A passagem da princesa Kako de Akishino por Campo Grande, no último dia 9, marcou as celebrações dos 130 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Japão, realizadas no Clube de Campo da Associação Nipo-Brasileira.

Ainda que breve, a visita permitiu que a Alteza experimentasse um dos pratos mais tradicionais da culinária local. Na ocasião, o sobá, prato símbolo da cidade que reflete a forte presença da cultura japonesa no Mato Grosso do Sul, ganhou destaque ao ser servido para a princesa em um momento intimista, que uniu tradição e hospitalidade.

Kimie Guenka, dona do sobá que já foi reconhecido como o melhor da cidade, foi a responsável pelo preparo do prato servido à Alteza. Com mais de 30 anos dedicados a preservar essa tradição culinária, ela carrega em suas receitas a essência que define o multiculturalismo de Campo Grande.

Kimie relata que a experiência de preparar o sobá para a princesa Kako foi extremamente gratificante e especial, e ressaltou a emoção em poder levar um pouco da cultura local para a mesa da Alteza. “Ela agradeceu a todos pelo sobá e elogiou muito o prato. A minha maior felicidade foi conseguir levar a receita até ela, porque não é algo simples. Até para chegarmos ao Japão é difícil, por mais que seja muito importante”, conta.

As relações entre Brasil e Japão marcam um significativo período da história nacional. Em Campo Grande, no então estado do Mato Grosso, a imigração japonesa teve início em 1914 e, desde então, tornou-se parte fundamental da identidade regional.

Todos os anos, em 18 de junho, é celebrado o Dia Nacional da Imigração Japonesa. Em 2025, a data marca os 117 anos da chegada dos primeiros imigrantes japoneses ao Brasil.

Sabores que atravessam gerações - Nascida em Campo Grande, Kimie é filha de japoneses que chegaram ao Brasil ainda na década de 30 em busca de melhores oportunidades de trabalho. Na família, o hábito de cozinhar em conjunto sempre esteve presente. Entre tantas receitas compartilhadas, ela se apaixonou pelo sobá, que mais tarde se tornaria sua especialidade.

Aos 81 anos, ela conta que a receita continua a mesma desde o início, mas que a criação de maquinários, como o cilindro de massas e as laminadoras, tornaram o preparo do macarrão muito mais ágil. Atualmente, Kimie e sua família conseguem produzir grandes quantidades de massa em apenas uma manhã, o que permite atender a demanda de mais de dez restaurantes espalhados por Campo Grande.

Kimie acredita que não há um segredo específico no preparo do sobá, mas reforça que cada elemento do prato deve ser feito com cuidado, para que nenhum ingrediente roube o sabor principal da receita. “A massa precisa ser leve, e é preciso ter cuidado no uso dos ovos, para que não fiquem ‘fofos’ demais. O caldo também precisa estar com o tempero na medida certa. Uma coisa que ajuda bastante no resultado final é o ponto do macarrão, quanto mais firme ele estiver, melhor vai ficar quando for servido com o caldo quente, que termina de ajustar o cozimento por causa da temperatura", explica.

Ela conta ainda que a receita vem sendo ensinada dentro da família e já alcança até as gerações mais jovens. “Hoje cozinhamos apenas em família, sem funcionários de fora. Todos colaboram e aprendem juntos, até meus netos já estão começando a aprender os preparos.  Eu, desde pequena, era curiosa pela cozinha, minha mãe me ensinou muito das receitas típicas de Okinawa, e com o tempo fui tomando gosto pelas receitas locais também”, comenta.

Além de ser uma das referências na culinária da cidade, Kimie também preside desde 2007 o Fujinkai, grupo de senhoras da Associação Okinawa de Campo Grande.

Nos eventos da Associação, é Kimie quem comanda a cozinha. Além do clássico sobá, ela prepara uma variedade de pratos que fazem sucesso entre os visitantes e mantêm viva a tradição passada de geração em geração.

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