Reação do governo Lula ao ataque de Israel ao Irã provoca críticas e racha no Congresso
Declaração do Itamaraty gerou manifestações contrárias de parlamentares aliados de Israel, que acusam o Planalto de favorecer o Irã
NACIONALCríticas de parlamentares da oposição marcaram o fim de semana após o governo federal, por meio do Itamaraty, emitir nota condenando os ataques aéreos de Israel ao Irã, realizados na madrugada de sexta-feira (13). No comunicado, o Ministério das Relações Exteriores alertou para o risco de “conflito de ampla dimensão” no Oriente Médio, caso as hostilidades avancem.
Entre os principais nomes a se manifestar contra a nota oficial estão integrantes da bancada conservadora, que defendem maior alinhamento do Brasil com Israel. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou nas redes sociais que o Itamaraty ignora a diferença entre alvos militares e civis. “Lula não tem moral para opinar neste conflito”, escreveu.
Parlamentares reagem - O Grupo Parlamentar Brasil-Israel divulgou posicionamento classificado como de “indignação”. O senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente do colegiado, acusou o Palácio do Planalto de se aproximar de regimes autoritários: “Escolhe se alinhar aos que disseminam o terror, em vez de apoiar nações livres e democráticas.”
A deputada Bia Kicis (PL-DF) relacionou a posição do Itamaraty ao fechamento temporário da Embaixada de Israel no Brasil, ocorrido no mesmo dia. Para ela, Lula “mancha a imagem do país” com seus posicionamentos diplomáticos.
Também se pronunciaram contra a nota oficial os deputados Coronel Ulysses (União-AC), Messias Donato (Republicanos-ES) — que protocolou moção de repúdio — e o senador Sérgio Moro (União-PR), que afirmou que “o Brasil está cada vez mais distante das democracias ocidentais”.
Neste domingo (15), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) retomou o tema nas redes sociais ao citar a recepção especial que teve em 2019 no aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, pelo então primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. “Deus abençoe Israel, Deus salve o Brasil”, escreveu.
A nota publicada pelo Itamaraty classifica a ação de Israel como uma “clara violação” da soberania iraniana e do direito internacional. “Os ataques ameaçam mergulhar toda a região em conflito de ampla dimensão, com elevado risco para a paz, a segurança e a economia mundial”, afirma o texto. O governo brasileiro também pediu “contenção” das partes envolvidas e o “fim imediato das hostilidades”.
Apesar da pressão crescente, especialmente de setores aliados ao governo israelense, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém relação amistosa com Teerã. Internamente, há movimentos de partidos e lideranças da base pedindo um rompimento diplomático com Tel Aviv, especialmente desde o início da guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza.
Diplomacia sob tensão - O clima entre os dois países já vinha se deteriorando nos últimos meses. Desde as declarações de Lula sobre a ofensiva israelense em Gaza — quando comparou a ação militar à de regimes autoritários históricos —, relações bilaterais têm enfrentado desgaste.
Israel anunciou na sexta-feira (13) o fechamento temporário de embaixadas ao redor do mundo. Em Brasília e São Paulo, a Embaixada e o Consulado-Geral suspenderam atendimentos e estão sem data para reabertura. O Ministério das Relações Exteriores israelense também pediu que cidadãos evitem usar símbolos religiosos e bandeiras em público por questões de segurança.