Leonardo Catto | 10 de junho de 2025 - 09h45

Paraguai se aproxima da Copa de 2026 e técnico minimiza pressão contra o Brasil

Com campanha invicta de Gustavo Alfaro e classificação encaminhada, seleção volta a campo nesta terça-feira em São Paulo, sob clima político conturbado

SERÁ QUE AGORA VAI?
Gustavo Alfaro pode bater recorde de invencibilidade na seleção do Paraguai em partida contra o Brasil. - Foto: @albirroja via X

Paraguai entra em campo nesta terça-feira (11), na Neo Química Arena, em São Paulo, com a chance de consolidar sua volta à Copa do Mundo após mais de uma década fora da competição. Sob o comando do técnico argentino Gustavo Alfaro, a seleção paraguaia vive um dos momentos mais sólidos dos últimos anos, com nove jogos de invencibilidade desde a chegada do treinador em 2023.

A última participação paraguaia em um Mundial foi em 2010, na África do Sul, quando caiu nas quartas de final diante da campeã Espanha. Desde então, a equipe acumulou ausências, trocas de comando e desempenhos irregulares nas Eliminatórias. Agora, com 24 pontos somados, a classificação direta para a Copa de 2026 está bem encaminhada.

Desde que assumiu o cargo após a eliminação na última Copa América — com três derrotas na fase de grupos —, Alfaro reformulou o time e somou cinco vitórias importantes, entre elas sobre Brasil, Argentina e Uruguai. O treinador está próximo de quebrar o recorde de invencibilidade de um técnico à frente da seleção paraguaia, igualando Paulo César Carpegiani, que teve sete vitórias e dois empates nas Eliminatórias de 1998.

Mesmo diante de um adversário tradicional como o Brasil, Alfaro adotou um discurso sereno: “É uma partida em que temos tudo a ganhar e nada a perder. Se perdermos, vamos tentar novamente contra o Equador”, disse o técnico durante entrevista coletiva.

Apesar do bom momento em campo, a Associação Paraguaia de Futebol (APF) convive com denúncias que envolvem o nome de seu presidente, Robert Harrison. De acordo com investigação do site chileno Ciper, áudios e mensagens vazadas indicam possível interferência em convocações da seleção e uso de propostas falsas para valorizar jogadores.

O material publicado envolve conversas entre Harrison, o agente Pedro Aldave e Juan Appleyard, que já atuou como procurador do Nacional de Assunção. Em um dos trechos, Appleyard admite ter forjado uma oferta da Udinese, da Itália, para inflar o preço de um atleta.

Questionado sobre possíveis pressões nos bastidores, Alfaro garantiu autonomia no cargo: “Tenho absoluta liberdade para fazer e desfazer. Meu trabalho flui com total naturalidade”.

As denúncias não são inéditas. Em 2021, Harrison já havia sido acusado de atuar politicamente em decisões do futebol nacional, mas seguiu no cargo. Atual membro do Conselho da Fifa, ele também comanda o Harrison Group, conglomerado que atua em diversas áreas, incluindo apostas esportivas.

Mesmo sem uma história de grandes conquistas em campo, a APF detém forte influência institucional. A sede da Conmebol está localizada no Paraguai, em Luque, em um terreno cedido pelo governo. O país já presidiu a entidade três vezes, sendo a mais longa com Nicolás Leoz, de 1986 a 2013. Desde 2016, Alejandro Domínguez ocupa o cargo.

Harrison, atual presidente da APF, tem presença ativa no cenário internacional e foi uma das figuras envolvidas na candidatura conjunta com Argentina e Uruguai para sediar a Copa de 2030. Apesar da proposta não ter vencido, os três países terão partidas inaugurais em celebração ao centenário do torneio.

Investimentos, finanças e liga nacional - Durante sua gestão, Harrison também criou a Copa Paraguai e a Supercopa do Paraguai, além de discutir a expansão da liga nacional, atualmente com 12 clubes. O balanço financeiro de 2024 foi aprovado por unanimidade, com superávit de 8 bilhões de guaranis — equivalente a US$ 1 bilhão ou cerca de R$ 5,56 bilhões.

Fora do campo, o dirigente recentemente inseriu seu grupo empresarial no mercado de apostas, adquirindo a plataforma Solbet. A operação foi possível após nova legislação sancionada pelo presidente do país, Santiago Peña, que extinguiu o monopólio anterior no setor.

O envolvimento de figuras do futebol com apostas, no entanto, é um ponto de atenção. O Código de Ética da Fifa proíbe que qualquer pessoa com função no futebol tenha ligação direta ou indireta com empresas do setor.

Para garantir a vaga direta na Copa do Mundo, o Paraguai precisa apenas evitar uma combinação improvável: três derrotas consecutivas (contra Brasil, Equador e outro adversário) somadas a três vitórias da Venezuela. Mesmo nesse cenário, ainda teria a chance de ir à repescagem.

Alfaro, no entanto, quer antecipar a classificação: “Se jogarmos com intensidade e soubermos nos adaptar às fases da partida, temos chances. Mas também é preciso reconhecer que o Brasil pode nos pressionar e temos de estar preparados para isso”.

O treinador afirmou que a equipe evoluiu na posse de bola, embora admita que ainda precisa melhorar nesse aspecto. Com um grupo mais confiante e o apoio da torcida paraguaia, a partida contra o Brasil pode marcar o fim de um jejum de quase 16 anos sem presença em Copas.