Rayssa Motta | 17 de junho de 2025 - 16h25

Funcionários da Abin exigem demissão de diretor indiciado em investigação sobre espionagem ilegal

Carta pública critica permanência de delegado no comando da agência mesmo após investigação da PF no caso da "Abin paralela"

NACIONAL
Delegado federal de carreira, Luiz Fernando Corrêa é o atual diretor da Abin. - Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Pressão interna aumentou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nesta terça-feira (17), após servidores pedirem publicamente a saída do diretor Luiz Fernando Corrêa. Em carta aberta, os funcionários manifestaram indignação com a permanência do delegado federal no comando do órgão, mesmo após ter sido formalmente indiciado pela Polícia Federal no inquérito que apura espionagem ilegal durante o governo Jair Bolsonaro.

Corrêa foi acusado de obstrução de justiça no caso conhecido como “Abin paralela”. O documento dos servidores sustenta que é “inadmissível” manter na direção da agência alguém que responde por crimes em investigação, especialmente quando outros funcionários, mesmo apenas citados nos autos, foram afastados de suas funções.

Na carta, os servidores da Abin — representados pela Intelis, associação da categoria — afirmam que há uma lógica invertida na gestão atual: “O próprio diretor afastou servidores por muito menos e segue com plenos poderes mesmo após o indiciamento”. Eles criticam também a repetida nomeação de delegados da Polícia Federal para cargos de liderança na inteligência, o que consideram um desrespeito à carreira de inteligência civil.

“Alertamos que impor mais uma gestão de delegados da PF à frente da Abin é repetir erros do passado, que já resultaram em escândalos. Isso ignora completamente a seriedade e especificidade da Inteligência de Estado”, afirma o manifesto.

Diretor mantido no cargo por Lula - Apesar do avanço das investigações e das trocas internas feitas desde janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve Corrêa no comando da agência. Os dois têm uma relação de longa data: Corrêa chefiou a Polícia Federal durante o segundo mandato de Lula, entre 2007 e 2011.

Em contrapartida, outros integrantes da cúpula da Abin foram exonerados, como o ex-diretor-adjunto Alessandro Moretti e outros seis diretores substituídos durante a reestruturação provocada pelas investigações.

A operação da PF aponta que a Abin foi utilizada de forma irregular durante o governo Bolsonaro, com uso de softwares de espionagem e monitoramentos ilegais voltados a opositores. A suspeita é que o aparelho estatal de inteligência foi instrumentalizado para fins políticos e pessoais. Corrêa, que assumiu a agência já sob o governo Lula, foi incluído na investigação por suposto envolvimento em um esquema de acobertamento dos rastreamentos indevidos.

A carta também recorda que o ex-diretor Alexandre Ramagem, um dos alvos centrais da apuração, chegou a ser barrado para assumir o comando da PF, mas retornou à Abin sem impedimentos, fato considerado “mais um descaso” com a principal agência de inteligência do país.

“É absurdo sequer cogitar a permanência da atual direção e a continuidade do processo de definhamento e desmonte da Inteligência de Estado, a mais maltratada e desvalorizada entre os grandes países do mundo”, diz um dos trechos da carta divulgada pela Intelis.