Milagre no Pantanal: onça resgatada de incêndio reaparece com filhote em área de soltura
Miranda, tratada após queimaduras graves em 2024, foi flagrada com filhote menos de um ano após ser devolvida à natureza
PANTANALMenos de um ano após ser resgatada com graves queimaduras causadas por incêndios florestais no Pantanal, a onça-pintada batizada de Miranda foi flagrada, no último dia 21 de junho, passeando ao lado de um filhote em plena mata. O flagrante, captado por armadilhas fotográficas do projeto Onçafari, marca não apenas a recuperação completa do animal, mas também a eficácia das ações de conservação e reabilitação da fauna silvestre conduzidas no estado de Mato Grosso do Sul.
Miranda foi encontrada em estado crítico em 15 de agosto de 2024, no município de Miranda (MS), que inspirou o nome da onça. Abrigada em uma manilha às margens de uma estrada e com severas queimaduras nas patas, ela foi resgatada após uma operação de 26 horas envolvendo equipes do CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), Gretap, Ibama e Polícia Militar Ambiental (PMA).
Levada ao CRAS em Campo Grande, passou por 43 dias de tratamento intensivo, com curativos diários, sessões de ozonioterapia e dieta especial. Em 27 de setembro, após avaliação veterinária no Hospital Veterinário Ayty, Miranda foi solta em uma área cuidadosamente selecionada do Pantanal, com condições ideais para sua readaptação à vida selvagem.
Monitoramento revela sucesso da reintegração - Desde sua soltura, Miranda foi acompanhada por um colar de rastreamento GPS/VHF, instalado pelo projeto Onçafari em parceria com o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), vinculado à Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).
Os dados obtidos pelo equipamento revelaram que a onça exibia comportamento típico de caça, com deslocamentos alternados por grandes distâncias e paradas estratégicas, o que indicava alimentação autônoma e boa saúde.
O padrão de tocas registrado pelo sistema nos últimos meses já havia levantado a suspeita de uma possível gestação. A confirmação veio com o flagrante fotográfico do dia 21 de junho: Miranda, agora mãe, aparece ao lado de um filhote em plena atividade na mata.
Símbolo de resistência e das políticas públicas ambientais - O caso de Miranda tornou-se símbolo do sucesso de políticas públicas de preservação e também da resiliência da fauna do Pantanal frente aos desastres ambientais.
“O caso de Miranda é a prova concreta de que, com conhecimento técnico e parcerias sólidas, conseguimos transformar situações de vulnerabilidade em histórias de sucesso. Acompanhamos com orgulho sua adaptação e, agora, com o nascimento do filhote, reafirmamos nosso compromisso com a proteção da biodiversidade do Pantanal”, declarou André Borges, diretor-presidente do Imasul.
A gestora do CRAS, Aline Duarte, destacou que a história de Miranda representa um marco não só ambiental, mas também simbólico. “A jornada de Miranda agora inspira ainda mais: não só sobreviveu aos incêndios, como se tornou mãe na natureza. Sua história reforça a importância de políticas públicas e iniciativas que garantam suporte a animais silvestres atingidos por desastres ambientais e ações humanas”, afirmou.
Parcerias e ciência a favor da vida silvestre - O êxito na recuperação e reintegração de Miranda é resultado da articulação entre diversas instituições públicas e privadas, voltadas à preservação da biodiversidade do Pantanal. A operação de resgate envolveu atuação coordenada entre o CRAS, o Ibama, a PMA, o grupo Gretap e o Hospital Veterinário Ayty.
No CRAS, Miranda recebeu atendimento intensivo e acompanhamento diário. A dieta especial incluiu até 5 kg de carne por dia, garantindo aporte nutricional para sua recuperação. As sessões de ozonioterapia ajudaram a acelerar a cicatrização das queimaduras nas patas, que inicialmente impediam a locomoção normal.
O Onçafari, por sua vez, manteve o monitoramento em campo e forneceu as armadilhas fotográficas responsáveis pelo flagrante atual. O projeto é uma das principais iniciativas de conservação da onça-pintada no Brasil, com ações voltadas à proteção do habitat e à educação ambiental.
Esperança para a fauna em meio ao fogo - A sobrevivência e reprodução de Miranda representam uma resposta positiva diante do cenário de destruição causado pelos incêndios no Pantanal em 2024. Entre julho e setembro do ano passado, o bioma enfrentou uma das piores temporadas de fogo da última década, resultando na morte de milhares de animais silvestres.
Miranda, com suas patas queimadas e refúgio improvisado em uma manilha de concreto, tornou-se símbolo da tragédia ambiental. Agora, ela simboliza também a regeneração, a esperança e o impacto direto de políticas bem conduzidas.
O nascimento de seu filhote em ambiente natural reforça a importância dos investimentos em infraestrutura, ciência e parcerias interinstitucionais para enfrentar os desafios ambientais do século XXI.