A presença da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, na viagem oficial à China ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reacendeu a polarização política nesta quarta-feira (15). Durante um jantar com o presidente chinês Xi Jinping, Janja fez uma intervenção considerada inadequada por membros da comitiva brasileira e virou alvo de críticas da oposição.

Segundo relatos publicados pelo portal G1, a primeira-dama mencionou o aplicativo TikTok – controlado por uma empresa chinesa – ao comentar a preocupação com abusos sofridos por mulheres e crianças na plataforma. O gesto teria causado mal-estar diplomático.

Bolsonaro diz que Lula passa “vergonha internacional” - Ao comentar o episódio, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizou a atuação da esposa de Lula e classificou a viagem como um “constrangimento”. “A Janja dá declarações que sugerem censura. É só vexame atrás de vexame”, disse em entrevista ao portal UOL.

Para Bolsonaro, o Brasil deveria manter alinhamento com os Estados Unidos, e não estreitar relações com a China. “Hoje até ele (Lula) se preocupa com o crescimento da China. A postura do Lula lá fora é constrangedora”, afirmou.

Lula minimiza e diz que debate foi conduzido por ele - O presidente reagiu às críticas e afirmou que ele próprio iniciou a conversa com Xi Jinping sobre segurança digital. Segundo Lula, Janja apenas pediu a palavra para complementar a fala. “Perguntei ao companheiro Xi Jinping se seria possível enviar ao Brasil uma pessoa de confiança para dialogar sobre a questão digital. A Janja, então, comentou sobre o que está ocorrendo no Brasil com o TikTok, especialmente em relação a mulheres e crianças.”

O TikTok se tornou ponto sensível nas relações entre China e Estados Unidos, que já pediram que a empresa-mãe, a ByteDance, se desfaça do controle do app no território americano.

O episódio repercutiu também entre parlamentares. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou nas redes sociais: “Nem o Xi Jinping quis render a narrativa de algoritmo da Janja”. Já o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que Janja "tentou lacrar e passou vergonha internacional”.

Em defesa da primeira-dama, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, acusou Bolsonaro de hipocrisia. “Quem envergonhou o Brasil diante do mundo foi ele. Foi Bolsonaro quem criou crises com a China”, escreveu no X (antigo Twitter).

A ministra também destacou que, durante o governo anterior, o ex-presidente demonstrou “subserviência a interesses estrangeiros”, referindo-se ao apoio explícito de Bolsonaro a lideranças conservadoras dos EUA.