Da Redação | 25 de junho de 2025 - 18h00

Pousar ou arremeter? O dilema dos últimos segundos na cabine do avião

Com pista molhada e vento de cauda, piloto do jato PR-MCL hesita em arremeter e sai da pista em Ijuí (RS)

AVIAÇÃO EXECUTIVA
Vista dos danos na aeronave após parada total. - (Foto: Divulgação)

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) divulgou nesta quarta-feira (25 de junho), o relatório final sobre o acidente com o jato executivo PR-MCL, que aconteceu no fim de 2023. O avião, um Cessna 510 Citation Mustang, saiu da pista ao pousar no aeroporto de Ijuí, no Rio Grande do Sul, no dia 15 de dezembro. O piloto estava sozinho, e ninguém se machucou, mas o caso chamou atenção por mostrar como decisões feitas em segundos podem mudar tudo.

Pista molhada e tempo ruim - No momento do pouso, chovia em Ijuí. O chão da pista estava molhado, o que dificulta a frenagem. A pista tinha 1.280 metros, mas o manual do avião indica que seriam necessários pelo menos 1.295 metros para pousar com segurança em pista molhada. Ou seja, faltavam 15 metros. Mesmo assim, o piloto decidiu pousar.

Pensou em arremeter, mas não seguiu até o fim - Segundo o relatório do CENIPA, o piloto percebeu que o avião não estava conseguindo frear bem. Ele chegou a pensar em arremeter — que é quando o piloto desiste do pouso e volta a subir. Inclusive, mexeu nos flapes (que ajudam o avião a subir), mas não acelerou nem completou a manobra. Isso deixou a frenagem ainda mais difícil, e o avião acabou saindo da pista e parando num gramado com pedras, com o nariz inclinado para baixo.

Decisão errada no momento crítico - O CENIPA apontou que, mesmo sendo experiente com esse tipo de avião, o piloto não tomou a decisão certa na hora. Ao mudar os flapes sem acelerar, ele atrapalhou ainda mais a frenagem. Se tivesse arremetido de verdade, a situação poderia ter sido evitada.

Avião estava em situação regular, mas com limitações

O PR-MCL estava com a documentação em dia e era usado em voos privados. Mesmo podendo transportar até quatro pessoas, naquele voo só o piloto estava a bordo. A aeronave não estava autorizada para táxi aéreo, o que significa que não podia ser usada como avião comercial.

Previsão de chuva foi ignorada - O piloto sabia que havia previsão de chuva e vento no local, mas mesmo assim seguiu viagem. Como o aeroporto de Ijuí não tem torre de controle nem equipamentos para medir o vento, ele confiou apenas no que viu ao se aproximar da pista. O relatório também destacou que faltou planejamento mais cuidadoso para esse voo.

A importância de arremeter quando necessário - O caso mostra como, às vezes, o mais seguro é desistir do pouso e tentar de novo. Isso não é um erro, mas sim uma decisão responsável. O próprio manual do avião recomenda isso em situações de risco, como pista molhada ou vento forte. Especialistas dizem que, se houver qualquer dúvida, é melhor arremeter.