o conhecimento pode ser ferramenta de mudança, que inovação e meio ambiente podem caminhar juntos, e que os jovens do Pantanal têm capacidade de propor soluções tecnológicas para os desafios da sua própria região”, concluiu.