Layla Shasta | 20 de maio de 2025 - 16h05

Novas regras ampliam acesso à cirurgia bariátrica e incluem adolescentes a partir de 14 anos

Conselho Federal de Medicina reduz exigências e atualiza critérios para indicação do procedimento em pacientes com obesidade e doenças associadas

SAÚDE
Campo Grande apresenta altos índices de obesidade no Brasil, exigindo ações urgentes e políticas públicas para reversão do quadro. - (Foto: Freepik)

Atualização divulgada nesta terça-feira (20) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) amplia o número de pessoas que podem fazer cirurgia bariátrica no país. O novo entendimento permite o procedimento para pacientes com menor índice de massa corporal (IMC), adolescentes a partir de 16 anos e, em situações específicas, até mesmo jovens entre 14 e 15 anos.

Pelas novas diretrizes, o procedimento poderá ser indicado para adultos com IMC entre 30 e 34,9 desde que tenham doenças associadas como diabetes tipo 2, apneia do sono ou esteatose hepática avançada. Antes, só quem tinha IMC igual ou superior a 35, com comorbidades, podia realizar a cirurgia.

Adolescentes podem ser operados com novas regras - Adolescentes com 16 anos ou mais agora seguem os mesmos critérios que os adultos. Já quem tem entre 14 e 15 anos poderá ser operado apenas em casos de obesidade grave com risco clínico significativo. Nessas situações, a decisão deve ser avaliada por uma equipe médica e com o envolvimento da família.

A mudança se baseia em novos estudos que mostram que, quando bem indicada, a cirurgia é segura e eficaz também entre os mais jovens. “Antes não havia pesquisas suficientes. Agora temos evidências claras de que pode ser benéfico em determinados casos”, explicou Sérgio Tamura, relator da nova resolução.

A resolução também atualizou a lista de técnicas recomendadas. Bypass gástrico e gastrectomia vertical (ou “sleeve”) continuam como principais opções. Já procedimentos como banda gástrica ajustável e a cirurgia de Scopinaro passam a ser oficialmente contraindicados.

Outras técnicas que antes eram consideradas experimentais, como o duodenal switch e o bypass com anastomose única, agora são reconhecidas, mas só devem ser usadas em casos especiais, com acompanhamento rigoroso.

As novas exigências também impactam os locais onde os procedimentos são realizados. Cirurgias devem acontecer em hospitais de grande porte, com estrutura para casos de alta complexidade e atendimento 24 horas. Em casos de pacientes com IMC acima de 60, a unidade precisa ter equipamentos adaptados e equipe treinada para lidar com maior risco de complicações.

Obesidade avança no Brasil e preocupa médicos - A mudança nas regras vem em meio a um cenário preocupante. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, três em cada dez brasileiros vivem com obesidade. A projeção é de que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo estejam nessa condição nos próximos anos.

No Brasil, 68% dos adultos já têm sobrepeso ou algum grau de obesidade. A doença, considerada multifatorial, está relacionada a fatores genéticos, hormonais, comportamentais e ambientais. Além de afetar a qualidade de vida, aumenta o risco de doenças como diabetes, infarto, AVC e alguns tipos de câncer.

Para especialistas, a nova resolução reflete o avanço das evidências científicas e ajuda a tornar o acesso ao tratamento mais ágil e adequado. Ao ampliar o perfil de pacientes que podem passar pela cirurgia, o objetivo é oferecer alternativas eficazes diante de uma condição que não tem solução única e continua crescendo no Brasil.