Guilherme Caetano | 25 de junho de 2025 - 16h35

Críticas à Lava Jato e apelo por reforço ao Coaf marcam evento sobre combate ao crime organizado

Autoridades dos Três Poderes cobram estrutura para inteligência financeira e apontam excessos de ações policiais no passado

NACIONAL
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues - Foto: Fabio Rodrigues-pozzebom

Debate sobre o fortalecimento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e críticas à forma como foram conduzidas operações da Polícia Federal durante a Operação Lava Jato dominaram o seminário “Inteligência financeira contra o crime organizado”, realizado nesta quarta-feira (25) no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), em Brasília.

O encontro reuniu autoridades dos Três Poderes e serviu de lançamento para o estudo “Lavagem de dinheiro e enfrentamento ao crime organizado no Brasil”, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o grupo Esfera Brasil. O levantamento defende o Coaf como peça central no combate às redes de lavagem de dinheiro no país.

Alvo de críticas, Lava Jato é citada por autoridades - Durante o evento, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, destacou a mudança de postura da instituição e fez críticas indiretas à condução da Lava Jato. “Alguém viu alguém algemado, sendo ridicularizado nas nossas operações? Temos compromisso com resultado, não com espetáculo”, afirmou. Ele ainda lembrou que a PF realizou mais de 9 mil prisões em flagrante no último ano e citou a prisão do ex-presidente Fernando Collor, em maio.

As falas de Rodrigues foram reforçadas por outros nomes do Judiciário. O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, afirmou que o enfrentamento ao crime organizado “não se dá com retórica ou espetacularização das ações”. Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e fundador do IDP, acrescentou: “Não se combate crime cometendo crime”, em alusão aos abusos apontados contra a Lava Jato, sendo aplaudido pelos presentes.

O momento político e administrativo do Coaf também ganhou atenção. Com mudança prevista no comando do órgão em 1º de julho, quando o delegado da PF Ricardo Saadi assume o lugar de Ricardo Liáo, o evento serviu de palco para cobrar investimentos e estrutura.

Saadi usou sua apresentação para alertar sobre a defasagem do Coaf: são apenas cerca de 100 servidores, e menos da metade atua diretamente na análise de dados. “Recebemos 7,5 milhões de comunicações no ano passado. Sem tecnologia e pessoal, não há como gerar dados precisos”, afirmou.

Ele defendeu modernização tecnológica, mais autonomia e uma carreira própria para os servidores, o que, segundo ele, permitiria ao Coaf gerar informações mais confiáveis para apoiar investigações da polícia e do Ministério Público.

Estudo propõe mudanças no modelo atual

O estudo apresentado pelo FBSP trouxe seis sugestões para fortalecer o Coaf:

Aumento de recursos e criação de carreira própria;

Modernização tecnológica com uso de inteligência artificial e análise preditiva;

Definição clara para o compartilhamento de dados;

Revisão de regras sobre comunicações obrigatórias;

Regulamentação para empresas de ativos virtuais;

Maior integração entre órgãos como Receita Federal, MP e polícias.

O histórico recente do Coaf também foi lembrado. O órgão passou por diferentes pastas nos últimos anos: saiu do Ministério da Justiça, foi para a Economia, depois para o Banco Central e atualmente está sob responsabilidade do Ministério da Fazenda. Essas trocas ocorreram em meio a disputas políticas envolvendo o governo Bolsonaro, especialmente após desentendimentos com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.

Hoje, mesmo com nova gestão, o Coaf ainda enfrenta resistência no Congresso, que discute sua volta ao Banco Central, numa tentativa de blindar o órgão de interferências políticas.